TRÓTSKY – UMA EXPLICAÇÃO
Para uma melhor compreensão sobre Trótsky e entendimento das ações que se passam na série da Netflix, irei reproduzir um artigo publicado na revista Superinteressante por Leonardo Pujol em 17-10-2017.
Quem foi Leon Trotsky?
Para uns, ele foi o herói da odisseia Bolchevique. Para outros, um revolucionário violento e cruel.
Nos arredores da cidade do México fica Coyoacán, um lugarejo cheio de casinhas coloridas e praças arborizadas. Um dos 16 distritos da capital mexicana, essa foi a região onde Leon Trotsky viveu até o fim dos seus dias. À época, sua rotina parecia tão entediante quanto a dos coyoaquenses. Bem cedo, levantava para cuidar dos cactos, dos coelhos e das galinhas. Terminadas as tarefas, Trotsky se trancava no escritório para ler, escrever ou receber militantes ávidos por discussões políticas. Sustentava a família – a segunda esposa, Natalia Sedova, e o neto, Esteban Volkov – com os rendimentos dos livros e dos artigos que escrevia para jornais.
Por trás da aparente tranquilidade, porém, Trotsky era um homem receoso. Antes de se mudar para o México, o ex-revolucionário havia sido duramente perseguido por Josef Stalin. Seus parentes também – a maioria foi morta a mando do ex-colega. Desconfiado e, ao mesmo tempo, abalado emocionalmente, Trotsky preferia viver recluso. “O fim evidentemente está próximo”, pressentiu, numa espécie de testamento redigido em fevereiro de 1940. Ele morreria seis meses depois, aos 60 anos.
O camponês rebelde
Leon Trotsky nasceu Lev Davidovich Bronstein, em 7 de outubro de 1879, na cidade de Ianovka, Ucrânia. Seus pais eram agricultores e, embora descendentes de judeus, pouco afeiçoados à religião. Evitavam o iídiche, o idioma das comunidades judaicas da Europa Oriental, preferindo uma mistura de russo com ucraniano. A família criava porcos e galinhas, mas vivia principalmente da produção de trigo – plantio desenvolvido com o auxílio de alguns poucos empregados. Fora isso, a infância de Liova (diminutivo de Lev) foi a de um modesto camponês. Pelo menos até os 9 anos, quando, para estudar, foi viver com os tios em Odessa, região mais povoada que Ianovka.
“Pouco a pouco, ensinaram-me que era preciso dizer bom-dia pela manhã, lavar as mãos, limpar as unhas, não levar a comida à boca com a faca, não se atrasar, agradecer”, Trotsky relembra em Minha Vida, um de seus livros. Aliás, foi justamente em Odessa que ele conheceu a literatura, bem como a música e o teatro – as particularidades da vida urbana.
Aos 17 anos, o rapaz de cabelo desgrenhado, olhos azuis e óculos redondos foi transferido para outra escola, na cidade de Nikolaiev. Lá, interessou-se pelo marxismo – ao frequentar grupos críticos ao czar. Aos 18, tornou-se líder de uma das agremiações – o Sindicato dos Trabalhadores do Sul da Rússia, que reunia serralheiros, marceneiros, eletricistas, costureiras e estudantes. Como era de se esperar, a organização incomodou as autoridades. Em 1898, prestes a fazer 20 anos, Trotsky e outros membros do sindicato foram aprisionados. Nos meses seguintes, ele passou por presídios em Kerson e Odessa até chegar a Moscou, onde se casou com Alexandra Sokolovskaia – uma marxista dos tempos de Nikolaiev. Condenado ao exílio na Sibéria, ele e a mulher viveram em Ust Kut, uma aldeia apinhada de cabanas sujas e infestadas por mosquitos. No exílio, além de se tornar pai de duas meninas, Trotsky aprofundou o conhecimento nas obras de Friedrich Engels e Karl Marx. Em 1902, abandonou Alexandra e as filhas e fugiu com uma identidade falsa. Foi aí que ele adotou o nome pelo qual seria conhecido para sempre e que, segundo ele próprio, pertencia a um carcereiro da prisão de Odessa.
Em 1903, refugiado em Londres (trabalhando para o Iskra, jornal dirigido por Vladimir Lenin e cujo nome significa “fagulha”), casou-se com Natalia Sedova – com quem teve outros dois filhos. Dois anos depois, retornou à Rússia. Popular entre os militantes do Partido Operário Social-Democrata Russo (por ter sido um dos líderes no passado), ele rapidamente assumiu o Soviete de Petrogrado. Seu discurso era de que uma “revolução permanente” estava prestes a acontecer – profecia que viria a se concretizar 12 anos depois.
Em dezembro de 1905, a polícia invadiu a sede do Soviete e prendeu todos os líderes do partido, incluindo Trotsky. No fim do ano seguinte, novamente banido para a Sibéria, ele fingiu-se doente durante a viagem e escapou. Abrigou-se primeiro em Viena; depois, cruzou o Atlântico rumo a Nova York. Lá, retomou a vida de jornalista e se uniu aos mencheviques, “minoritários” que faziam uma leitura moderada do marxismo – batendo de frente contra os bolcheviques, “maioria” sob a liderança de Lenin que acreditava que o governo deveria ser diretamente controlado pelos trabalhadores. No entanto, com o passar dos anos, Trotsky divergiu e se afastou dos mencheviques. Em 1917, aos 37 anos, ele desertou e se aliou oficialmente aos bolcheviques.
