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SIMEÃO E O MENINO
            Este é um texto inspirado pelo pequeno conto citado pelo espírito Irmão X, pseudônimo de Humberto de Campos, através da psicografia de Chico Xavier, que vale muito para nossa reflexão, dissipando prováveis incoerência que nosso intelecto racional possa acusar.
            Simeão era um velho senhor, obediente à Deus, que pedia para um dia conhecer o enviado do Pai para nos ensinar o caminho da salvação. Foi dentro desse propósito que um dia ele soube que havia chegado um casal para apresentar o seu filho no templo de Jerusalém. Ele foi ver e logo pressentiu que ali estava o que ele tanto pedia a Deus, conhecer e testemunhar a vinda do Messias. Depois que ele ouviu um pouco da história daquele nascimento, conseguiu colocar o menino nos braços e ficou um pouquinho distante de José e Maria para que ele pudesse sussurrar para a criança sem ninguém perceber. Assim ele dirigiu a palavra ao Mestre recém-nascido com discreta emoção...
            - Celeste Menino, por que preferiste a palha humilde da manjedoura? Já que vens representar o Eterno Senhor na Terra, como não vestiste a púrpura imperial? Como não nasceste ao lado de Augusto, o divino, para defender o flagelado povo de Israel? Longe dos senhores romanos, como advogarás a causa dos humildes e dos justos? Por que não vieste ao pé daqueles que vestem a toga dos magistrados? Então poderias ombrear com os patrícios ilustres, movimentar-te-ias entre legionários e tribunos, gladiadores e pretorianos, atendendo-nos à libertação... por que não chegaste, como Moisés, valendo-se do prestígio da casa do faraó? Quem te preparará, embaixador do Eterno, para o ministério santo? Que será de ti, sem lugar no Sinédrio? Samuel mobilizou a força contra os filisteus, preservando-nos a superioridade; Saul guerreou até a morte, por manter-nos a dominação; Davi estimava o fausto do poder; Salomão, prestigiado por casamentos de significação política, viveu para administrar os bens enormes que lhe cabiam no mundo... Mas... Tu? Não te ligaste aos príncipes, nem aos juízes, nem aos sacerdotes... não encontrarias outro lugar, além do estábulo singelo?!...
            Jesus, menino, escutou-o mostrou-lhe sublime sorriso, mas o ancião, tomado de angústia, por tamanha responsabilidade dentro de tamanha simplicidade, contemplou-o, mais detidamente, e continuou:
            - Onde representarás os interesses do Supremo Senhor? Sentar-te-ás entre os poderosos? Escreverás novos livros da sabedoria? Improvisarás discursos que obscureçam os grandes oradores de Atenas e Roma? Amontoarás dinheiro suficiente para redimir os que sofrem? Erguerás novo templo de pedra, onde o rico e o pobre aprendam a ser filhos de Deus? Ordenarás a execução da lei, decretando medidas que obriguem a transformação imediata de Israel?
            Depois de longo intervalo, indagou em lágrimas:
            - Dize-me, ó divina criança, onde representarás os interesses de nosso Supremo Pai?
            O menino tenro, ergueu então a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele peito envelhecido que se inclinava já para o sepulcro...
            Nesse instante aproximou-se Maria e o recolheu nos braços maternos. Somente após a morte do corpo, Simeão veio a saber que o Menino Celeste não o deixara sem resposta.
            A Criança Sublime, no gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar os interesses do Céu nas organizações respeitáveis, mas efêmeras da vida. Vinha da casa do Pai para representa-lo no coração das pessoas.
            Esta talvez tenha sido a primeira lição que o Cristo nos deixou, ainda quando não podia falar, com gestos que nem todos podiam ver nem compreender, mas com o tempo e já na vida espiritual, possamos entender. Esta e tantas lições que o mestre nos deixou enquanto estava conosco na materialidade da Terra, ultrapassam a barreira do tempo e chegam até nós, penetrando em nossos corações, como o Mestre pretendia.
Sióstio de Lapa e Irmão X
Enviado por Sióstio de Lapa em 01/12/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr