TRÓTSKY (23) – DISCURSO INESPERADO Série da Netflix, segundo episódio. A cena se desloca para Bruxelas, em 1903. Trótski adentra um espaço onde se encontra Lenin, que se vira para encará-lo, depois que ouve comentários da sua chegada. - T. Olá, Vladimir Ilyich. - L. Pena que está todo arrumado. Seu discurso foi cancelado. - T. Eu mudei de ideia. Farei o que você me pedir. Lenin o encara, volta para sua mesa e pega uma pasta com papéis entregando alguns para Trótski. - L. Seu discurso. - T. Obrigado. A mesa diretora dos trabalhos se manifesta: - Eu entrego o espaço para o Camarada Trótski. - T. Camaradas! Eu sou o Leon Trótski. Eu conheci o exílio e o inferno das celas de prisão. Eu vi a miséria do povo russo e a injustiça da lei. Eu direciono meu discurso para os revolucionários. Apesar de serem poucos aqui. A plateia reage negativamente: - Que história é essa? - T. Vocês ficam inertes em Paris, Berlim, Londres. Falando de política, escrevendo artigos, engordando. Não podem salvar camponeses e trabalhadores de uma cafeteria. Não podem armar o proletariado tomando café! Olhem para vocês! Que vergonha! São todos eunucos! Vocês não estão lutando, estão só simulando a luta! E desacreditando a grande ideia da revolução! Camarada Plekhanov! Está confortável o bastante para pensar sobre a revolução após um belo almoço? Está bem vestido e aquecido? Os camponeses russos podem esperar. Por uma revolução na Europa avançada. Certo, camarada Plekhanov? - P. Chega disso. - T. E você, Lenin, do que está rindo? Você é melhor? Você se senta na mesma cafeteria, bolando suas tramas. (joga os papeis que recebeu de Lenin sobre a mesa). Você é um eunuco tanto quanto todos os outros. A Revolução Russa já teve sua cota de pavões desamparados de Paris e Viena. Ela precisa de novos líderes, novos soldados. A revolução é feminina. A plateia se manifesta positivamente: - Muito bem! - T. Ela precisa de um verdadeiro homem. Chega de papo furado! É hora da Revolução Russa! Sejam homens! A inseminem! E ela gerará um mundo novo, um mundo justo! Plateia continua se manifestando positivamente: - Sim! Isso é verdade! - T. Um verdadeiro revolucionário está pronto para sair armado. Um revolucionário não tem medo de se afogar em mar de sangue. Viva a Revolução Russa! A plateia empolgada aplaude, inclusive Lenin: - Isso! - T. Viva a limpeza através do sangue! A assembleia termina coberta de aplausos e apertos de mãos dirigidas a Trótski, inclusive Alexander: - Camarada Trótski, que belo discurso. - T. Obrigado! - A. Você superou minhas expectativas. Você superou elegantemente dois obstáculos de uma vez. - T. Três. Diga aos seus amigos ricos que não preciso mais deles. Nem você, à propósito. - A. Excepcional! - T. Obrigado! Obrigado! Obrigado! Trótski caminha lentamente por um corredor de pessoas entusiasmadas a lhe aplaudir, inclusive o líder dos assaltantes que se mostra entusiasmado e lhe estende a mão quando ficam frente a frente. Trótski lhe ignora e vai em direção à Natália, e lhe estende o braço. O líder dos assaltantes mostra uma facies de decepção e de raiva ao mesmo tempo. Forte, corajoso, inesperado discurso para uma plateia tão acostumada à verve acadêmica revolucionária. Trótski coloca o dedo na “ferida”, dos camponeses que vivem na miséria, sem apoio, explorados na sua capacidade de trabalho. Alguma coisa tem que ser feita, uma revolução tem que acontecer para mudar para melhor essa situação. Acontece que não seria da forma que Trótski imaginava, a sua revolução terminou por causar um mal até maior, com milhares de pessoas morrendo por causa do poder ditatorial que se instalou com a revolução. A revolução deve ser praticada em todos os países do mundo, sob quaisquer ideologias, onde observamos a miséria humana, quer seja dos pobres ignorantes que são explorados, quer seja dos intelectuais de qualquer farda ou batina, que usufruem do suor do próximo sem compaixão. Mas a revolução conduzida pela ideologia cristã onde o egoísmo é controlado e não exaltado, onde o poder é constituído para a aplicação da justiça e solidariedade, sempre sobre a inspiração do amor incondicional.