Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
29/01/2019 02h01
TRÓTSKY (18) – PODER CORROMPE MENTES

            Série da Netflix, segundo episódio.

            A cena se desloca para a Rússia, ano de 1903. Um trem corta a noite. Sentado fingindo dormir, o mesmo assaltante que dirigiu o roubo da diligencia e o fuzilamento de todos os soldados. O oficial entra pedindo a conferência dos documentos. Enquanto o oficial pede ajuda para liberar o documento, o assaltante junto com seus comparsas que estão no mesmo vagão saca de suas armas e matam os oficiais mais próximos. Segue o tiroteio enquanto o assaltante pula do trem em movimento e consegue se safar ileso. Foge atravessando rios e matas.

            A cena volta para o México onde Trótski conversa com Jacson, o jornalista.

            - J. Você exagera o seu papel. Você finge ter criado Stalin.

            - T. Antes de me conhecer, Koba era um plagiador. Um operário da Revolução, como ele mesmo dizia. Mas ele leu meus artigos e compreendeu que o mundo será mudado não pelos intelectuais bem alimentados, mas pelas pessoas como ele, prontas para derramar sangue.

            - J. Então, como não viu o monstro que ele se tornou, com sua intuição?

            - T. Outras pessoas com quem lidei eram muito mais duras. Eu temia que seriam... um perigo real.

            Um aspecto delicado. Trótski é o ideólogo da revolução, do pensamento mais puro, de querer trazer justiça ao povo que ele ver escravizado. Percebe que as pessoas que se aglutinam no seu projeto de revolução não tem os mesmos princípios, alguns almejam o poder pelo poder, e mesmo frágeis de raciocínio, mas se tiverem um argumento, como a força e o medo por exemplo, podem chegar ao cume do poder e distorcer todo o bem que se queria promover.

            Algo parecido aconteceu no Brasil, uma figura frágil de conhecimento, mas bem-dotada de argumentos falaciosos e capacidade de cooptação ou de ser cooptado pela corrupção, chega ao poder no Brasil usando toda essa potência que do ponto de vista ético é indefensável. Mesmo assim, no poder, consegue cooptar para dentro de suas ações criminosas as mentes mais bem preparadas intelectualmente, tanto da academia, quanto do meio eclesiástico, do legislativo e do judiciário

            A lição fica. Quando estamos lidando com o poder, os ideais éticos podem se perder, a não ser que tenham uma boa base de sustentação dentro da espiritualidade, de realização da vontade do Deus de amor, ensinado por Jesus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 29/01/2019 às 02h01
 
28/01/2019 02h01
TRÓTSKY (17) – QUE FALTA FAZ O PAI

            A cena volta a enquadrar Trótski e Natália que caminham juntos enquanto conversam.

            - N. Meu pai é um bom homem, mas é muito conservador. O que me esperava? Uma cela de ouro, um bom parceiro, uma porção de filhos... então, eu fugi. Para estudar na Europa.

            - T. Os meus também não me entendiam. É ridículo, eu já sou adulto, mas ainda quero que ele tenha orgulho de mim e me entenda.

            - N. Quando desobedecemos a nossos pais, traímos o amor deles?

            - T. Talvez. Eu sei que tenho razão, mas ainda me sinto culpado. Um paradoxo.

            Eles encontram Alexander que vem chegando em sentido contrário, em uma carruagem.

            - A. Pare! Estou interrompendo?

            - T. Nem um pouco.

            - N. Nós fomos à festa. O Leon queria conhecer a vida europeia.

            - A. Tenho uma surpresa para você, Trótski. Um presente.

            Entrega um cartão para Trótski.

            - T. O que é isso?

            - A. Um mandato para o Congresso de Bruxelas. Lenin me disse em particular que quer que você participe do conselho editorial do Iskra.

            - T. Mas eu...

            - A. Foi o que ele disse. Até logo.

            Alexander dá um toque para se retirar, Trótski fica a ler o cartão com um ar de riso, enquanto Natália também se retira.

