Depois de saber o que é o Amor Incondicional, o qual chamarei simplesmente Amor, saber da sua força incomensurável e que se confunde com o Criador, resta fazer a aplicação dela na prática, superar a barreira do individualismo, do egoísmo animal para que isso aconteça. Vou levantar um caso hipotético, mas que reflete um pouco da minha história.
O estudante do Amor, ao perceber que está de posse das principais informações teóricas, sabe que agora precisa fazer a prática.
Um homem, uma mulher. Começa o teste. São dois seres formados por Deus, com estratégias de sobrevivência diferentes. Ambos são atraídos por seus hormônios, instintos, em busca da reprodução que atende a cada um deles, mesmo com estratégias de sobrevivência diferentes. No primeiro momento vem a mente de cada um deles as estratégias milenares de cada componente biológicos que formam os seus corpos, iguais aos demais animais da criação. Acontece que a espécie humana já atingiu um estágio de evolução biológica que possibilita o processamento neural mais sofisticado, complexo, e a sua racionalidade pode dar o salto quantitativo para deixar a evolução moral como elemento hierarquicamente superior.
Bom, mas na prática, longe de todo esse arrazoado técnico, temos um homem e uma mulher que se encontram e que desenvolvem uma empatia, amizade, desejo carnal. Esses sentimentos estão presentes em ambos, e o que é bom para um é bom para o outro. Os sentimentos fluem em torno de ambos, o Amor é o grande maestro dessa orquestra de emoções. Como o Amor é o maestro, ele não deve permitir que haja qualquer desnível de benefícios/prejuízos na relação. Nenhum dos dois pode querer ser beneficiado em qualquer aspecto dentro da relação e trazer prejuízo para o outro.
Nesse exemplo hipotético estamos colocando apenas duas pessoas que se encontram, sem qualquer influência de terceiros, de forma didática, para verificar o caminho que deve seguir o Amor sem se tornar corrompido por qualquer interesse parcial de qualquer um dos membros da relação. Até aqui podemos observar que não temos dificuldade em seguir o fluxo do Amor, pois o que devemos monitorar são as nossas próprias idiossincrasias na relação com o outro. Se eu quero ir para algum lugar, ou fazer alguma coisa que o outro não quer, ou quer diferente, então tenho que respeitar essa opinião e não exigir que ela siga meus passos ou queira o que eu quero.
Eu digo que esse aspecto é mais fácil de administrar, pois depende da própria pessoa em controlar o seu próprio comportamento e não exigir do outro algo que ele considera correto.
São essas questões de foro íntimo e que diz respeito exclusivamente ao par que se relaciona, que podem ser conduzidas nos trilhos do Amor, se cada um se mantiver sempre atento nos desejos inadequados que possam surgir. O diálogo é algo indispensável, para que o outro saiba o que se passa na mente do parceiro e saber até que ponto ele está se esforçando para a permanência do Amor.
Essa é uma condição que pode ser vista na relação de Adão e Eva, não existiam outros homens e mulheres que pudessem intervir na relação. Mesmo assim ainda aconteceu a interferência de uma serpente e que conseguiu influenciar a mulher a fazer algo proibido. Essa mulher, por sua vez também induziu ao homem a fazer o mesmo, e sabemos o que aconteceu.
Existem diversos conceitos sobre o amor, de como o sentir e exprimir. Como é reconhecido por todos a força positiva que dele emana, ou que dele consiste, na construção de todos os relacionamentos, é importante que seja bem esclarecida qual a melhor conceituação de amor e consequentemente, como devemos aplica-lo em nossas vidas.
A maioria entende que o Amor Incondicional é o conceito mais puro que temos do Amor, e que serve até de entendimento, como Força Criadora, a essência de Deus que a tudo penetra, rege e administra no(s) universo(s).
O Amor Incondicional deve ser aplicado sem a perspectiva de qualquer tipo de cobrança. É um amor que não tem nenhuma condição para que ele exista. É um amor puro sem nenhum interesse subalterno, é a aceitação total, sem empecilhos, sem desculpas. É um amor pleno, total, infinito, ilimitado.
O Amor Incondicional deve ser visto como o verdadeiro, o puro amor. Mesmo a uma mãe, aquela a quem atribui-se o amor mais puro e verdadeiro, existe uma condição para isso: é o seu filho. Então o amor materno não pode ser incondicional, ele está “contaminado” pela condição daquele ser amado ser o seu filho. No Amor Incondicional não existe nenhum tipo de porém, não há nada que possa perturbar esse amor, nada pode diminui-lo nem aumenta-lo, pois isso significa perder a equidade com outros seres que não podem ser prejudicados pelo Amor Incondicional.
Amar o sujeito sem nenhum questionamento, sem nenhuma exceção, para todo o sempre, em qualquer lugar e sob qualquer circunstância, desde que não acometa prejuízos a terceiros reais a terceiros, dentro da filosofia da equidade é amar incondicionalmente.
O Amor Incondicional é portanto, extremamente raro. Mesmo as pessoas que mais demonstram amar alguém, ou fazem isso de forma passageira, vivendo o calor de uma paixão, ou o fazem quando as coisas vão bem e não há nada para se queixar, ou tem algum condicionante associado. Amar independentemente de qualquer condicionante, com justiça, deve ser a meta que cada ser humano deva alcançar para construir o Reino de Deus que Jesus anunciou.
Devido a essa dificuldade inerente a aplicação do Amor Incondicional em nossos relacionamentos, tem-se a ideia de que isso só seria alcançado por homens santos que chegaram a Terra enviados por Deus, como o próprio Jesus, por exemplo, ou Buda, Madre Tereza, Gandhi, etc., que ensinaram e foram exemplos.
Por esse motivo é que existem correntes espiritualistas que defendem o futuro da humanidade dentro da prática do Amor Incondicional e dessa forma ocorrer a evolução para o entendimento coletivo e um nível de existência onde todos compartilhem a vida com fraternidade e justiça.
Ao atingir essa condição de plenitude do Amor Incondicional em nossos relacionamentos, teremos alcançado a libertação dos grilhões biológicos, instintivos, que nos deixam amarrados aos interesses materialistas, de sobrevivência, característico da terceira dimensão, comum a todos os seres vivos que conosco dividem a experiência de serem educados na Terra. Passaremos a viver numa quarta dimensão onde o mundo espiritual de onde surge a motivação para aplicarmos a Lei única de Deus e que é veiculada pelo Amor Incondicional.
Estes são os paradigmas que nossa consciência coletiva irá alcançar por força da Lei do Amor que deve superar todos os obstáculos externos que o homem apresenta para atingir esse nível, principalmente os obstáculos internos representados pelos instintos egoístas de sobrevivência animal característicos da terceira dimensão. A nossa meta consciencial é dar um salto de qualidade e alcançar a quarta dimensão onde prevalece o Amor Incondicional e nossa relação íntima com Deus.
Certamente que dentro desse arrazoado existam algumas correções ou distorções que devem ser percebidas e corrigidas pelo coletivo, mas me parece que a direção global de nossa evolução seja nesse sentido: procurar conhecer e desenvolver o Amor Incondicional em todos os relacionamentos com a sanção da maioria dos seres conscientes e que já perseguem a evolução moral com mais empenho.
Estou a cada momento procurando corrigir meu comportamento no sentido de aproximação maior com a verdade. O que atrapalha muito esse movimento são os preconceitos que formo em torno de algo que penso ser a verdade. Para superar essa barreira devo usar a inteligência, a coerência, a lógica.
Foi assim que aconteceu comigo na reflexão sobre o Amor incondicional, na sua forma mais pura, na forma que mais se aproxima de Deus e que se confunde com a Sua essência. O próximo passo seria a aplicação desse conceito teórico à prática.
Ao fazer a aplicação do amor incondicional à minha prática relacional, encontrei o forte preconceito do amor romântico, do amor materno, paterno, etc., como formas importantes do amor. Parece que ninguém percebe que essas formas de amar estão todas condicionadas, e dessa forma colocadas antagonicamente ao amor incondicional.
O exemplo patente para isso foi a formação da família nuclear, célula-máter da sociedade, com base no amor romântico ou outros interesses menores. Quanto a isso foi formado um forte preconceito que estabelece a superioridade dessa forma de amar e de se relacionar. Ao tentar aplicar o amor incondicional, eu vejo a necessidade de manter livre a minha forma de amar, sem exclusivismo, por qualquer um dos membros da relação conjugal. Pronto! Cheguei a um conflito, estou em oposição a um preconceito, defendendo uma verdade que também pode ser falsa. Poderia assim estar criando outro preconceito com bases falsas. Mas se eu estou no caminho da verdade, então o preconceito da superioridade da família nuclear deve ser destruído.
Existe uma lição dada pelos espíritos, que quando um princípio novo tem de ser enunciado, isso se dá espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo e de modo idêntico, senão quanto à forma, quanto ao fundo.
Se portanto, eu tentar formular um sistema excêntrico, baseado unicamente em minhas ideias e com exclusão da verdade, posso ter a certeza de que tal sistema conservar-se-á circunscrito e não prosperará, por não ter o apoio da lógica e da coerência com a verdade.
Não é pelo fato de que estou convicto da minha verdade que ela seja realmente verdadeira. Posso estar dentro de um grande erro. Não posso em nenhum momento me arvorar como árbitro supremo da Verdade e passar a dizer: creia em tal coisa, pois sou eu que estou dizendo. A minha opinião não passa, aos meus próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto que não sou mais infalível do que qualquer outra pessoa.
Também não é porque um princípio me foi ensinado, que deva exprimir a Verdade, mas porque foi aceito por minha lógica e coerência e recebeu a sanção da concordância. Quando diversas consciências atingiram essa mesma convicção, chega o momento de anular as teorias contraditórias e se formar outro preconceito mais aproximado da Verdade.
Assim, uma verificação universal desse novo princípio constitui uma garantia para a superioridade do novo princípio. É aí que vamos encontrar o critério da Verdade. É nesse duelo de novos princípios com preconceitos que vamos em direção à Verdade. É com a adesão de consciências livres, capazes de processar de forma independente todas as informações para se chegar a uma conclusão, que será atingida as condições de quebra de preconceitos falsos. Ao se atingir a universalidade dos princípios novos, qualquer contraproposta teórica que se divorcie da verdade, não prosperará.
Aquele que queira se opor a essa corrente de princípios já estabelecidos pelo reconhecimento da Verdade dentro deles, não terá êxito.
Escreveu Voltaire em seu “Dicionário Filosófico”, uma crítica sobre o patriarca Abraão. Aquele que se tornou pai da religião cristã, judia e mulçumana.
Pois não é que Abraão com a idade de 135 anos, foi com a sua mulher, Sara, bem mais jovem que ele, 65 anos, para outras paragens bem distantes, obedecendo a ordem de Deus? Mas ele resolveu tirar proveito da beleza da mulher apresentando-a como irmã.
O rei enamorou-se da “jovem” Sara e presenteou o presumido irmão com muitas ovelhas, bois, burros, mulas, camelos e servos. Essa é uma prova que esse povo era poderoso e civilizado, pois ao invés de tomar à força a mulher desejada, recompensa magnificamente os irmãos que vinham oferecer as irmãs aos reis de Mênfis.
Tinha a “jovem” Sara 90 anos, segundo as Escrituras, quando Deus lhe prometeu que Abraão, que então tinha 160 anos, lhe daria um filho. Abraão que gostava de viajar, tomou o caminho do deserto de Cades, acompanhado da mulher grávida, mas sempre jovem e bonita. Como aconteceu com o rei egípcio, enamorou-se também de Sara um rei do deserto. O pai dos crentes pregou a mesma mentira que no Egito: fez passar a esposa por irmã. O que mais uma vez lhe valeu ovelhas, bois e servos. Pode-se dizer que graças a sua mulher, Abraão se tornou riquíssimo.
Eis uma forma de agir, segundo Voltaire e as Escrituras, que mostra a ética de um povo. Certamente o exemplo de Abraão não era um caso isolado entre seus conterrâneos. Foi isso que Voltaire fez questão de focar. Uma ética que procura ser justificada pelos estudiosos das sagradas Escrituras. Não posso me colocar na posição de magistrado e julgar um povo pelo que está escrito há tanto tempo, sem conhecer outras circunstâncias que poderiam ter influenciado. Apenas sei que essa ética, comparada com a que defendemos na atualidade, é muito diferente. Sei que muitos hoje se comportariam como Abraão naquele tempo, se chegada fosse essa condição. Também posso imaginar que, se eu fosse colocado nas condições de Abraão, mas tendo a consciência que tenho hoje, eu não teria agido como o patriarca. Da mesma forma que pessoas mais firmes na ética que eu teriam agido.
Isso mostra que existe uma evolução ocorrendo na consciência das pessoas e isso é que vai proporcionar a evolução do planeta como um todo, de campo de provas e expiações para campo de regeneração.
Talvez não seja a importância de uma só pessoa o fator determinante, como tenho a tendência de imaginar, que eu sou o elemento ético que vai fazer a diferença no contexto coletivo. Parece mais lógico que o contexto coletivo é quem vai determinar a evolução do planeta e não a presença de uma só pessoa. Uma só pessoa pode ter a importância de servir como modelo para que o coletivo se dirija para ele a partir de cada decisão individual.
Dentro dessa perspectiva consigo perceber a posição da minha influência dentro do campo relacional ao meu alcance. Sou instruído pelos exemplos positivos que são ensinados na escola, principalmente pelas lições do divino Mestre de Nazaré, e ao mesmo tempo procuro levar à frente essas lições no campo prático, mostrando dentro de minhas relações que este é o melhor caminho.
