Sempre me incomoda esse termo quando é aplicado para distinguir alguns grupos de outros. Na minha concepção Deus é o Criador de toda a Natureza, inclusive nós e dessa forma todos somos, independente da pátria, da raça, do credo ou da posição social, financeira ou política, filhos do Pai, o povo de Deus.
Essa, no entanto, é a posição intelectual de quem se coloca do ponto de vista de Deus, que acredita que “Ele” tenha uma existência real e, portanto, que Ele considera a todos como filhos, independente da forma de pensar de cada um. Agora temos o pensamento livre dos filhos de Deus que usa do seu livre arbítrio para direcionar a sua vontade para onde o seu raciocínio lógico levar. Pode muito bem não acreditar que Esse Deus que seus sentidos não percebem, também não existir. Então essas pessoas não se consideram povo de Deus. E quem acredita em Deus também pode os considerar que não são eles o povo de Deus. Então, do ponto de vista humano podemos fazer essa distinção e que com a evolução no tempo vamos aperfeiçoando a compreensão.
Na cultura ocidental aceitamos majoritariamente a concepção do Deus único representado por uma força prevalente na Natureza, capaz de intervir em favor dos seus favorecidos. Começou na eleição de um povo, os israelitas, para serem distinguidos de todos os outros e dessa forma serem favorecidos em detrimentos dos outros, pagãos, ateus ou crentes de outros deuses. É registrado no livro sagrado desse povo, a Bíblia, toda uma epopeia nesse sentido e que chega até os dias atuais reformulado pelos ensinamentos de Jesus Cristo. Houve assim um progresso, pois deixou de ser considerado o povo de Deus apenas os integrantes de um grupamento racial, agora passaram a ser todos aqueles que aceitam os ensinamentos do Cristo e que compõem a sua igreja.
Ainda dentro desse conceito humano de povo de Deus, acredito que ainda seja necessário mais um ponto evolutivo, a consciência. Não é necessário que seja obrigatório permanecer dentro dessa instituição chamada igreja cristã, para sermos considerados filhos de Deus. Basta aceitar essas informações preciosas que Jesus nos ensinou, sobre Deus, o Pai, e sobre o Reino de Deus, a família universal, procurar as colocar em prática com boas intenções o amor incondicional, para já estar dentro do conceito do povo de Deus. Pode nunca ter ido a qualquer igreja, de qualquer denominação, e até participar de igrejas com outras orientações não cristãs, mas que todas sejam baseadas no princípio divino do amor incondicional e seus desdobramentos, verdade, justiça, liberdade, fraternidade, solidariedade, etc.
Desde que eu descobri a existência de Deus e que Ele se manifesta através de toda a Natureza e em nós principalmente pela capacidade de amar, passei a expressar essa forma de amor incondicional, sinônimo de Deus. Quer dizer, tento fazer isso, pois estou ainda muito ligado à carne e aos seus instintos, chego a me comportar com perversidade a tal ponto que só depois do ato realizado é que vou perceber a dimensão do bem que não fiz, do amor incondicional não expresso.
Ontem foi mais um dia que isso aconteceu, e o fato se desenvolve dentro de um padrão que eu não consigo quebrar e só consigo perceber a besteira que fiz, do bem não realizado, quando o ato é concretizado. Uma senhora me procura no hospital para lhe dar uma receita de medicamento para o seu filho que não quer vir a consulta. Como ele esteve internado sob meus cuidados, ela recorre a mim. Eu sigo a burocracia do não permitido, que o meu trabalho se restringe à enfermaria e não manter a medicação de um paciente que não quer vir nem para a urgência, nem para o ambulatório. Não tratei essa senhora e o seu filho ausente como irmãos, nem como o próximo que devo amar como a mim mesmo. Acaso se eu tivesse necessitando dessa receita eu não iria fazer para mim mesmo atropelando toda e qualquer burocracia? É um fato visível de falta de caridade, de não cumprimento da lei maior. Portanto, por mais que eu diga e me esforce para cumprir a lei do amor incondicional, falhas existem no meu caráter e personalidade que deixam que isso aconteça. Mas aqui estou usando a espada afiadíssima da verdade. Verdade que neste caso se volta contra mim mesmo e mostra as minhas fraquezas, escancara as minhas fragilidades, da minha incompetência de me comportar próximo ao exemplo do Mestre.
Mas permaneço com a espada afiadíssima da verdade, mesmo ela cortando a minha carne. É o meu suplício e ao mesmo tempo a minha esperança. Não posso deixar escondido, acobertado pela mentira os males que vicejam na minha alma. Cada vez mais eles se fortaleceriam se isso acontecesse. Posso sofrer a vergonha de mim e o desprezo que os outros possam ter, mas a verdade irá mostrar o que eu pretendo ser e o que estou conseguindo ser. Ninguém será enganado.