Um líder astuto
Ao tomar conhecimento da revolução contra o czar, em março de 1917, Leon Trotsky retornou (de novo) para a Rússia. Quando chegou a Petrogrado, não demorou para ser alçado à presidência do Soviete. Valendo-se do prestígio e da influência que tinha nas massas, passou a conspirar contra o comando provisório. Em outubro, quando o governo foi à bancarrota, Trotsky assumiu o Comitê Militar Revolucionário.
Sua primeira ordem foi o recrutamento de camponeses e veteranos (ex-czaristas) para o chamado Exército Vermelho, a fim de deter forças contrárias à revolução. Pelos três anos seguintes, era o próprio Trotsky quem comandava os soldados contra as forças estrangeiras e o Exército Branco (mencheviques, em sua maioria). Suas viagens eram feitas a bordo de um célebre trem blindado vermelho – um verdadeiro quartel-general sobre trilhos com secretaria, estação telegráfica, centro de rádio, biblioteca e até garagem para automóveis. Entre 1918 e 1921, estima-se que a locomotiva tenha percorrido cerca de 105 mil quilômetros, o suficiente para dar quase três voltas ao redor da Terra, transportando tropas, armas e provisões.
Durante esses três anos de “comunismo de guerra”, Trotsky foi um líder aclamado entre as massas. Muitos, inclusive, o consideravam o verdadeiro herói da Revolução Bolchevique. Já outros, até mesmo do próprio partido, o consideravam autoritário e impiedoso. Certa vez, em meados de 1919, um professor reclamou que os habitantes de Moscou estavam morrendo de fome. Ao que Trotsky respondeu: “Isso não é fome. Quando Tito tomou Jerusalém, as mães judias comeram seus filhos. Quando eu fizer as mães comerem os filhos, aí você pode me dizer: `Estamos morrendo de fome.” Já em seu livro Terrorismo e Comunismo – o anti Kautsky, Trotsky justifica o uso de terror para colocar o Partido Comunista à frente de tudo e de todos. “Quem deseja o fim não pode condenar os meios.”
Em paralelo ao Comitê Militar, Trotsky assumiu o Politburo, o órgão executivo encarregado de decisões imediatas. Posteriormente, tornou-se comissário das Relações Exteriores. Sua obsessão era espalhar o movimento comunista por todo o mundo, plano não endossado pelos homens fortes do partido. Os embates ficaram mais contundentes, sobretudo após o advento da União Soviética, em 1922.
Com a morte de Lenin, em 1924, as coisas pioraram. Visto como fonte de desagregação e “eterno menchevique”, ele perdeu a liderança para Stalin. Em seguida, foi destituído do comissariado e proibido de falar em público. Julgado por traição, em 1927, Trotsky foi expulso do Partido Comunista e expatriado pela terceira – e última – vez.
Golpe fatal
Destruído pela máquina que ele próprio construíra, Trotsky foi perseguido por Stalin, o algoz que vitimou quase toda a sua família – restando apenas a esposa, Natalia, e o neto Esteban. Obrigados a se refugiar, os três passaram por países como Turquia, França e Noruega. Sensibilizados, os pintores comunistas Diego Rivera e Frida Kahlo apresentaram ao governo mexicano um pedido de asilo para Trotsky e sua família. O clamor foi atendido em 1937. Foi aí que eles se estabeleceram em Coyoacán: primeiro, na casa dos artistas; depois, em um casarão a poucas quadras dali – Trotsky havia traído Natalia (e a confiança de Rivera) com Frida.
Em maio de 1940, atiradores stalinistas invadiram sua casa. Por sorte, ele sobreviveu. Três meses depois, em 20 de agosto, outro agente se infiltrou no convívio com Trotsky – apresentando-se como simpatizante. Escondendo uma pequena picareta por debaixo do casaco, o assassino surpreendeu Trotsky na biblioteca, desferindo um golpe no crânio. Gravemente ferido, o líder bolchevique chegou consciente ao hospital. Horas depois, sem sinal de melhora, resignou-se: “Dessa vez, eles conseguiram”. Trotsky faleceu no dia seguinte.
Quem matou Trotsky?
“O grito que ele deu eu jamais esquecerei.” As palavras são de Ramón Mercader, assassino confesso de Trotsky, em depoimento à polícia. Sua identidade foi mantida em segredo pelos 20 anos em que cumpriu pena (máxima) no México. Ele jamais admitiu ligação com a URSS. Mesmo assim, após ser solto, Mercader foi recebido pela Rússia e secretamente condecorado como herói da União Soviética. Morreu em 1978, aos 65 anos, em Cuba.
Aquelas duas correntes ideológicas que observamos antes, das atitudes monstruosas para melhora da humanidade, representada por Trótski, e das atitudes monstruosas pelo simples prazer de se manter em mordomias à custo da humanidade, representada por Stalin, venceu este último. Observamos Trótski, exilado e perseguido, ganhando o pão de cada dia para si e família com o suor do próprio trabalho. Muito diferente dos revolucionários brasileiros, apinhados nas tetas do estado até as suas descendências. Um sinal bem claro que essa linha revolucionária que deseja o poder no Brasil, segue o pensamento ideológico de Stalin e não de Trótski.
Sióstio de Lapa e Leonardo Pujol
Enviado por Sióstio de Lapa em 29/12/2018