Nas suas orações, Teilhard de Chardin dizia o seguinte: “Meu Deus, fazei brilhar para mim, na vida do outro, o vosso rosto. Essa luz irresistível do vosso olhar, acesa no fundo das coisas, já me lançou em toda a obra a empreender e em todo o trabalho a sofrer. Concedei-me o favor de vos ver, mesmo e sobretudo, no mais íntimo, no mais perfeito, no mais remoto da alma dos meus irmãos.”
Esta é uma profunda e magnífica relação de uma pessoa com o Criador. A luz irresistível do olhar de Deus que nos impulsiona para o trabalho em sua seara, corresponde ao sentido de missão que eu tenho na consciência, da obra que tenho de empreender depois de toda a capacitação acadêmica e espiritual que o Pai me proporcionou. A lição principal que Jesus nos deixou, de amar ao próximo como a nós mesmos, também é ressaltado no pedido de ver na alma dos irmãos o reflexo do Criador. É essa prática que devemos usar no nosso cotidiano como um mantra para qualquer ocasião. Assim espantaremos da consciência que a qualquer momento e muitas vezes sem quaisquer razões queremos desenvolver por alguém. Não devemos fazer escolhas ou deixar que a condição social ou atributos naturais exerçam influência em nossa decisão de amar. Sei que existem condições que naturalmente fazem a atração do nosso espírito em direção ao outro, as vezes são os atributos da carne que geram os desejos e as aproximações. Devemos saber lidar com tudo isso, deixar que esses impulsos instintivos dos desejos da carne venham até a consciência, mas que eles sirvam para despertar em nossos corações a vitalidade do amor incondicional e acima de qualquer atributo carnal, que o reflexo de Deus se faça presente no semblante do próximo, qualquer que seja sua condição natural ou social.
Interessante, adquiri a consciência da dimensão de Deus que está acima da minha limitada compreensão, sei que minha reduzida inteligência jamais alcançará a totalidade de Deus. Sei que Ele se expande muito além da expansão do Universo e que também permanece imanente em cada ato de sua criação. Com tanta responsabilidade na criação e administração dos mundos criaturas ainda espero que Deus tenha a disposição de voltar sua atenção para cada uma das suas criaturas e fale a respeito de suas necessidades, que acolha os seus sofrimentos. Não espero que venha uma voz tonitruante do céu e diga em português corrente o que preciso ouvir. Claro, não vou ser tão exigente, minha fé não chega a esse nível. Mas fico atento ao que acontece ao redor, pois sei que se Deus está presente em tudo, tem consciência de tudo, certamente Ele sabe dos meus desejos, necessidades e até dos pedidos que penso em fazer antes de realizar à minha fala ou minha oração. Tenho visto exemplo disso ocorrer, não somente comigo, mas também em pessoas próximas, principalmente pessoas que como eu, acreditam nele e espera que isso aconteça.Também Ele não esquece dos ateus, acontece que esses acreditam que não tem Pai e portanto nada do que escutem, por mais pertinência que tenha em suas vidas, jamais irá imaginar que aquela é a mensagem de Deus dita por qualquer que seja o canal. Confesso que vivo hoje muito mais confortável que no passado, quando não tinha essa compreensão. Procuro resolver todos os meus problemas, mas aprendi que não posso ser orgulhoso, que nem tudo posso resolver sozinho e quando a dificuldade ultrapassar os meus limites de competência, não tenho vergonha de olhar ao redor com atenção em busca de sua palavra. Caso não seja tão fácil encontrar a Sua voz, posso procurar qualquer um templo divino que se propõe a ser a sua casa. Com certeza o sacerdote daquela religião será intuído com mais facilidade para dizer as palavras certas para as minhas necessidades.
Acredito em Deus, acredito que Ele nos colocou a cada ser existente e/ou vivente com um determinado potencial para cumprir os seus objetivos. Acredito que o nosso Livre Arbítrio, quando contaminados pela arrogância do mundo material, pode perder essa sintonia com Ele, pode perder o sentido de nossa missão. Acredito que eu já tenha ultrapassado essa faixa de perigo, quando a matéria exerce em nossa mente tão forte fascínio, associado aos prazeres da carne. Hoje estou convicto da minha filiação divina e do projeto que o Pai colocou em minha consciência. Dessa maneira eu consigo elaborar um mapa cognitivo de ações que devo realizar, um caminho que minha inteligência consegue vislumbrar com certa previsão. Além de ser uma previsão de curto alcance, mesmo assim está sujeita a constantes correções, pois o que prevalece são os caminhos de Deus e não os nossos. Hoje senti essa mudança acontecendo e prestes a tomar outro rumo que ate aqui eu ignorava. O amor surge e exige coerência. Um dia houve a aproximação dos corpos, o desejo da posse, a explosão da paixão. Tudo era permitido, as distâncias vencidas, os limites ultrapassados. A senha era o amor, o desejo, a paixão. Hoje o tempo fez sua ação, arrefeceu o desejo, extinguiu a paixão, envelheceu os corpos... mas o amor persiste provando com o aval do tempo que ele é eterno, que jamais esquece. Agora vai ser feito outra maratona, de vencer distâncias, de ultrapassar limites, não mais com o interesse de atender os desejos da carne, mas de implementar a ajuda solidária, o amor incondicional com todo o potencial de influir no circulo de relações que está mais próximo dela, de procurar levar a harmonia, a compreensão, o sentido de segurança. Abre-se assim todo um novo caminho, dessa vez eu sei que não premeditei nada disso, mas tudo foi colocado ao meu alcance e exigindo a coerência da minha consciência. São os caminhos de Deus se descortinando e colocando em prova a firmeza de convicção de minha alma. Sim, meu Pai, vejo Seus caminhos e a eles me integro.
Já dizia Dostoievski que “uma causa justa não deixa de sê-lo por causa de alguns erros”. Essa frase serve de alívio para a minha consciência, quando percebo alguns erros que cometi no passado em função da causa que entendo ser justa, até hoje. A causa do amor inclusivo, não exclusivo, da família ampliada como mais importante que a nuclear. Porem no decorrer do tempo, na aplicação prática do pensamento, alguns erros foram cometidos, mas que não alteraram a essência do pensamento. Mesmo com toda a pressão que termina existindo sobre aqueles que desenvolvem um pensamento que desvia da norma cultural, a convicção do que é certo, de que a causa é justa, deve manter a pessoa intimorata no rumo que sua consciência aponta. Esta é a minha rota, o meu caminho, o sentido da vida. Apesar de ficar sempre atento para uma possível falsidade de pensamento, de equívoco racional, procuro leituras diversificadas, o contato com diversas formas de pensar, principalmente de conteúdo espiritual, pois entendo ser o mundo de hierarquia superior ao material e que este deve se adaptar aos interesses daquele.
Ainda com respeito as reflexões do dia anterior, vou colocar aqui somente um aspecto dos muitos motivos geradores de decepções e mágoas na minha vida pregressa. Já reconheci que o maior erro foi a falta de diálogo para que os pensamentos pudessem ser avaliados a cada instante e assim evitasse construções fantasiosas nas nossas cabeças e também a abertura para que opiniões de terceiros pudessem ter força de desestabilizar a relação. Então vou abordar hoje somente o aspecto principal que motivou a expulsão da casa de minha primeira companheira.
Meu paradigma de vida era e ainda é a liberdade de amar, mas sem trocar quem quer que fosse, mesmo que estivesse sob forte paixão, pela minha companheira inicial. Mostrei isso a moça por quem estava apaixonado, que queria viver com ela e propus viver com as duas, já que a minha companheira eu não abandonaria. Ela mesmo estando apaixonada por mim, não aceitou a proposta. Naquele fim de semana fatídico, nós decidimos ficar juntos pela última vez. Saí de casa na sexta feira e ficamos hospedados em um hotel, para aproveitarmos o que seria nossos últimos momentos. A deixei na rodoviária e nos despedimos com lágrimas nos olhos, pois sabíamos que não iríamos mais nos encontrar. Fui para casa e encontrei minha companheira taciturna. Também eu não demonstrava muita alegria. Não procuramos conversar um com o outro. Somente agora ela veio me confessar que percebia que eu estava premeditando deixar a casa, pois percebia que eu me distanciava cada vez mais dela e das crianças. Ela na imaginava todo o meu esforço para vencer a paixão e permanecer a viver com ela, apesar de nosso relacionamento estar mais num nível fraterno. Eu não imaginava que ela se sentia abandonada, humilhada e mal-amada. Foi uma simples pergunta dela e a minha resposta honesta que deflagrou o processo de nossa separação.
- Voce estava com quem até agora?
- Com S.
Foi o necessário para ela explodir de raiva, me esbofetear no rosto e tirar toda minha roupa do armário e me mandar ir embora da sua casa. Nesse momento procurei ser empático com seus sentimentos, segurei o ardor que me subia no rosto, tentei controlar as lágrimas, juntei as roupas que ela jogava sobre a cama e fui embora para nunca mais voltar.
Acredito que se tivéssemos dialogado de forma tranquila e solidária um com o outro, eu jamais teria saído de casa, pelo menos naquele momento e por aquele motivo. Então essa foi a grande falha dentro da justa causa que eu já elaborava para meu comportamento. Não posso cometer o mesmo erro com quem quer que seja que se aproxime novamente de mim e queira compartilhar sua vida comigo.
Dessa forma, esse espaço de transparência é importante, pois posso colocar com toda a honestidade e de forma pública qual é o meu principal eixo de comportamento e como entendo e procuro praticar a forma de relacionamento:
DEFENDO O AMOR INCLUSIVO COMO PRINCIPAL EIXO NORTEADOR PARA O COMPORTAMENTO; QUE POSSAMOS NOS RELACIONAR COM QUANTAS PESSOAS SINTONIZEMOS AFETIVAMENTE E HAJA RECIPROCIDADE PARA VIABILIZAR A INTIMIDADE E ASSIM PROPOCIONARMOS UMA FAMÍLIA AMPLIADA, COMPARADA COM A FAMÍLIA NUCLEAR ONDE PREVALECE O AMOR EXCLUSIVO; ENTENDENDO QUE ASSIM ESTAMOS CUMPRINDO A LEI DO AMOR COM MAIS FIDEDIGNIDADE E QUE NOS APROXIMAMOS MELHOR DA FAMÍLIA UNIVERSAL, DO REINO DE DEUS!