O LIVRO NEGRO DO COMUNISMO – (03) IDEAL OU REAL
Após o golpe de estado bolchevique na Rússia, este é o primeiro livro de referência sobre uma tragédia de dimensão planetária, com numerosos testemunhos, mapas, fotografias, e mapas das deportações.
Já se escreveu que “a história é a ciência da infelicidade dos homens”; a própria história parece confirmar séculos de violência entre todos os povos e estados. As principais potências europeias estiveram implicadas no tráfico de negros; a República francesa praticou uma colonização que, apesar de algumas contribuições, foi marcada por numerosos episódios repugnantes, e isso até o seu término. Os Estados Unidos permanecem impregnados de uma certa cultura da violência que se enraíza em dois dos mais terríveis crimes: a escravidão dos negros e o extermínio dos índios.
Um olhar retrospectivo impõe uma conclusão incômoda: apesar da vinda do Cristo, da divulgação em massa de suas lições, da aceitação pela maioria dos povos, principalmente ocidentais, o comportamento maléfico continua predominando sobre o potencial de fazermos o bem. Observamos uma escalada de violência nas últimas décadas, incompatíveis com o progresso tecnológico que alcançamos, se ao lado desse houvesse tido a evolução moral cristã. Houve catástrofes humanas como as duas guerras mundiais, o nazismo, sem falar das tragédias mais circunscritas, como as da Arménia, Biafra, Ruanda e outros países.
Com efeito, o Império Otomano entregou-se ao genocídio dos arménios, e a Alemanha ao dos judeus e dos ciganos. A Itália de Mussolini massacrou os etíopes. Os tchecos têm dificuldades em admitir que seu comportamento em relação aos alemães dos Sudetos, em 1945-1946, não esteve acima de qualquer suspeita. A própria Suíça é hoje alcançada por seu passado como o país que gerenciava o ouro roubado pelos nazistas dos judeus exterminados, apesar desse comportamento não ser em nenhuma medida tão atroz quanto o do genocídio.
O comunismo insere-se nessa faixa de tempo histórico transbordante de tragédias, chegando mesmo a constituir um de seus momentos mais intensos e mais significativos. O comunismo, um dos fenómenos mais importantes do século XX - que começa em 1914 e termina em Moscou em 1991 -, encontra-se no centro desse quadro. Um comunismo que preexistia ao fascismo e ao nazismo, e que sobreviveu a eles, atingindo os quatro grandes continentes.
O que pode ser designado precisamente com a denominação “comunismo”? Devemos, desde já, introduzir uma distinção entre a doutrina e a prática. Como filosofia política, o comunismo existe há séculos, e quem sabe, há milénios. Pois não foi Platão quem, em “A República”, fundou a ideia de uma cidade ideal na qual os homens não seriam corrompidos pelo dinheiro e pelo poder, na qual a sabedoria, a razão e a justiça comandariam? Não foi um pensador e estadista tão eminente quanto Sir Thomas More, chanceler da Inglaterra em 1530, autor da famosa Utopia e morto sob o machado do carrasco de Henrique VIII, um outro precursor da ideia dessa cidade ideal?
O método utópico parece perfeitamente legítimo como instrumento crítico da sociedade. Ele participa do debate das ideias - oxigénio de nossas democracias. Entretanto, o comunismo que é abordado nesse livro (O Livro Negro do Comunismo), não se situa no céu das ideias. É um comunismo bem real, que existiu numa determinada época, em determinados países, encarnado por líderes célebres - Lenin, Stalin, Mao, Ho Chi Minh, Castro, entre outros.
Qualquer que seja o grau de envolvimento das doutrinas utópicas anteriores a 1917 (Revolução Russa) na prática do comunismo real, foi este quem pôs em prática uma repressão metódica, chegando a instituir, em momentos de grande paroxismo, o terror como modo de governo. Isso faz com que a ideologia seja inocente?
Os espíritos ressentidos ou escolásticos sempre poderão sustentar que o comunismo real não tem nada a ver com o comunismo ideal, com as utopias. Evidentemente, seria absurdo imputar a teorias elaboradas antes Cristo, com os eventos que surgiram no decorrer do século XX. Entretanto, como escreve Ignazio Silone (escritor e político italiano), “na verdade, as revoluções são como as árvores, elas são reconhecidas através de seus frutos”.
Não foi sem razão que os socialdemocratas russos, conhecidos como “bolcheviques”, decidiram, em novembro de 1917, chamar a si próprios de “comunistas”. Tampouco foi por acaso que erigiram junto ao Kremlin um monumento em glória daqueles que eles consideravam seus precursores: More (Utopia) ou Campanella (Cidade do Sol).
Será que esse comunismo passa pelo teste das árvores e dos frutos? Será que as árvores das utopias que iriam trazer bons frutos, podem ser aplicadas ao pensamento bolchevique, rotulado como “comunista”, observando os frutos que eles produziram?
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 07/08/2019
Alterado em 07/08/2019