Fui convidado pelo CRM para compor uma vistoria a ser realizada em Clínica Psiquiátrica, capitaneada pela juíza. Todos na Clínica são meus amigos, eles confiavam nessa amizade para não serem prejudicados como já foram, mais por viés político do que técnico. Na verdade a Clínica estava bem cuidada, com alguns aspectos a desejar, mas no conjunto apresentava uma boa alternativa de tratamento nessa área que é tão carente. Encontrei entre os encarnados uma jovem de vinte e poucos anos que se encontrava internada. Logo que me viu ela me reconheceu e fez aquela festa com a minha presença. Correu para junto de mim, me abraçou e dizia estar com saudade. Apresentou-me as suas amigas com euforia e evitou falar no motivo que a trouxe ali pela segunda vez, conforme ela havia dito. Depois da visita a juíza pediu que eu elaborasse um relatório e apresentasse ao CRM para que fosse enviado para ela.
Deixei a clínica a meditar na situação. Tantos espaços ociosos, de boa qualidade ali presentes, e logo adiante no Hospital João Machado, no Pronto Socorro, muitos pacientes a aguardarem vagas, até mesmo no chão, sem falar naqueles que desistem de um tratamento desse tipo e voltam para suas casas, com suas crises, com risco de vida, ou vão para as bocas de fumo e continuam a sua dependência. Pelo menos no que depender de mim, meu relatório será favorável.
Participo de uma reunião a cada quarta feira com a disposição de ajudar quem nos procura. Pode parecer que somos superior de alguma forma, pois quem nos procura já apresenta uma dificuldade para a qual quer a nossa ajuda. É importante que evitemos essa tendência a superioridade. Devemos entender que todos somos pessoas com dificuldades, com defeitos e que precisamos da ajuda mútua em todos os aspectos da vida. Muitas vezes podemos observar que a queixa ou dificuldade de quem nos procura é a mesma ou talvez pior de que aquela que possuímos. Daí a importância de sermos humildes, de procurar ver no outro um espelho para procurar também fazer a nossa auto-correção. Tenho observado que muita gente tem dificuldades com o uso abusivo de drogas. Procuro ajudar de diversas formas, mas sei que também tenho dificuldades em outras áreas, a alimentação por exemplo. Sei que preciso controlar a alimentação para não entrar em parâmetros patológicos de peso. Porém a maioria das vezes perco o controle da quantidade daquilo que eu pretendia ingerir. Então, as mesmas orientações que dou a quem me procura, também procuro aplicar no meu comportamento, pois o controle que aquele não consegue fazer, eu também não consegui obter de forma satisfatória. Dessa forma caminho pela vida com diversos espelhos ao meu alcance que ao mesmo tempo que procuro ajudar, recebo os benefícios de identificar em mim aquilo que também preciso controlar.
Desde o nascimento estamos a absorver ensinamento do ambiente e das pessoas à nossa volta. Concluímos todas as etapas das escolas formais e chega um ponto de emitirmos o amálgama que fizemos de toda a gama dos conhecimentos com o toque de nossa sensibilidade, dos critérios que adotamos como corretos. O ponto crítico é esse: qual é o momento de passar a fazer a emissão do nosso conhecimento se a pressão pela absorção de novas informações é sempre presente e crescente? Mas é importante que tenhamos o senso de saber qual é esse momento e evitar ficar sempre a navegar nas ondas da simples absorção. É um risco que se não o evitarmos, seremos considerados como parasitas do esforço coletivo, que tanto ofereceu para ser absorvido e eu tão pouco ou quase nada fiz de emissão para outros aproveitarem. Este é o dilema que eu me deparo no momento atual. Sei que tenho um cabedal de conhecimentos e que no seu amálgama com a minha forma de pensar, sinto que tenho uma forte colaboração a dar a coletividade. Porém o jorro de conhecimentos a ser absorvidos por mim ainda é muito forte e exerce uma forte atração. Hoje mesmo adquiri 15 livros, aproveitando uma promoção na livraria e títulos bastante interessantes. Pois aí está o desafio! Como fazer para ler tantos livros, muitos dos quais volumosos, tendo tanto trabalho profissional a realizar ao longo das 24 horas, o que me rouba até horas do sono? E onde fica a minha contribuição para a coletividade, o escrever de minhas elocubrações, da minha prática social, familiar, espiritual? Sei que tenho que dar esse basta, dar uma redefinição as minhas prioridades. O prazer de absorver conhecimento deve ser substituído pelo prazer de divulgar conhecimentos, principalmente os processados pelo meu psiquismo usando a matéria prima do pensamento coletivo. Espero breve neste blog poder dizer que finalmente mudei a polaridade, não será mais “absorver e emitir conhecimentos” e sim “emitir e absorver conhecimentos. O emitir terá então adquirido a prioridade no repertório de minhas ações.