O mais complicado é que essa espada afiadíssima em minhas mãos ainda inábeis podem fazer estragos na vida dos outros. Posso despertar raiva, sentimentos de rejeição, de vingança, por eu pretender ser uma pessoa que vai de encontro aos interesses e convicções de tantos outros. Mas eu sinto que esse amor incondicional exige que eu use essa espada afiadíssima, tudo bem devo ter cuidado com o seu manejo para não ferir tão profundamente almas que ainda estão imersas em plena ignorância do que Deus deseja para nossa comunidade, para alcançarmos o nível de Reino de Deus.
E para terminar, devo colocar bem claro que tudo que expressei aqui é fruto de minhas profundas convicções e que posso estar profundamente enganado. Mas enquanto estiver com a espada da Verdade tenho esperança de me livrar de todos os erros inconscientes que eu cometo, ao agir com tanto vigor na aplicação do Amor Incondicional da forma que eu o entendo.
Deus continua a falar comigo e toca na minha ferida que poucos veem: a preguiça. É na mesma continuação da Justiça, que foi postado no dia anterior, e agora em Provérbios 24:30-34.
30 Perto da terra do preguiçoso eu passei, junto a vinha de um homem insensato: 31 Eis que por toda parte, cresciam abrolhos, urtigas cobriam o solo, o muro de pedra estava por terra. 32 Vendo isso refleti; daquilo que havia visto, tirei esta lição: 33 um pouco de sono, um pouco de torpor, um pouco cruzando as mãos para descansar 34 e virá a indigência como um vagabundo, a miséria como um homem armado!
30 Não sei se posso bem me caracterizar como “um preguiçoso” afinal como meus amigos dizem eu tenho muitas responsabilidades e trabalho feito e a fazer. Mas a consciência acusa que eu deveria fazer muito mais, o corpo exige que eu descanse além do que a consciência permite, e o corpo geralmente é quem ganha a disputa. Nesse ponto eu me considero descansado, mas a consciência culpada e acusa: preguiçoso. Olho ao redor e reflito se o conceito de insensato também pode ser aplicado. Parece que sim, pois dentro da missão que aceito como originada do Criador e a qual tenho que desenvolver com eficácia (vigor) e eficiência (ação) e no entanto... 31 Vejo ao meu redor o reflexo da indisciplina, meus livros e tarefas desorganizados e atrasados, muito bem significam os abrolhos (escolhos, escombros, entulhos) e urtigas que o chão do meu apartamento, as paredes de meus projetos inconclusos e próximos a cair por terra. 32 Observando tudo isso com os olhos da neutralidade, também chego a essa conclusão: 33 Tudo começa com a exigência natural de ter direito a um pouco de sono, um pouco de torpor, um pouco cruzando as mãos para descansar... “afinal eu já trabalhei tanto!” 34 Então, a partir daí vem a indigência espiritual, a missão aceita se deteriorando ao longo do tempo que leva o caminho a ser percorrido, e a miséria moral assolará o meu destino como carcereiro armado de culpas que jogará na minha consciência. Esse é o desfecho que está colocado como encruzilhada no meu destino. Posso ser bem sucedido materialmente, na academia, com meus relacionamentos os mais diversos, mas ser um fracassado intimamente, na minha destinação espiritual. E isso ninguém perceberá, a não ser EU!
Sinto que Deus continua a falar comigo, agora na leitura diária que faço na Bíblia encontro esse trecho em Provérbios 24:23-29:
23 O segue é ainda dos sábios: Não é bom mostrar-se parcial no julgamento. 24 Ao que diz ao culpado: “Tu és inocente”, os povos o amaldiçoarão, as nações o abominarão. 25 Aqueles que sabem repreender são louvados; sobre eles cai uma chuva de bênçãos. 26 Dá um beijo nos lábios daquele que responde com sinceridade. 27 Cuida da tua tarefa de fora, aplica-te ao teu campo e depois edificarás tua habitação. 28 Não sejas testemunha inconsiderada contra teu próximo. Queres, acaso, que teus lábios te enganem? 29 Não digas: “Far-lhe-ei o que me fez, pagarei a esse homem segundo seus atos.”
Estas palavras me levam a refletir nos aspectos da justiça no meu comportamento, é isso que o Pai deseja que eu faça neste momento.
23 Nunca procurei fazer isso, mas a advertência é válida. Por instinto, impulso, há uma tendência que eu veja o meu lado como o mais importante e desconsidere as razões do outro. Então eu tenho que ficar vigilante quanto a isso, de não ser parcial, de não ver o meu lado como o mais importante, em detrimento do outro. O julgamento é coisa séria e devo estar consciente de que, da mesma que eu julgar o próximo, eu também serei julgado.
24 Também não posso dizer ao culpado que ele é inocente. Devo considerar todos os fatos e argumentos para levantar a voz da justiça com os olhos devidamente vendados. Sou instigado a julgar o comportamento do meu filho. Ele é inocente? Não sei o que ele fez em vidas passadas, não cabe a mim considerar isso neste nosso atual relacionamento. Agora cabe considerar o que fazemos, fizemos e faremos. Do mesmo modo que ele está sendo julgado por minha consciência, eu também sou julgado. Nos pratos da balança ele está em um e eu em outro. Cabe a mim como Pai, educar, orientar, disciplinar... cabe a ele como filho ser obediente. Da mesma forma que ele deve obediência a mim como seu pai, eu também devo obediência a Deus como meu Pai. Hoje vivo sozinho, sem ninguém a conviver ao meu lado. Não é porque eu quero, é porque o Pai me deu uma missão que se a cumpro integralmente como procuro fazer essa é uma consequência. Por acaso eu não fico a meditar que viveria muito mais confortável na convivência dos meus três primeiros filhos e com a minha primeira esposa, se não tivesse assumido essa vontade de Deus na minha consciência de aplica o Amor Incondicional na minha vida como um modelo para meus irmãos e um protótipo do Reino de Deus? Não estaria agora envolvido em toda essa confusão, nessa onda de ódio ao meu redor, de intolerância, de desprezo, de repulsa até! Isso faz bem ao meu coração? Claro que não! Eu poderia viver em paz e fidelidade com minha primeira esposa, da forma que ela queria e que a cultura defende, mas resolvi atender ao apelo do Pai! Agora, o meu filho não quer atender aos meus apelos, a minha autoridade de pai... Nem falo do reconhecimento de vontade de Deus, nosso Pai comum, em minha consciência. A minha consciência diz para eu o advertir com vigor, que eu tenho a responsabilidade enquanto pai e enquanto mantenho a sua subsistência. Vejo os seus pensamentos entranhados por caminhos muito diferentes daqueles que existem em minha mente e que foi por causa desses pensamentos que ele passou a existir. Se eu não tivesse aceito o Amor Incondicional como foco da minha vida como o Pai sugeriu, eu não teria quebrado a exclusividade do meu amor com minha primeira esposa, não teria incluído a mãe dele em meu coração, ele não teria surgido da união dos nossos corpos. Então, ele é criatura destes pensamentos que tantos pensam ser imorais, que ele agora pensa da mesma forma, e que eu não mereço por isso a sua consideração. Aqui está o nó da questão: posso dizer ao meu filho, “tu és inocente?”
25 Vejo que é chegado o momento de repreensão. O que devo repreender de mim? De ter cumprido a vontade do Pai? Jamais! Não vejo nisso culpa, e sim obediência, por mais que eu me sinta prejudicado na falta do conforto e compreensão dos parentes que eu poderia ter e não tenho da forma ampla como desejo. Tenho que me repreender na forma que deixei ser conduzida a minha vida com este meu filho que hoje sofre e que não dei a devida veemência nesse aspecto central da minha vida, de mostrar que eu jamais iria viver como uma família padrão neste mundo, pois esta não era a vontade de Deus para mim. Deveria ter sido muito mais explicito, mas com medo de ser expulso como terminou acontecendo, eu não fiz isso. É uma falha grande, minha, perante o Pai. Mesmo eu sabendo que em nenhum momento eu deixo ninguém que convive ao meu lado enganado ou sem saber da forma dos meus pensamentos, eu deveria ter tido a sabedoria de avaliar se a convivência estava sendo saudável ou não e de forma pacífica ter assumido a minha solidão, não ter ficado refém do medo e mantido uma situação que terminou por gerar tanta raiva nos corações que eu tinha por dever educar na harmonia. Não tenho, Pai, que repreender ninguém! É a mim mesmo que trago todas as repreensões, pois apesar de ser honesto e transparente em minhas ações, não soube bem avaliar o coração do meu próximo, o que ele podia suportar, ensinar o máximo que eu pudesse dessa missão que Vós me destes. Agora estou na solidão, o que eu tinha medo de acontecer, e com os corações destroçados das pessoas que amo e que eu não tive a competência de evitar!
26 Espero ter extraído do fundo do meu coração os motivos justos dessa repreensão... espero Teu beijo em meus pensamentos!
27 Este conselho é muito prático. Tenho muita tarefa fora para fazer, tenho que me preparar psicológica e tecnicamente, tenho que organizar todos os trabalhos que estão sendo conduzidos e em planejamento. Fiquei o domingo todo no meu apartamento, sozinho, com essa incumbência. Depois edificarei a minha habitação e já sinto que estou fazendo isso, não só a habitação material para dar repouso ao corpo, e sim, muito mais a habitação vibracional dentro d harmonia do amor incondicional onde tenho a colaboração do Mestre Jesus e todos seus apóstolos e discípulos assim como a bênção do Pai.
28 Este é um caso delicado, de ser testemunha contra meu próximo, pois posso ser imperfeito, como na realidade sou. Não posso também dizer ao culpado que ele é inocente, mas como chegar a esse ponto? De chegar a um julgamento perfeito ao dizer que o meu próximo é culpado? Prefiro ficar calado, colocar os meus argumentos e deixar que a lei de Deus também se manifeste em sua consciência.
29 Já estou convicto que não farei o mal em troca do mal que me fizerem. Jamais pagarei com ódio, o ódio que me atingirem; jamais pagarei com raiva as maledicências que me jogarem; jamais deixarei de amar, a voz perversa que me amaldiçoar... Procurarei chegar o mais perto do Mestre que me ensinou com o Seu exemplo: Pai perdoa-os, pois não sabem o que fazem!
É impressionante quando estamos sintonizados com Deus, como Ele fala conosco e nos aconselha nos momentos mais difíceis, às vezes sem nem ao menos pedir qualquer ajuda a Ele. Mas Ele está sempre atento, sabe que não pedimos, não é porque somos arrogantes, mas que nos perdemos no caminho e ficamos um tanto atordoados em prosseguir.
Há três anos estou afastado do meu filho, no seu modo de pensar, ele acredita que deva se comportar assim comigo. Eu sempre fico a tentar uma aproximação com ele, mas ele sempre se afasta. Ontem foi o aniversário dele e quando tudo parecia que ia haver a aproximação, na última hora ele recua e volta para o seu mundo de isolamento. Não quero usar a força da lei humana, apesar de saber que tenho esse direito, mas prefiro me guiar pela lei do amor. Mas ele parece tão irredutível que fico preocupado na persistência desse comportamento e o quanto isso pode ser nocivo para ele. No tumulto dos meus pensamentos, sem encontrar uma saída que eu me sinta seguro, em recuperar o seu coração, que de alguma forma foi avariado e devido ao meu comportamento, fico tentando encontrar uma solução... Não lembrei de conversar com Deus, com o nosso Pai, tenho esse péssimo mal costume de me esquecer tantas vezes dEle, até mesmo em situações como essa em que eu me sinto enrascado. Mas Ele não se esquece de mim, e conversou comigo através do filme que eu coloquei para terminar de assistir: A FAMÍLIA SAGRADA. Tem um momento do filme onde passa uma cena entre Maria e José, quando mais uma vez Jose é expulso da sua própria casa, devido a intolerância dos filhos, do irmão, das pessoas que ele tanto ama. Maria compreende melhor que ele o que sucede, e acata a expulsão sofrida devido ao coração duro dos parentes, e se faz o seguinte diálogo:
Maria (desolada ao ver o aspecto triste de José) – O que você tem, José?
José – Sempre somos os estrangeiros. Mesmo na nossa casa. Eu esperava que o Giacomo (seu filho mais velho) tivesse se tornado um homem.
Maria – Você deve procurar entendê-lo. Está amargurado. Quando ele precisava da sua ajuda, você estava longe.
José – Precisava pensar em vocês dois (eles haviam fugido para o Egito para escapar da ameaça de Herodes sobre Jesus). O que eu deveria ter feito?
Maria – Não poderia ter feito outra coisa. Deus nos deu uma provação para nos testar. E Giacomo não sabe. Ele não pode saber. É você quem deve procurar entendê-lo. SEJA HUMILDE, JOSÉ!
José cala, olha nos olhos de Maria, dá um pequeno sorriso, apaga a luz.
Não poderia ser mais preciso esse diálogo. Foi automático em associá-lo a minha atual conjuntura de vida. Também vivo sendo expulso por pessoas que amo devido a minha forma de agir. Até o meu filho! Maria usa para mim as palavras que Deus quer que eu escute: Você deve procurar entendê-lo. Ele está amargurado. Quando ele precisava de seu apoio, você estava longe. Mas você não poderia ter feito outra coisa. Você está sendo provado. É você quem deve procurar entendê-lo e não ele a você. SEJA HUMILDE, FRANCISCO!