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O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (04)
            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
            Ainda que você se esconda atrás de uma máscara, a sua verdadeira face, a sua essência humana, ainda vai estar perseguindo você, porque é um símbolo que costumo utilizar bastante. É como se o nosso corpo, nossa personalidade fosse uma luva. Ela foi feita para cortar a mão da nossa essência, do nosso espírito para que ela possa atuar no mundo. Imagine que a gente faça uma luva que seja totalmente rígida, os dedos todos ligados, imóveis. É evidente que a mão não vai poder se expressar disso, mas ela vai continuar forçando. Então, toda vez que nos animamos, nos tronamos mascarados, há uma inquietude dentro de nós, querendo tomar posse dessa luva para dar o seu recado ao mundo. No fundo, todos nós viemos ao mundo porque é o recado que cada um de nós tem a dar, que á a base da nossa identidade. Intransferível, que só nós podemos dar. Lembremos aquela frase do imperador romano, Marco Aurélio, “a morte de um único ser humano empobrece”, que significa um universo ímpar e não repetível com o qual deixei de travar contato.
            Com essa música, “Mascarados”, é muito interessante, muito propícia, isso não é uma coincidência, isso é um mito bem construído de forma consciente, por quem escreveu a obra e por quem fez o musical. Por isso é tão denso e tão profundo.
            Se vocês virem a cena de “Mascarados”, vocês vão perceber o movimento igual até a coreografia obedece essa intenção.
            Outra coisa que é importante conhecermos logo de início é um pouco dos perfis dos personagens principais, porque dentro disso vamos entender onde estamos dentro desse drama.
            É um teatro, a obra de Garnier, onde vive no subsolo um homem que tem o rosto desfigurado. Ele foi escondido ali desde pequeno, porque a multidão queria mata-lo, queria maltratá-lo. E esse homem é um gênio da música. Num determinado momento, nesse teatro, uma jovem cantora toma o lugar da diva principal e começa a se apresentar. Essa jovem cantora se chama Christine, e ela vinha sendo educada musicalmente nos bastidores por uma voz, que ela não sabia de onde vinha, que ela achava que era o anjo da música. Porque o seu pai, que havia sido o spalla (1º violino) de uma orquestra, um grande violinista, que diz para ela antes de morrer, que um dia o anjo da música viria e a protegeria. E Christine, então, quando ouve essa voz que vai ensinando ela a cantar, identifica com a voz do anjo do qual o pai falava.
            Christine, não é difícil de perceber que a origem do nome vem de crucificado. Ela está crucificada entre dois mundos e nenhum desses dois mundos quer abrir mão dela e ela fica dividida, tentando avançar, mas retrocede por medo. Quando você entra na câmara, no filme, na câmara onde ela se ajoelhava para fazer suas orações e onde ouvia a voz do Fantasma da Ópera, você vai ver um fundo vitral com grande anjo e esse anjo colocando contra o seu peito uma cruz. Esse anjo da música que vivia nos subterrâneos e no teatro, guardando Christine, que é a cruz, esse ser consciente, essa personalidade dividida entre dois mundos, crucificada. Ele tentando puxá-la para seu mundo que é a dimensão vertical, profunda, mas ao mesmo tempo o palco começa a puxá-la para a dimensão horizontal, da fama, do reconhecimento, de uma vida banal numa sociedade cheia de superficialidades.
            Então, até um determinado momento, ela considera que esse anjo é benéfico, mas quando ele começa a querer roubar tudo que é superficial e vulgar e sem valor, e puxá-la para o seu mundo, ela começa a reagir negativamente, fugia dele.
            Entendam o seguinte: Christine, como essa personalidade que somos todos nós, e nós temos um mini consciente, um subterrâneo onde vive o nosso Eric, o nosso Fantasma da Ópera.
            Esta reflexão feita por Lucia Helena sobre os personagens da obra, trouxe um novo ângulo de reflexão para mim, com impacto até na minha vida pessoal, íntima. Há certo tempo, durante a convivência com minha segunda esposa, fui expulso de casa com a acusação de estar agindo como o Fantasma da Ópera, querer imprimir o meu pensamento e a minha vontade sobre a companheira. Não era essa a minha intenção, mas era o que ela pensava com toda a convicção. Ela me expulsou da sua vida com bastante convicção que eu fazia mal a ela. Não tive outra opção a não ser suportar a dor da separação e procurar refazer a minha vida de outra forma, já que eu não iria modificar a minha forma de pensar e agir, que foi o motivo de tudo isso.
            Agora eu vejo, de forma otimista e gratificante, uma opinião favorável ao que eu defendia, tanto no passado como no presente.
            Veremos com mais profundidade no decorrer deste trabalho e da reflexão magnífica da professora Helena, pelo menos no meu ponto de vista, renovado.
 
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 25/07/2019
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