            Chama a atenção a opinião de duas pessoas adultas, bem definidas, sobre a opinião dos pais e como se sentem em relação a isso. A confissão de Trótski que desobedeceu aos pais, por se comportar como queria, pois sabia que tinha razão, e isso ainda o fazer sentir como culpado, é um interessante paradoxo. Inconscientemente, será que ele se considera tão certo? Digo assim, pois eu, discordei e agi diferente do que meus pais queriam, mas isso nunca me deixou arrependido, culpado, mesmo sendo em questões tão sérias dentro da cultura aceita popularmente. Talvez porque, o que eu defendia e agia com coerência, estava associada a vontade de Deus que considero o Pai acima de todos os pais, assim como Francisco de Assis. Trótski não considerava este Pai.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/01/2019 às 02h01
 
27/01/2019 02h01
TRÓTSKY (16) – QUEM DIRIGE A MÍDIA

Série da Netflix segundo episódio

            A cena se desloca para um passeio coberto pela neblina onde conversam Alexander e o senhor Kobert.

            - K. Como estão as cobranças?

            - A. Tudo como planejado, Sr. Kobert. Ele está nos jornais.

            - K. Muito bem.

            - A. Eu organizei reuniões para ele discursar. Ele está ficando popular. Eu investi muito.

            - K. Sem problema. Lembre-se: nós temos pouco tempo. Não se preocupe. Vou lhe enviar mais. O que está pensando em fazer?

            O Sr. Kobert retira do casado um envelope e entrega a Alexander

            - A. Depois de falar no Congresso, ele ganhará poder de verdade.

            - K. Mas não vão deixa-lo falar sem a permissão de Lenin.

            - A. Eu já cuidei disso.

            - K. Muito bem.

            Podemos observar com esse diálogo, a fonte financeira que leva à imprensa a divulgar determinadas notícias e construírem narrativas de acordo com a vontade e interesse de quem a patrocina. Esse comportamento da mídia, sensível ao falseamento da verdade em troca de financiamento, é uma chaga que se encontra fortemente presente nas atividades políticas. Colocarei abaixo um texto de Percival Puggina que coloca com clareza essa mesma situação que ocorre atualmente no Brasil.

A GRANDE IMPRENSA EM CRISE DE CONFIANÇA

            Por : Percival Puggina

          Em 2015 compareci a um almoço dos colunistas de Zero Hora. Era um evento de confraternização com a direção da empresa. Mesmo sendo colunista da edição dominical havia nove anos, não tinha ideia de que fossem tantos os meus colegas naquele ofício de rechear com opiniões pessoais as edições do jornal. Eu fora contratado em substituição ao amigo Olavo de Carvalho imediatamente após seu rompimento com o veículo em 2006.

          Pois bem, ao término do almoço, iniciou-se uma brincadeira. Dois repórteres, de modo aparentemente aleatório, escolhiam colunistas para ouvi-los sobre assuntos variados. Fui um dos convocados e a pergunta me veio assim: "Puggina, Zero Hora é um jornal de esquerda ou de direita?". Todos riram, e eu também, pela oportunidade que a indagação me proporcionava. Respondi: "O jornal, diferentemente do Estadão e da Folha, por exemplo, não tem um alinhamento editorial nítido. No entanto, pelo somatório das opiniões dos colunistas, acaba sendo claramente de esquerda".

          Era o que eu pensava e penso ainda hoje, quando não mais escrevo para ZH, ao ler cada exemplar do jornal. Na ocasião, após os risos e restabelecido o silêncio, continuei: "Essa, aliás, é a opinião do próprio jornal. Leitores me contam que ao telefonar para reclamar do viés esquerdista de ZH, ouvem da pessoa que os atende o esclarecimento – 'É, mas tem o Puggina'"... E completei: "Eu sou o pluralismo de Zero Hora". Seguiram-se muitas gargalhadas entre as quais discerni alguns poucos aplausos.

          Menciono esse curioso episódio porque ele tem muito a ver com algo que já então fazia parte de minhas pautas preferidas: o uso da imprensa profissional, dos grandes órgãos de comunicação, para atender conveniências ideológicas e partidárias. E note-se, para atender menos às respectivas empresas e mais, muito mais, ao paladar político de seus redatores e colunistas permanentes. O resultado é uma perda de poder dos veículos, que veem reduzida sua credibilidade e influência.

          A posição unânime de todos os profissionais da RBS, em rádio, jornal e TV, a favor da manutenção da exposição do Queermuseu foi episódio paradigmático no Rio Grande do Sul. Lembro o modo vigoroso como se opuseram à imensa maioria da opinião pública que, pelas redes sociais, exigiu do Santander Cultural o fechamento da mostra. Como exibiam tais conteúdos sem restrição de faixa etária? Ficou visível, ali, a estupefação. Foi como se, de um modo ou outro, os formadores de opinião exclamassem: "Que é isso? Não nos ouvem mais?". Não.

