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AO CHAMADO DO CRISTO
Ao observarmos as condições de convivência e relacionamento do homem com a Terra, temos a impressão que ela está se deslocando no espaço obedecendo a mecânica dos corpos celestes, de forma desorganizada, sem consciência do seu rumo, onde irá chegar, sem ter algum determinismo, sem um timoneiro eficaz.
Verificamos a miséria estampada por toda a parte, como uma máscara horrível de ironia e perversidade a cobrir todos os rincões do planeta, como se estivesse triunfante, soberana, invencível. O galope desenfreado do sofrimento lembra fantasmas horripilantes criados por mentes sensibilizadas, exacerbadas. A calamidade, a injustiça, sensualidade são lugares comuns na Terra, onde quer que estejamos.
Diante de tanto desequilíbrio, personagens que davam expressões tão convincentes de honradez, se desmancham ao impacto das investigações policiais. Pessoas que davam tão eloquentes atestados de fé, do alto dos púlpitos, se esfacelam no confronto das delações. Incontestáveis servidores do bem debandam suas convicções ao verem a avassaladora invasão da corrupção por todos os lados. O campo ético se torna ermo, habitado apenas pelos fantasmas das ideologias do bem que um dia quiseram germinar.
Assim segue o nosso planeta, nosso domicílio neste estágio carnal. Este é o solo pantanoso que devemos drenar, a gleba a cultivar ao chamado do Cristo, cuja voz nas palavras do Evangelho ressoa na acústica da alma.
Quem escuta o chamado do Cristo e procura segui-Lo, não irá desfrutar de paisagens risonhas coroadas de sol, nem de noites formosas vestidas de estrelas. Essa pessoa caminha muitas vezes sozinha, mesmo no meio da multidão, cantando a melodia da tristeza, em contrações de forte agonia. Tem os passos seguidos por interesses mercenários, busca repouso, mas desperta a cada momento chamado pela aflição.
Dessa forma vai, incompreendido, vê os teus sonhos convertidos em pesadelos. Deseja melhorar a paisagem de sombras, mas sofre o conflito decepcionante do que fez ser transformado por línguas maliciosas no que dizem que foi feito. Buscando refúgio na família consanguínea, até aí sente-se como um estranho.
O cristão coerente, abraçando a grande família humana, vê-se renegado. Parece não haver lugar na Terra para quem ouviu o chamado dEle. No entanto, mesmo com todos esses obstáculos, é imperioso que possamos manter, de forma incorruptível, o ideal de amar que o Cristo nos ensinou e nossa consciência pode adaptar às circunstâncias atuais. Sentir que estamos servindo ao Mestre, ouvindo a sua voz no emaranhado de nossas convicções.
Pode ser que ninguém perceba ou considere o nosso esforço de ser um discípulo aplicado do Mestre, mas, da mesma forma, podemos perceber a lição da semente, que mesmo desconsiderada, consola-se no silêncio das profundezas da terra, sabendo que um dia também irá romper a crosta que lhe impede a germinação e brotará para a luz, dando os diversos frutos pertinentes à sua natureza.
Pode ser que ninguém nos entenda nessa caminhada, procurando fazer o bem e sendo ignorado, às vezes distorcendo para ruim o que fazemos de bom, mas vejamos o exemplo do rio que corre ao nosso lado, pois mesmo sendo poluído pelas mentes insanas, não deixa de trazer vitalidade para as terras que permitem a sua passagem.
Pode ser que ninguém nos compreenda ou respeite nossas intenções e ações, mas não esqueçamos da lição do grão de trigo, que sendo moído, assado, maltratado, mesmo assim não deixa de trazer o sabor e sustança para nossos corpos.
No passado, os futuros reis eram ungidos com óleo pelos sacerdotes, em nome do Senhor, para que pudessem reinar sobre o seu povo. Hoje, não é preciso esse óleo para nos ungir e nos capacitar a ser um cidadão do Reino de Deus. Basta nós mesmo nos ungir com o óleo simbólico do Amor Incondicional, criando um halo de luz capaz de deixar voluteando ao nosso redor as almas carentes de ajuda e compaixão. Assim caminharemos, todos juntos, sob o comando divino do Mestre Nazareno, para os rumos superiores da vida. Não desfaleçamos ou desesperemos no fragor da batalha, no ardor das fogueiras das vaidades que tantas pessoas armam no espírito.
Tenhamos a consciência de que um dia reclinaremos a cabeça, na falência dos órgãos e tecidos, e nossa alma procurará o repouso justo. Repassaremos no recôndito da nossa alma as agonias da pelejas e quando as lágrimas brotarem, então planaremos além e acima das vicissitudes, seguindo para Jesus, sempre ouvindo o seu chamado.
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 15/08/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr