Muitas vezes nos encontramos frente a uma difícil tarefa a realizar. Podemos até não acreditar ser isso possível, podemos sofrer chacotas, humilhações... podemos sofrer os diversos tipos de oposição a essa tarefa, até mesmo dos familiares, dos nossos entes mais queridos. É aí que o profeta Neemias nos deixa sábias recomendações. Primeiramente ele nos diz: “oramos ao nosso Deus...”. Esta é a primeira coisa a fazer em tais momentos. Buscar a aprovação de Deus. Não adianta reclamar dos opositores, isso não ajuda. É melhor recorrer ao nosso Deus, pois é Ele que nos dará forças para seguirmos adiante com nossa tarefa, se for da vontade dEle. Além de orar, precisamos agir e fazer a nossa parte. Apesar dos problemas não devemos desviar do foco e fazer tudo que seja possível para cumprir a tarefa. Neemias ainda dá uma palavra de ânimo aos trabalhadores da seara, dizendo que se lembrassem do Senhor e que lutassem por suas famílias e casas. (Ne 4,9-14).
Reconheço a sabedoria das considerações de Neemias. Sei do propósito que Deus quer da minha vida, pela consciência da missão que Ele colocou na minha mente. Sei que isso vai de encontro a muitos interesses existentes no mundo material e que se levantam a cada momento diversos obstáculos à minha frente. Quando fico muito sofrido, confuso, fraco, peço em oração forças para suportar o peso das admoestações que recebo, das críticas, acusações, ameaças... peço também a sabedoria necessária para fazer exclusivamente à Sua vontade e deixar a minha sempre em segundo plano, para que eu tenha o correto discernimento do caminho, que não seja influenciado para entrar em atalhos que levem para longe da Sua vontade. Dessa forma vou avançando no caminho e agradeço também ao Pai pelas pessoas que Ele coloca ao meu lado, mais próximos ou mais distantes, que me ajudam na caminhada, que me oferecem lições para o meu crescimento pessoal, minha reforma íntima. Peço ao Pai em especial por essas pessoas, que também sofrem como eu e talvez até mais do que eu, as hostilidades do mundo material que é cego aos princípios do mundo espiritual. Que sigamos todos os conselhos de Neemias: sempre falar com o Pai em orações e meditações para sempre ter ao nosso lado o Seu apoio e nas nossas mentes a convicção do que Ele quer que façamos.
Um dos jornais de Natal, “Novo Jornal”, em sua edição de 04-09-12, trouxe uma matéria sobre a nova família potiguar. Apresentava os seguintes números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE/2010:
NO RIO GRANDE DO NORTE –
899.513 – Famílias
58,0% fogem do padrão de família tradicional
26,7% são famílias estendidas
NO BRASIL
57,3 milhões de famílias
59,0% fogem do padrão de família tradicional
19,0% são famílias estendidas
O Instituto considera como família estendida uma configuração formada ao menos por uma pessoa e outro parente que não filho ou pais. A grande maioria das famílias estendidas, no entanto, é formada por casais com filhos e outro parente agregado; mulher separada com filhos e outro parente; casal sem filhos e outro parente; e homem com filhos e outro parente. Também pode ser considerada de “outros tipos” o caso de três primas que dividem um apartamento em bairro de Natal, que foi o motivo da matéria.
Quero ressaltar nessa matéria a tendência que existe no país, e acredito no mundo de forma geral e respeitando as exceções, da tendência à fraternidade e à liberdade. Com isso o modelo de família tradicional perde majoritariamente as suas características fechadas da família nuclear. No entanto, não perde a base do amor exclusivo que permeia todos os seus entes, que tem origem no amor romântico, exclusivista, condicional, que proporcionou a ligação intima, legal e exclusivista do casal. Identifico essa conjuntura como um ninho de egoísmo onde a parentela se protege sob o manto do amor exclusivo para limitar a expansão do amor incondicional na comunidade e, pior que isso, desviar recursos da economia coletiva para o clã familiar, mesmo com o aparato legal, em detrimento dos demais indivíduos.
Vejo dessa forma que o Reino de Deus, baseado numa comunidade permeada pelo amor incondicional, jamais irá existir estruturada no amor exclusivista. A família preparada para servir de célula comunitária para o Reino de Deus não pode limitar, cercear ou bloquear o livre fluxo do amor incondicional. O casal cujos membros se aproximem um do outro, mesmo que motivados pela força instintiva do amor romântico, deverá estar sempre consciente, de que a exclusividade que o amor romântico exige é um aspecto apenas pontual da evolução do relacionamento, que deve estar sempre subordinado às implicações do amor incondicional. Logo que os parceiros se afastem um do outro e entrem nos relacionamentos mais diversos com outros entes da comunidade, existe a possibilidade que não deve ser repudiada, de um novo relacionamento que obedece as diretrizes do amor incondicional e que pode atingir o nível da intimidade sexual. Nesse ponto surge uma nova configuração familiar, que não é a tradicional, a nuclear, não é a estendida que pode incluir outros membros da família, parentes. Agora são outras pessoas que atingem o núcleo do relacionamento e a família se torna ampliada com um potencial bem maior de integração. É esta família ampliada que sendo construída dessa forma, sempre obedecendo às diretrizes do amor incondicional irá tecendo a macroestrutura da família universal, aquela que Jesus defendia a existência e que poderíamos a construir a partir da reforma que fizéssemos na comunidade, a partir de nossa própria intimidade – a Reforma Íntima!
O apóstolo Thomé diz que existe no íntimo de cada ser humano uma Centelha Divina que registra automaticamente, independentemente da vontade ou esforço de cada um, todos os atos e atitudes praticados pelo ser, cujas reações nessa Centelha tem de se harmonizar com esses atos e atitudes. Assim, todo aquele que pratica uma ação louvável, meritória, para com o próximo, aviva a luz dessa Centelha e isto lhe acarreta uma satisfação íntima, um certo bem estar que redundará num sentimento de felicidade. Não foi o Pai Celestial quem concedeu essa felicidade. Tal sentimento decorre do avivamento de sua própria Centelha, em virtude do bom ato que praticou. Se, ao contrário, o ato tiver sido mau, empalidecerá a sua luz interna que é a centelha divina. Com isso deixou de enxergar, provavelmente, um caminho justo, e veio a sofrer alguma decepção ou enfermidade da qual não conseguiu livrar-se. Nessa hipótese, igualmente, não houve interferência do Pai Celestial, que nem tomou conhecimento do fato. A cada um segundo as suas obras, é a parábola de Jesus, a ninguém se podendo culpar quando as consequências forem contrárias aos desejos de cada um.
Concordo com Thomé e acredito que já sinta esses efeitos em minhas ações, no meu comportamento. Procuro sempre fazer ações positivas e quando isso acontece me sinto bem, iluminado, minha centelha foi avivada. No entanto, quando por descuido ou invigilância pratico algo que minha consciência acusa como errado, sinto também o apagamento da Centelha Divina. Da mesma forma acontece quando os pecados são ativados no comportamento, no meu caso a gula e a preguiça. Como são forças cristalizadas ao longo do tempo, cujo controle é difícil realizar de forma completa, consigo apenas vitórias parciais, na quantidade e na qualidade dos alimentos, por exemplo. Isso funciona como uma sombra na minha Centelha Divina. Vejo essa como o ícone das dificuldades. É um pecado que enfrento e venço em alguns momentos com a força do jejum, outras vezes com as lições de Ramatis, mas logo ela volta e se faz presente. Convivo com essa sombra na minha luz, sei que não é das piores, mas que devo sempre procurar uma forma de libertação.
Enquanto filho de Deus e discípulo de Jesus, aprendo a cada momento que meu relacionamento com Deus é constante, através da própria natureza. Tenho contato com Ele a qualquer instante, converso com Ele através da prece e escuto suas orientações através da meditação. Mas é esse contato direto com Ele através dos diversos aspectos da Natureza, o grande fator de aprendizagem e também de aferição dos conhecimentos e capacidade prática de exercê-los. O mais forte fator dessa aprendizagem é com os seres humanos, tantos os íntimos, quanto os próximos, quanto os distantes. Todos são os melhores representantes de Deus dentro na Natureza, tem os sentimentos, emoções, inteligência bem desenvolvidos e o livre arbítrio que é o bem mais precioso. Portanto fazer o bem ao semelhante é fazer o bem ao próprio Deus e por isso é a principal Lei e está associada ao próprio amor à Deus. Mas ao lado de fazermos o bem ou o mal ao semelhante, está também o fato de sermos alvo desse bem ou desse mal por parte deles. Tenho essa compreensão e cada vez mais procuro aprimorar minha capacidade de fazer o bem ao semelhante e compreender as lições que o semelhante me dirige. Geralmente são os reflexos do bem que pratico, mas algumas vezes esse bem não é tão bem entendido, pelo contrário, pode até parecer um mal para quem tem uma outra compreensão e dessa forma eu sou atingido de forma muito dura. Mas tenho a compreensão do porque isso acontece e justifico na consciência esses atos e procuro sempre manter o nível de amor por esses que me atacam dessa forma e procuro uma forma de levar à melhor compreensão dos atos que são praticados. Algumas vezes me deparo com pessoas que não tenho conhecimento e me advertem de forma dura para erros que estou praticando. Foi assim que aconteceu no estacionamento com o cachorrinho que sempre deixo correr por todas as áreas do condomínio, mesmo sabendo que existe uma convenção proibindo esses atos. Um dos moradores me advertiu com severidade do erro que eu estava cometendo, do abuso as normas do prédio. De repente o ego se inflama e quer reagir com agressividade e tentar desqualificar o meu interlocutor. Mas o meu espírito está atento, reconhece a verdade daquelas palavras, mesmo que sejam duras e que são ditas por um semelhante de Deus como eu também sou. O espírito força ao meu raciocínio animal que quer logo partir para o confronto, que ali esta a Voz de Deus, que o erro existe e eu tenho conhecimento, que devo aceitar a lição e corrigir o meu comportamento. É isso que eu pretendo fazer com quem está cometendo erros de outras espécies, também me portando como representante de Deus e sendo a sua voz, e portanto, por que não devo aceitar a mesma oferta de ensino proporcionada por um irmão? Mesmo que ele não tenha a delicadeza que eu possuo para dar minhas lições, mas também não existe um professor igual ao outro. Também serve como lição saber tolerar com paciência e compreensão essa forma de expressar o pensamento e as queixas. Agradeci ao queixoso a advertência que ele me fez, não com tanto carinho e sincero agradecimento como eu poderia ter feito, ainda saiu o agradecimento contaminado pelo incêndio que o Ego logo provocou na minha consciência. Agradeci também ao Pai a lição que Ele me proporcionou, a domesticar os meus instintos animais, a corrigir meus erros comportamentais, a domesticar o meu Ego, através da voz que Ele emprestou a um dos meus irmãos.
Dom Paulo Evaristo Arns dizia que “para o cristão, o mundo não existe para ser possuído, mas para ser descoberto, acolhido, transformado, compartilhado.”
Existe o mundo externo e o interno, com referência ao nosso próprio ser. O mundo interno tem a prioridade de ser descoberto, acolhido, transformado e compartilhado. O passo seguinte é transferir as conquistas que fizermos no mundo íntimo para o mundo externo, o mundo dos relacionamentos humanos, principalmente.
O divino mestre, Jesus Cristo, fez uma tarefa magnífica para essa compreensão com a divulgação teórica e prática do Evangelho. Já temos alunos magníficos, bem aplicados nessas lições evangélicas, como temos diversas personalidades, principalmente os santos, entre eles São Francisco e Santa Clara, ambos de Assis, que abandonam ou deixam em segundo plano o mundo material e se dedicam aos valores espirituais. O interesse central é Deus, como criador de toda a Natureza se confundindo com ela e com o amor que a tudo inclui no processo de evolução constante.
Eu tenho com clareza toda essa dinâmica evolutiva, já avancei bastante no trabalho espiritual com o mundo interno e agora assumo a ordem divina de partir para os relacionamentos e colocar no mundo externo as conquistas do mundo interno e assim colaborar para a estruturação do Reino de Deus. Muitas vezes sinto o peso dessa responsabilidade, quando a preguiça me domina, quando a gula se torna prioridade... vejo quanto sou ainda frágil e não compreendo porque Ele coloca em meus ombros tamanha responsabilidade. Nem mesmo na parte cognitiva que considero bem avançada no meu aparelho psíquico, eu consigo encontrar as palavras certas e sensibilizar minhas companheiras, principalmente, da necessidade fundamental, sine qua non, da transformação do mundo interno e de ter força suficiente para fazer com que essas transformações sejam expressas nas ações.
Porisso peço com prioridade e urgência ao Pai, força, coragem e sabedoria para que eu possa colocar em prática à Sua vontade e espero ser atendido, pois muito mais do que a fé que Ele tem em mim, eu tenho muito mais fé nEle!