Quando chegamos à luz, por obra material dos nossos pais, principalmente da mãe, começamos a nossa caminhada nesta terra, recebendo os 86.400 segundos a cada dia para usá-los da melhor forma possível. No início da vida não temos responsabilidade com esse tempo que nos é ofertado, essa é uma tarefa principal dos nossos pais ou parentes mais próximos, na falta deles. Com o processo educativo associado as nossas tendências inatas e adquiridas ao longo das mais diversas vivências, construímos com o livre arbítrio os paradigmas nos quais devemos fazer nossa caminhada. A partir daí é só observar o caminhar do caminhante, se ele segue mesmo os paradigmas que construiu ou se ainda está confuso para qual direção seguir.
Eu estou bem seguro do meu caminho. O meu caminhar é feito com mais consistência, claro que não é uma rota definitiva, pois sei que não sou o dono da verdade, e muita informação pode surgir à minha frente e que talvez eu deva corrigir algum aspecto do meu caminho, se eu quero me manter sempre em direção à essa Verdade.
Nesse trajeto que vou pelo caminho, sempre surgem pessoas que podem ou não caminhar comigo, com a proposta de um curto trecho ou durante toda a caminhada desta minha atual vivência na Terra. É importante que cada parceiro que se aproxime conheça o projeto de caminhada de cada um para que seja sabido por todos as metas de cada um. Vamos observar que existem caminhos incompatíveis à primeira vista, e outros aparentemente compatíveis. Existem também aqueles casos em que um parceiro deseja caminhar com o outro, mas o seu destino é diferente. Esse parceiro pode até se esforçar para caminhar na caminhada desse caminhante, mas se não conseguir absorver o destino dele como o seu, fatalmente existirá conflitos e sofrimentos pelo caminho.
Tenho observado isso com frequência no meu caminhar. Diversas parceiras, mulheres principalmente, chegam perto de mim, e apesar de conhecer o meu caminho, notar que é diferente do delas, mesmo assim procuram caminhar junto comigo. Vejo constantemente o desgosto que elas sentem quando percebem que faço algo que não pertence ao caminho delas. O conflito se torna inevitável, o sofrimento também, em consequência. Esse sofrimento chega até próximo de mim, pois como ficar impassível ao sofrimento do próximo? E sabendo que esse sofrimento é originado do meu comportamento? Quando esse processo está bem próximo de mim, eu me afasto para não sofrer as consequências; também posso sofrer expulsão da vida dessa pessoa, as vezes de forma agressiva, violenta.
Existe certa incoerência quando eu digo que fui expulso da vida de certa pessoa, pois na verdade eu não entro na vida de ninguém, aceitando o que elas têm de diferente de mim, não prometo ajustar meu comportamento ao delas. É o contrário o que acontece. Elas sabem qual é o meu caminho, sabem que eu não desejo nem tenho vontade de mudar minha rota, que defendo seja traçada por Deus para que eu a cumpra e que racionalmente eu aceito sem restrições, e sabendo todo os conflitos de relacionamentos que podem surgir, e que posso viver o resto da minha vida sozinho, por não encontrar ninguém que tenha o mesmo caminho ou que não tenha condições de ajustar o caminho deles ao meu. Então, não é que eu seja expulso da vida delas, elas é que saem de um caminho que já conheciam. E porque tanta agressividade, tanta raiva contra mim ou contra pessoas que de mim se aproximam? Não sabem que meu caminho é esse? Bastaria dizer de forma honesta e coerente, que não estavam mais suportando o sofrimento que essa caminhada ao meu lado estava fazendo, que não tinham condições de corrigir os paradigmas delas em função dos meus... não seria mais simples, mais harmônico, mais fraterno? Para que brigas se ninguém estava tentando enganar ninguém?
Por tudo isso fico a refletir... será que não estou sendo suficientemente claro quando explico qual o caminho que o Pai determinou para mim e que eu aceitei seguir sem restrições? Será que as pessoas mesmo entendendo ainda guardam esperanças de que seus encantos sejam maiores do que os encantos de Deus para mim e assim façam eu desviar de minha rota?
Não sei... o que eu sei é que sei para onde seguir, que posso até mudar de rota, mas na dependência do que Deus me informe enquanto verdade, e não por questões estranhas à minha natureza espiritual, mesmo que venha com todos os encantos da matéria, da biologia, da fisiologia, e das forças dos instintos. Sempre prevalecerá em mim a força do Amor Incondicional que é a própria essência de Deus.