          Recentemente, dois jornalistas pelos quais tenho admiração – J.R. Guzzo (Veja) e Carlos Alberto Di Franco (Estadão) - comentaram a cegueira da mídia convencional em relação ao que se passava na cabeça dos brasileiros durante o período eleitoral. A grande mídia estivera empenhada numa luta do bem contra o mal. Seus jornalistas sustentavam que Bolsonaro não teria a menor chance. Apoiados nas desacreditadas pesquisas, afirmavam que ele perderia para todos no segundo turno. Insistiam em apresentar Lula como um candidato imbatível, impedido por isso mesmo de concorrer. Calavam sobre sua condição de criminoso sentenciado, que usou o processo eleitoral para uma derradeira fraude. Segundo Guzzo, comunicadores brasileiros "tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer no país se Bolsonaro continuasse indo adiante". E eu completo: dir-se-ia, ao lê-los, que ele ameaçava um seguro convívio social e um benemérito círculo de poder.

          "É preciso informar com objetividade. Esclarecer os fatos sem a distorção das preferências e dos filtros ideológicos", escreveu Di Franco em "Imprensa, autocrítica urgente e propositiva". É o que também penso enquanto observo o crescimento vertiginoso da democratização da informação através das redes sociais. Tenho cá minhas dúvidas, muitas dúvidas, sobre se a perversão das fake news, recorrentes nessas novas mídias, é mais nociva do que a ocultação dos fatos, a maliciosa seleção das matérias e do vocabulário, e a distorção das análises, em tantos veículos da mídia tradicional.

          Ou fazem esse autoexame ou serão desbancados pelos alternativos, entre os quais grandes talentos pessoais e sucessos empresariais já se afirmam.

           Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

            Esse comportamento manipulador da mídia termina por se defrontar com a inteligência de seus alvos. Podemos até sofrer algum tipo de efeito dessa manipulação, mas quando surge a verdade, e ela sempre surge, a coerência que domina a consciência do cidadão de bem, sempre exige uma retomada de posição. Isso foi o que aconteceu comigo, eleitor que fui do ex-presidente Lula na sua primeira eleição, possivelmente atingido pelo falseamento da mídia corrompida pelo vil metal, que considera o seu trabalho de falseamento da verdade um caminho justificado ética e moralmente. Quando o noticiário trouxe à tona, impossível de ocultar, do escândalo do mensalão, de imediato vi a farsa em que eu tinha me metido, e desisti do apoio que dava ao então presidente Lula, aquele que não sabia de nada, que protegia todos os corruptos e corruptores. A partir daí essa linguagem distorcida da mídia não mais me alcançou, como deve ter acontecido com milhares de cidadãos por este país afora.

            Este trabalho está também publicado no blog do escritor imortal da Academia Rio-Grandense de Letras, Percival Puggina.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 27/01/2019 às 02h01
 
26/01/2019 02h01
TRÓTSKY (15) – CONFRONTO DE MUNDOS

            Série da Netflix segundo episódio

            Trótski em frente ao espelho, no seu quarto, procura escolher uma roupa para sair. A cena se desloca para o local do encontro, sofisticado, muitos convivas, Natália está sentada sozinha numa mesa quando ver Trótski chegando.

            - N. Nossa! Trótski, você me surpreende.

            Interfere na conversa um dos convivas que demonstra conhecer bem Natália. Entra no meio dos dois ficando de costa para Trótski.

            - C. Meu Deus, Natália, você veio! Estou tão feliz em vê-la!

            - N. Olá, Nel. Este é meu amigo Leon Trótski.

            - Ne. Impressionante.

            Aperta a mão de Trótski, um gesto muito demorado que incomoda o revolucionário que termina por se afastar com firmeza. Nel fica desconcertado e se afasta.

            - Ne. Melhor ainda bravo. Com licença.

            A cena gira ao redor do salão, mostra um Trótski desconcertado com tanta gente rindo, bebendo, flertes generalizados, usando roupas sensuais e drogas em forma de pó, numa algazarra com fundo musical. Natália percebendo o ar de repugnância de Trótski com a situação, comenta:

            - N. Você colocaria fogo nele, se pudesse.

            - T. É verdade. E não só nele. Em todo o mundo.

            - N. Você me queimaria também? Trótski, me diga. Eu acho que entendo você. Dentro de você vive uma criancinha que inveja o charme, a inteligência ou a coragem dos outros. E está pronto para destruir quem for melhor que ele. Certo?

