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CÍRCULO DO MAL DE HITLER (03) – BODE EXPIATÓRIO
Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
III
            Quando o exército alemão estava voltando, o país estava um caos, milhões de desempregados. Havia desordem política e econômica. Há pobreza e fome em toda parte. A lei e a ordem ruíram e uma revolução socialista acontece em todo o país. A intelligentsia alemã está muito dividida entre políticas de extrema esquerda e extrema direita. E no sul alemão, a capital bávara de Munique é um viveiro dessas visões extremistas.
            Na declarada elite de direita da cidade, está um poeta e dramaturgo bávaro de 50 anos, chamado Dietrich Eckart. Ele não é alguém muito associado ao movimento nazista, mas ele foi uma das figuras mais importantes dele. E foi ele quem colocou em ação toda a força política.
            Eckart é conhecido por beber muito, mas, por ter feito fama e fortuna como dramaturgo antes da guerra, também é rico e bem-relacionado. É um sujeito culto, um poeta conhecido, e consegue articular bem suas opiniões. Mas essas ideias são de extrema direita e, indo de acordo com a época. Seu periódico “Auf gut Deutsch” ou “Em bom alemão”, é uma publicação racista perseguidora de judeus. Eckart também tem conexão com um grupo ocultista secreto de direita chamado “Sociedade Thule”.
            A Sociedade Thule era um grupo bem excêntrico. Eles acreditavam em Atlântida. Que havia uma raça de pessoas, os arianos, com beleza e força quase sobre-humanas, originária de Atlântida. Baseia-se na ideia de que os arianos, ou teutões, foram a grande força civilizadora ao longo da história, e se tornaram germânicos. O povo germânico, os arianos e teutões, era o melhor porque o destino, a providência, a natureza quis assim. Por mais bizarras que pareçam suas crenças, na psique alemã destruída, a ideia de um passado glorioso oferece uma atrativa fuga da humilhante realidade.
            É importante dar forma aos alemães, noção de sua identidade histórica. A Alemanha como estado-nação só tinha 40 anos. O que os unia era a percepção de que queriam descobrir as suas raízes, o que significava ser alemão. Mas há um lado sombrio no mito da Sociedade Thule. Eles acreditam que os arianos se enfraqueceram pelo cruzamento com raças inferiores e moralmente corruptas. Agora essas raças inferiores estão no controle e a Alemanha caótica que Eckart vê é o resultado disso. É como achar um bode expiatório. Ele alega que descobriu uma conspiração mundial.
            Eckart acredita piamente que os inimigos da Alemanha ariana são os bolcheviques, os comunistas e, principalmente, os judeus. A raça judaica quer destruir todas as outras culturas a partir de dentro, através de infiltração, corrompendo o corpo com seu bacilo. Não havia prova alguma disso, mas foi a base de um dos movimentos mais poderosos da história. Eckart quer atacar esses inimigos internos, mas para ter sucesso, ele precisa divulgar sua mensagem às massas. Precisa alcançar as classes trabalhadoras descontentes.
            Quando surgem problemas de difícil resolução, os grupos, quer sejam familiares ou sociais de forma ampla, procuram identificar um elemento mais destoante ou frágil, como culpado da situação. O que aconteceu na Alemanha nos primeiros anos do século XX foi paradigmático da geração de uma força local com potencial para se espalhar pelo mundo, caracterizando as energias malignas veiculada pelas mentiras, pelas falsas narrativas. Este é o mesmo problema que aflige o Brasil atual, onde uma força surgiu com o bode expiatório das elites e que com falsas narrativas chegou ao poder, e felizmente foi desbancado pela verdade colocada à frente dos cidadãos não cooptados e não hipnotizados que fizeram uma mudança radical nas últimas eleições presidencial, fato nunca visto neste país, e acredito que em nenhum outro.
 
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 05/03/2019


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr