Todos nós desenvolvemos planos para conduzir a nossa vida dentro dos paradigmas que acreditamos serem corretos. Mesmo com todo o cuidado de sermos pragmáticos e objetivos em nossos planos, sempre acontece alguma coisa que desvia de forma muitas vezes radical o nosso plano. Ontem em reunião com familiares, fiquei surpreendido com decepções e mágoas que causei ao longo do desenvolvimento dos meus projetos de vida. Fiquei a imaginar porque ocorrem coisas tão fortes, que impedem o desenvolvimento dos nossos projetos? Entendendo que somos pessoas honestas, tanto eu como aquelas que se relacionam comigo, se os planos também eram colocados com transparência, por que acontece o desenvolvimento de sentimentos tão negativos, como raiva, ódio, ressentimento, mágoa? Cheguei a uma conclusão que parece lógica, duas questões que se inter-relacionam: nossas deficiências pessoais e os planos de Deus. Por mais que queiramos ser honestos, agir com justiça e transparência, sempre alguma coisa acontece que foge do nosso controle. No meu caso identifico a deficiência, motivado pelo que ouvi ontem, como a falta de diálogo. Eu tinha um pensamento e comportamento, sofria porque queria ser fiel a ele como realmente estava sendo, de não abandonar nenhuma companheira minha por nenhuma pressão, mesmo que essa pressão fosse uma paixão avassaladora, como realmente foi. Mas a minha companheira tinha um outro raciocínio, que eu esta a desprezando sistematicamente. Sem a abertura do diálogo que pudesse ajustar a compreensão do que estava sendo feito, as emoções negativas foram sendo criadas e acumuladas até que chegou no nível da minha expulsão de casa. Algo que eu jamais faria, pois este não era o meu paradigma de vida, mas já que fui expulso, eu não tinha mais responsabilidade nessa decisão. Veio atender a paixão que eu sentia. Mudança drástica no plano de vida. Mas para Deus, tudo estava encaixando. A minhas dificuldades pessoais somadas as dificuldades de minha companheira levou a essa situação extrema, tudo de acordo com o nosso livre arbítrio. Deus colocou as condições de vida, de relacionamentos, onde nossas ações terminaram por fazer funcionar os planos de Deus e não os nossos. Sei que não devemos chorar sobre o leite derramado, mas acredito ser importante fazer um retrospecto, do ponto crítico que foi abordado ontem, que foi o ápice das decepções e mágoas, e disso tirar os devidos ensinamentos.
Não estou falando aqui do traje tradicional, das roupas e seus adereços. Estou falando do traje comportamental e sentimental com o que revestimos nosso espírito. Tendo origem no mundo animal, na biologia e todos os seus recursos instintivos de sobrevivência, nós humanos devemos nos despir dessa vestimenta sentimental e emocional o mais breve possível, para que o espírito possa desenvolver a nova vestimenta. Hoje temos conhecimento da realidade do mundo espiritual, do processo natural da reencarnação como forma de promoção da evolução dos espíritos. Diversos depoimentos e investigações científicas corroboram essa verdade, e parece até desnecessário ter que falar sempre de forma explicativa cada vez que abordamos o assunto. Ninguém faz isso com a força da gravidade, com as viagens planetárias, com o mundo dos fungos, vírus e bactérias. Já sabemos que é verdade e quem não acompanha o aprendizado dessas coisas termina ficando para trás, não é preciso que quem o saiba fique explicando vezes sem contas de sua veracidade.
Então, vivíamos envolvidos na vestimenta do homem velho, do homem animal, cheio de ira, de vingança, maledicência, maldade, indignação, violência, roubos, estupros, furtos, etc. Era a lei do mais forte, do mais astuto, e o fraco terminava sempre como massa de manobra dos poderosos, de escravos a soldados em defesa de interesses que não tinham nada a ver com o interesse propriamente dito deles. Foi necessário a vinda de um espírito de elevado padrão vibratório, considerando aqui o nosso ocidente, como Jesus Cristo, que ensinou todas essas verdades ligadas ao mundo espiritual e como fazer para nos deslocar do mundo animal para o mundo angelical. O primeiro passo seria justamente adquirir um novo traje, um traje conveniente para essa condição. Ele deu a lei do amor como a ferramenta de orientação para que isso pudesse ser implementado com todos os seus derivados: perdão, tolerância, solidariedade, humildade, justiça, verdade, etc. com esses novos princípios e sentimentos alinhavamos nosso novo traje e estamos prontos para evoluir dentro de outro padrão.
Sei que estou ainda na fase de mudança para adquirir esse novo traje. Sei que é difícil descartar todos esses sentimentos e emoções, pensamentos e ações que caracterizam o homem animal e que nos condicionamos a isso desde o nascimento. Mas conhecendo a verdade do que o Cristo falou, estou disposto a retirar “peça por peça” essa vestimenta antiga e assim me candidatar para ser um novo homem. Sei que o tempo para fazer isso não seja suficiente, afinal adquiri essa consciência tardiamente, mas tenho toda a eternidade pela frente, pois sei que a reencarnação é o mecanismo que nos dá essa oportunidade.
Ontem foi o dia da amizade, mas somente hoje tive a oportunidade de fazer a reflexão. É um dia apropriado para fazer contato com os amigos e lembrar de nossa condição recíproca. Não fiz isso com ninguém, apesar de ter recebido de algumas pessoas demonstração dessa amizade. É mais uma falha de minha personalidade, reconheço. Devo procurar ser mais sociável nas circunstâncias que requer a manifestação de alguma forma. Principalmente a amizade que reconheço ser um dos sentimentos mais nobres e que deve servir de esteio para todos os demais comportamentos.
Pensando assim, hoje a tarde quando voltava para casa, encontrei o cachorro que faz quadra num terreno vizinho ao meu condomínio. Já foi inamistoso comigo, quando eu passei por ele levando comigo o meu cãozinho um Shi-tsu. Dessa vez ele não apresentava hostilidade, pelo contrário abanava o rabo em busca de amizade. Apesar de temeroso aproximei minha mão de sua boca e ele fez apenas cheirar e lamber. Percebi que tinha feito amizade com o cão e que ele agora esperava uma recompensa. Vi como o mundo é cheio de oportunidades de fazermos amizade de todas as forma. No meu caso tenho facilidade de fazer isso, mas a dificuldade está na manutenção das amizades conquistadas. Peço agora desculpas a todos o meus amigos por não ter lembrado do meu estado de espírito com relação a eles e confirmar os meus laços de amizade.
Todos nós, por mais honestos que sejamos, precisamos guardar informações em nossa memória que a mais ninguém podemos dar acesso. Damos o nome a esse dispositivo de Caixa Preta, semelhante àquele do avião que somente é aberto quando acontece algum acidente. Por motivo de tratamento, quando estamos com dificuldades e precisamos de algum terapeuta que nos auxilie, essa Caixa Preta pode ser aberta voluntariamente para três profissionais: o padre, o médico e o psicólogo. Todos eles, por força de códigos de éticas de cada profissional, estão proibidos de divulgar o conteúdo dessas informações. Diferente do avião, quando acontece da morte do indivíduo, essa Caixa Preta também se perde, a não ser que a pessoa tenha interesse em guardar os registros por algum meio fora de sua memória. No meu caso tenho esse interesse. A minha vocação de pesquisador também se volta para o meu próprio comportamento e tenho interesse em deixar registrado tudo o que faço, tudo que acontece comigo, principalmente no que diz respeito aos relacionamentos. Então a minha Caixa Preta está registrada fora da minha memória e por ocasião da minha morte pode ser aberta com o meu consentimento, preservando sempre a individualidade das pessoas que confiaram a mim as suas intimidades. Não é que esteja guardando nenhuma informação mentirosa ou desonesta, nada do que está guardado foge daquilo que eu defendo publicamente. Somente as pessoas que se relacionam comigo é que estão preservadas. Nem mesmo eu tenho o direito de mostrar para a pessoa que se relaciona comigo no nível da intimidade, o que acontece com outras pessoas com relacionamento no mesmo nível. Acredito que com a evolução do tempo, do comportamento e das relações interpessoais, não haja mais essa necessidade de Caixa Preta para esses comportamentos íntimos, com a exposição dos sentimentos de amor recíprocos, pois nesse tempo deverá prevalecer o amor inclusivo, mais próximo do amor incondicional, quando essas confissões de amor, mais generalizadas, serão até mesmo incentivadas e elogiadas por quem o pratica.
Mas na atualidade, corro o risco da minha caixa preta ser devassada sem o meu consentimento e isso trazer constrangimento para todos os envolvidos. Tenho a responsabilidade da segurança desse dispositivo, sob pena de não ser digno da confiança de quem comigo se relaciona. Por outro lado, não posso ser hipócrita, o assunto que foi abordado ontem. Será que se eu tivesse oportunidade de ver a Caixa Preta de alguém que se relaciona comigo, sem a sua permissão, eu iria ver? Gostaria de ver confirmado com plena certeza tudo que ouvi dessa pessoa? Ter oportunidade de confirmar o seu comportamento? Eu iria saber com mais segurança em que terreno estaria pisando. A pessoa não iria saber mesmo que eu tive acesso à sua Caixa Preta. Com todas essas considerações, acredito que o meu critério ético iria permitir essa invasão. Eu não iria usar isso contra ninguém, seria uma forma de me proteger, de ter informações fora de qualquer dúvida. Uma pessoa para agir dessa forma estaria no nível daquelas pessoas do futuro, que considerariam essas informações como naturais e até incentivadas e elogiadas que acontecessem com relação ao nosso ser amada. Acredito que eu poderia ter esse perfil, eu poderia ser um fator positivo para todos os relacionamentos que eu descobrisse da pessoa que se relaciona intimamente comigo. Mas existe uma pessoa que pense no meu mesmo nível, que conviva ao meu lado, que acontecendo isso vá favorecer a todas pessoas que ela teve acesso as suas informações afetivas com relação a mim e as vezes em detrimento dela? Então, se a pessoa de posse dessas informações se torna revoltada ou indiferente, mas não construiu o bem a partir delas, então fez mal.
Concluindo, deverei ter o maior cuidado, pois a minha displicência pode destruir boas intenções.
Nosso desempenho na vida as vezes exige que tenhamos atividades contraditórias ao que pensamos, uma atividade que é classificada como politicamente correta. Corremos o risco de defender uma coisa na teoria e na prática fazer diferente. É o que Jesus identificou como hipócritas, os túmulos caiados. Era o comportamento da turba ávida por justiça no apedrejamento da pecadora adúltera, que quando forçados pela autoridade moral de Jesus a olharem para dentro de si, viram que não podiam jogar a primeira pedra, nenhum deles! Hoje temos um comportamento parecido quando estudamos os livros sagrados, a Bíblia principalmente. Existe no seu contexto uma série de observações quando as normas de conduta. Aceitamos que elas são justas e que devem ser cumpridas, principalmente aquelas que se relacionam com a lei do Amor. Defendemos na rua ou em casa a observância e cumprimento dessas leis. Mas temos a maior dificuldades em cumpri-las. O problema é quando a pessoa passa a julgar e condenar as outras pessoas devido essa inobservância. O caso ainda é pior quando o fato é realizado com consciência plena da pessoa, aí nesse caso a pessoa é classificada como hipócrita, o pior pecado de todos, pois foi a essas pessoas envolvidas na hipocrisia que Jesus foi contundentes nas suas admoestações. Mas existem as pessoas que tem esse comportamento hipócrita, mas não tem consciência do que fazem. Levam a Bíblia debaixo do braço como arma para suas opiniões e todas suas ações são catastróficas, exigindo que os outros cumpram o que pensam que é correto, julgando e condenando sem se colocar no lugar do outro, jejuando e comungando para que Deus atenda seus desejos mesmo sabendo que vai de encontro aos desejos do outro. Para essa pessoas sei que Deus tem mais tolerância, pois sofrem em demasia por aquilo que pensam estar fazendo correto. Não é como os verdadeiros hipócritas, que se locupletam com suas ações, que sentem prazer em ver as pessoas subjugadas por seu poder artificial. Também nós, que procuramos ser honestos e fazer da prática uma extensão da teoria, também temos nossas dificuldades. Assumimos atitudes muitas vezes distantes da prática cultural, impulsionados pela coerência da consciência, e não pela prática hipócrita que muitas vezes se torna cultural. Do meu ponto de vista, é a ação correta que devo implementar. Não importa que seja julgado e condenado por não expor um comportamento “politicamente correto”. Sei que faço o que é saudável aos olhos de Deus, pois sigo com honestidade o que é ensinado nos livros sagrados e não condeno ninguém, nem por aquilo que faço e outros não, como por aquilo que também não consigo fazer. Se ainda faço o que aqui estou criticando é porque estou classificado naqueles que são hipócritas de forma inconsciente, e então peço a Deus ajuda para que meus olhos sejam abertos e eu possa sair dessa ignorância que me torna um perverso.