            - T. Você... todos vocês aqui satisfazem seus vícios, enquanto outros vivem na miséria e na humilhação. Outros que labutam como escravos para ganhar seu pão e sustentar vocês com esta luxúria podre. E vocês acham que são melhores que eles. Não. Vocês são crianças se escondendo da vida real, não eu. Mas a tempestade está chegando. E quando ela chegar com tudo, vocês não acreditarão que poderiam ter roubado dessas pessoas por tanto tempo.

            De repente Trótski percebe que ao seu lado todos param e prestam atenção nas suas palavras. Com ar surpreso, Trótski procura se despedir.

            - T. Me desculpe, não nasci para festas. Tenham um boa noite.

            - N. Trótski! Meu Deus, espere!

            Natália também sai em busca de Trótski.  

            Eis a essência do que motiva Trótski. Uma justiça para o mundo que se mostra tão injusto. Mundo que ele até agora não encontra ninguém que pense como ele. Só ele ver o sofrimento do povo e a forma de os libertar, pela violência, pelas armas. Não acredita em Deus, em Jesus, certamente não pensa em colocar em prática as suas lições. Este foi seu grande erro?!?

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 26/01/2019 às 02h01
 
25/01/2019 02h01
TRÓTSKY (14) – MUNDOS DIFERENTES

TRÓTSKY (14) – MUNDOS DIFERENTES

            Série da Netflix, segundo episódio.

            A cena se desloca para a cidade, no condomínio dos socialistas, Trótski lê o livro do Prof. Sigmund Freud: “A psicopatologia da vida cotidiana”. Ouve passos na escada e abre a porta com velocidade.

            - T. Natália. Boa tarde.

            - N. Trótski, está me perseguindo?

            - T. Eu? Estou. Quero lhe perguntar uma coisa.

            - N. Pode perguntar.

            - T. Quer uma fruta? Muito bem... Por que você acha nossas reuniões chatas?

            - N. Você está na Europa, Trótski. Temos museus, teatros e exposições aqui. Muita vida. E vocês ficam em cafeterias falando de mudanças. É possível mudar a vida sem conhece-la?

            - T. Sim, tem razão. Eu não conheço esta vida. Passei quatro anos exilado. Sem museus, sem teatros. Sem futuro, as pessoas não têm motivos para viver. E eu quero dar a elas um motivo para viver.

            Natália deixa a cadeira onde está sentada e vai até a cama onde pega o livro que Trótski estava lendo.

            - N. Freud.

            - T. Sim.

            - N. Bela escolha para um rebelde.

            - T. Só queria saber. Freud está na moda.

            - N. Ele é curioso. Suas ideias sobre sexualidade chocam. Mas ele tem uma mente aguçada. Até logo.

            - T. Natália. E se eu quiser ver que tipo de vida você gosta? Por onde começo?

            - N. Fui convidada para um sarau esta noite. Você pode ir se quiser.

            - T. E o que é um “sarau”?

            - N. Será um jantar.

            - T. Talvez eu vá.

            A atração que Trótski sente por Natália faz com que ele tire por um momento o foco do seu projeto revolucionário e procure viver um pouco o mundo dela. Realmente, podemos considerar mundos diferentes coexistindo dentro de um mesmo espaço físico, de um mesmo país ou cidade. Isso acontece em todos os lugares, desenvolvidos ou não. A natureza humana consegue criar guetos onde os mais frágeis se submetem a trabalhar para manter a mordomia dos mais fortes. Não há uma preocupação de corrigir esses desníveis de forma definitiva. Talvez isso seja o que caracteriza o nosso planeta pelas inteligências espirituais, como de “provas e expiações”. Quando atingirmos a condição de fazermos essa correção, evoluiremos para planeta de “regeneração”. Esta é a nossa tarefa enquanto cristãos, transformar o nosso coração com a Reforma Íntima e nos capacitar para evitar desníveis de mundos humanos tão drásticos, de forma definitiva. Natália está dentro do mundo mais sofisticado, sem a percepção do que acontece no mundo de seres escravizados pela miséria e ignorância; Trótski conhece o mundo escravizado e quer lutar para corrigir essa anomalia que o ser humano criou, não importa em conhecer ou reconhecer o mundo sofisticado e cheio de mordomias de Natália, para quem tem dinheiro, construído e adquirido com a miséria do povo. Certamente os argumentos de Trótski, mesmo dentro do mundo de Natália, serão mais fortes que os dela.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 25/01/2019 às 02h01
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