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ABRAÇOS
Um abraço aproxima dois corações... relembra duas histórias... renova duas emoções... ninguém sabe o que isso provoca em cada mente, por onde voam os pensamentos. Será que o aconchego de segundos que o abraço provoca, leva a mente à memória de dias de aconchegos contínuos, quando a paixão incendiava as correntes sanguíneas cheias de adrenalina e tudo se sublimava na permuta de fluidos misturado com a lubrificação do suor na fricção dos corpos?
O coração agora bate feliz com a migalha dos sentimentos que recebe hoje, pois não tem mais a esperança de concretizar o que só existe na memória. Tenta lembrar agora o que fez desviar do caminho, porque uma paixão tão forte, que criou tão esplendoroso amor dentro do peito, de alguma forma se esvaiu... sangrou em hemorragia das lágrimas internas, que ninguém via, e que nem ele mesmo sentia...
A mente agora faz acrobacias para deixar registrado no maior tempo possível uma faísca do que um dia foi labareda. O tempo, senhor do destino, carrasco de sonhos, se mostra incorruptível e decreta sem nem mesmo dar a oportunidade de ser pedido: nada será como antes!
Não se pode apagar os erros e reconstruir o passado. O que se pode é pegar o presente e construir um novo futuro, um novo sonho. Pode se pegar cada abraço que se consiga no presente, por mais fugaz e frágil que seja, como tijolos sentimentais. Serão guardados no coração com a argamassa da tolerância e da paciência.
Quando o tempo destruir o corpo, o espirito levará consigo toda a energia sentimental que acumulou, mesmo que não possa dar o abraço material, não possa sentir a excitação dos instintos. Será guiado pela vibração do amor e no momento oportuno a simbiose fluídica será alcançada, agora, sem as exigências da carne. O abraço, dentro deste contexto, será sutil, cada alma se complementa uma na outra e como um par de asas se desloca pelo universo. A curiosidade de um será alimentada pela ousadia do outro. A ignorância de ambos irá em busca dos oceanos de conhecimento. Desde os sóis crepitantes nas galáxias mais distantes, até a fofura das nuvens que cobrem a Terra, de formatos enigmáticos, a força da semente que empurra seu caule em direção da luz, a criança que ri, o velho que chora...
Sentem-se agora mergulhados dentro de Deus, que o brilho de ambos afasta as trevas e constrói novos mundos, e cada fagulha de amor guardadas dentro de si criam novos seres espirituais, que se desenvolverão e um dia estarão como eles um dia foram, apaixonados na roupagem da carne, cometendo erros e procurando abraços.

Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 27/12/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr