Hoje é o dia dos Pais, segundo domingo de agosto e todos devíamos voltar o pensamento para Deus e agradecer por nossa vida e O reconhecer como o Pai primordial. Pelo menos neste dia devíamos ter a consciência de Deus em nossos processos cognitivos. Procuro desenvolver essa consciência de Deus no cotidiano, nas ações que pratico em meu entorno. Procuro entender a Natureza como a corporificação de Deus e assim, enquanto sou parte da Natureza, também sou parte integrante do Supremo. O meu treinamento em fisiologia humana facilita essa compreensão de Deus como a totalidade e que devo cuidar bem de tudo ao meu redor para a Sua satisfação. As partes do corpo também trabalham para a satisfação do corpo todo. Os membros do corpo não agem para a própria satisfação, mas sim para a satisfação do todo completo. Assim, eu devo agir para a satisfação de Deus, do todo e sem nenhum interesse pessoal. Isso é bastante difícil do ponto de vista material. O corpo procura por seus prazeres até mesmo para se preservar no tempo e no espaço. Existem sistemas de prazer inseridos na neurologia, que presenteia a pessoa pelos atos que faz. Um dos mais fortes é o orgasmo sexual. É o prazer máximo que se obtém durante o ato sexual e que serve para a reprodução dos corpos. Como oferecer tamanha sensação corporal ao Deus que a tudo permeia? Da mesma forma são os sofrimentos. Tanto a dor e o prazer eu devo sentir, mas com a compreensão de que este é um relacionamento como Deus, com o todo e que se isso não é uma ação conveniente, de alguma forma a expressão do todo se manifesta na parte, a expressão de Deus se manifesta em mim. É claro, essa consciência não é assim tão fácil de adquirir. Logo que minha atenção relaxa, o pensamento se volta para os interesses corporais. É costume se presentear o aniversariante e como hoje é o dia dos pais, e como não tenho mais pais biológicos, vou concentrar todo a minha capacidade de doação ao Pai primordial e oferecer o presente de sempre O ter em minha consciência, pelo menos na intenção do que quero fazer.
Seguindo ainda na leitura das Fontes Franciscanas, o próximo texto, de número IX dizia o seguinte: “Diz o Senhor: amai vossos inimigos [fazei o bem àqueles que vos odeiam, e orai por aqueles que vos perseguem e caluniam] (Mt 5,44).
Ama verdadeiramente ao seu inimigo quem não se lamenta por causa da injúria que lhe faz, mas, por amor de Deus por causa do pecado de sua própria alma. E mostra-lhe por obras o amor.”
Esta lição parece querer me ensinar o que estava a pedir no texto anterior deste blog. Fala de amar aos inimigos e isso eu também já cumpro com desenvoltura. Agora as pessoas que são vítimas da inveja e do ciúme são as que precisam colocar em prática a lição de amar ao adversário. Tenho de ter competência para chegar perto de cada uma delas que está acometida pelos efeitos dos dois adversários inveja e ciúme e falar amor aos adversários. São vistas como pessoas adversárias aquelas que de alguma forma competem pelo mesmo objetivo. Então, se cada uma amar a esse adversário, a inveja e o ciúme não terão mais espaço para se manifestarem. Cada uma também se capacitará para a construção do Reino de Deus, não olhará para a outra pessoa como um adversário e sim como um companheiro de jornada. A questão que se impõe para mim, é como fazer com que essa lição alcance o coração de cada uma. Sou testemunha do empenho de cada uma em aprender essa lição do amor aos adversários, mas quando se depara com qualquer teste de enfrentamento, sempre a inveja e o ciúme estão vencendo. Aí é que está o problema. Como falar então desse amor incondicional se essas pessoas já sabem de tudo isso, só não conseguem colocar em prática?
Fiz uma leitura das Fontes Franciscanas e lá encontrei o seguinte texto no item VIII – Evitar o pecado da inveja. “Todo aquele que inveja seu irmão, por causa do bem que o Senhor diz e faz nele, pertence ao pecado da blasfêmia, porque inveja o próprio altíssimo que diz e faz todo o bem.”
No momento que estava fazendo essa leitura, o lápis que costumo fazer anotações e destacar trechos da leitura, caiu dentro de uma cadeira articulada e a minha mão não podia o alcançar. Fiz o maior empenho em o resgatar mexendo com a cadeira de todas as formas, apesar do peso dela. Queria escrever com ele, apesar de ter outros lápis à minha disposição.
Fiz então uma reflexão sobre isso. Será que não é uma lição para que eu também tente resgatar as pessoas que caem no abismo das emoções e que convivem comigo, que correm o perigo de se perderem por outros caminhos como já aconteceu. Se Deus quer que elas façam um papel ao meu lado, então eu devo ir em busca dos seus resgates e assim Deus pode escrever com nossas vidas, como se fôssemos lápis humanos em Suas mãos.
Voltei a atenção para o texto que estava lendo. Falava da inveja que junto com o ciúme são fortes adversários de nossa alma. As pessoas queridas que convivem comigo são muito frágeis nesse aspecto. Vejo com clareza a queda de cada uma quando enfrentam esses adversários. Como podemos ser vitoriosos na construção do Reino de Deus se esses adversários continuam a ter tanta força sobre nós? Falo assim de forma genérica e sem nenhuma modéstia digo que esses adversários já foram combatidos e vencidos por mim. A inveja e o ciúme não provocam os seus efeitos maléficos na minha alma. Como ajudar as pessoas que ainda não atingiram esse estágio e continuam a sofrer tanto quando estão em seus domínios, da inveja e do ciúme? Nada posso fazer. Apenas sentir com o coração compassivo. Nada que eu falar irá ajudar, pelo contrário, pode até exacerbar o sofrimento pela pessoa não ouvir coisas que gostaria de ouvir.
Mas parece que eu também devo aprender alguma coisa nessas circunstâncias. O lápis que caiu dentro da cadeira e meu esforço de o alcançar parece sinalizar que eu devo fazer alguma ação para alcançar também essas pessoas e as resgatar para a luz. O “nada posso fazer” parece que não se aplica bem. Tenho que aprender a fazer esse resgate. Não sei como, mas pedirei ao Pai para que me ajude nessa empreitada, afinal estamos todos empenhados em construir o Seu Reino.
Tenho um bom conhecimento, reconheço sem modéstia, mas pergunto se tenho alguma sabedoria. A sabedoria de fazer a coisa certa, no momento certo, com as pessoas certas, com o conhecimento que se tem. O homem mais sábio que passou à história com essa classificação, foi Salomão. Mas ele não aprendeu essa sabedoria. Ele pediu a Deus como único benefício do qual queria ser atendido era ser sábio. Deus vendo que ele não tinha tanta ganância pelas coisas materiais, atendeu o seu pedido. A história registra fatos que dão testemunhos dessa sabedoria. Outros fatos, quanto a riqueza e o número de mulheres e concubinas que possuía, parece que hoje não seria classificado como sabedoria, pelo contrário, quem assim proceder é considerado como capitalista selvagem, crente fanático e homem “galinha”, tarado. Ou será que a sabedoria está submetida à cultura de um povo? Mas a sabedoria não teria essa capacidade, de descobrir dentro das normas sociais o que não é adequado para a harmonia individual e coletiva e procurar transformar essa tal situação?
Meu conhecimento me leva a assumir comportamento totalmente contrário à norma cultural, defendo a criação da família ampliada com base no amor inclusivo, como forma de atingir a família universal com base no amor incondicional. Agindo dessa forma estou em paz com minha consciência. Mas fica a dúvida: isso é sabedoria?
Tenho capacidade de obter os conhecimentos mais diversificados, mas estou colocando-os em prática salutar dentro da minha situação de vida? Não tenho ainda o hábito de fazer orações e sei que como Salomão intuiu, somente Deus é quem nos dá a sabedoria, que podemos assumir até um modo diferente de viver, baseado no que Deus deseja. Como eu preencho muitos detalhes da pessoa que é sábia, termino por concluir que sou portador de alguma sabedoria, que adquiri pela graça do Pai, a única que nos ajuda em situações em que nenhum entendimento ou tipo de sabedoria comum pode fazê-lo.
Somos animais gregários, destinados a viver em grupo. Com o avanço da consciência ficamos cada vez mais sofisticados, mas a necessidade gregária não desaparece. Pelo contrário, sentimos que precisamos realmente uns dos outros e que existe uma interdependência geral, mesmo que o indivíduo seja o maior individualista, que seja bem aquinhoado de bens materiais, mas sempre existirá sua dependência dos fazeres de outras pessoas.
Quando assumi o um paradigma de vida que encara os relacionamentos de forma tão diferente, percebi que minhas parceiras iriam ter a maior dificuldade de se adaptarem a essa situação. Cheguei até a pensar em viver em completa reclusão, isolado de todos, principalmente nas relações íntimas. Considero hoje que isso até pode acontecer, mas que enfraquecerá bastante a minha ideologia. Ficarei atuando apenas no campo teórico. Necessito da interação com outras pessoas, e no meu caso o plural se aplica muito bem. Se tenho a intenção de defender e praticar o amor inclusivo, que não exclua ninguém e que seu único limite seja a recusa ou a inconveniência do fato, é uma condição necessária a presença ativa de outras pessoas. Procuro assim criar um grupo de pessoas afins aos meus pensamentos e que todos atuem de forma harmônica e solidária defendendo os mesmos ideais. O caráter egoístico que todos possuímos é o nosso principal alvo de combate. Temos que aprender a viver em grupo e colaborar fraternalmente com todos. Jesus poderia com seu poder, fazer tudo sozinho, mas preferiu escolher um grupo para o ajudar em sua missão. Com isso nos ensinou que devemos trabalhar em equipe, e para que isso seja possível é necessário união. Até agora não tenho tido muito sucesso na formação desse grupo que atue unido, harmônico e fraterno em torno do ideal do amor inclusivo, incondicional. Tenho muito sucesso com cada uma pessoa individualmente, até agora todas que me envolvi na intimidade procuravam me isolar de todas as outras, queriam me ter com exclusividade. Até se tornavam iradas e revoltadas quando percebiam que não conseguiriam seus objetivos, que eu jamais me afastarei de uma conduta que entendo ser aquela que Jesus nos ensinou como forma de fazer a sociedade que o Pai deseja para todos, que assim possamos vencer o tradicional egoísmo que impera em todos os tempos, em todas as sociedades.