Percebo que os ressentimentos são tipos de ervas daninhas que podem infestar nosso coração e que podem até mesmo obscurecer o brilho do amor, criar uma fortaleza de raiva, vingança e hostilidade generalizada contra o alvo. Hoje percebi com a fala de uma amiga, todo o ressentimento que ainda consome o seu coração. Há cerca de 10 anos separada do marido por ter se sentido traída, ainda hoje vibra com as dificuldades emocionais e de relacionamento do ex. Interessante que esta minha amiga é uma fervorosa “amiga” de Jesus, diz que segue seus exemplos e lições. Acontece que Jesus é considerado o embaixador do amor, sua principal missão aqui entre nós foi nos ensinar a amar uns aos outros, disse que reconheceríamos os seus discípulos justamente por essa capacidade de amar. Então, parece um paradoxo, uma pessoa considerar tanto um mestre e não seguir, ou procurar seguir suas lições. Sou criticado por essa mesma pessoa por minha conduta de amar de forma não exclusiva, de amar mais de uma pessoa, inclusive mulheres, inclusive no campo íntimo. Também me considero como um discípulo de Jesus, procuro me conduzir dentro das suas lições. Quando Ele fala do Amor Incondicional, procuro seguir a risca, então não respeito barreiras que evitem o Amor se expressar. Condena o adultério. O meu modo de ver o Amor Incondicional entra em conflito assim com a instituição do casamento. Caso eu fosse amar outras mulheres fora do casamento estaria cometendo adultério. Para evitar o conflito, deixei de considerar os critérios do casamento, e na época discuti isso com minha esposa. Abrimos assim o casamento para outros envolvimentos afetivos, tanto para mim como para ela. Claro, isso não tem a conotação sexual exclusiva, como se pode pensar. O foco do relacionamento está centrado no amor, que tenha ou não o sexo. Não tenho ressentimentos por nenhuma atitude raivosa que a minha primeira esposa, a segunda esposa também, tenham tido contra mim em função do meu comportamento que sempre foi transparente. Meu coração está limpo para amar e ser amado, de esquecer as ofensas recebidas, de gravar os benefícios que alguém possa ter me proporcionado. Agora a minha amiga, mergulhada em seus ressentimentos, não usufrui dos benefícios do Amor que o nosso mestre ensinou. Como vencer essa tendência a deixar dentro de nossa mente esses pensamentos que se repetem anos após anos, cheios de ressentimentos? Acredito que a prática do próprio Amor sirva de meta para o nosso destino espiritual e também de remédio para nossas almas.
Somos todos nesta vida caminhantes em busca de algum destino, que tenhamos ou não consciência disso. Feliz daqueles que já despertaram da ilusão da matéria, da fugacidade das formas, e já percebem o sentido da existência conectado ao núcleo amoroso e criativo do Pai.
Percebo cada vez com mais clareza o destino que o meu caminho me leva e que no percurso encontrarei diversos outros caminhantes que comigo também estão em busca de suas metas. Ao interagir, percebemos sintonias ou distonias, nos aproximamos ou nos afastamos. Com quem sintonizamos passamos a fazer a caminhada juntos. Quando o Amor é a energia fundamental que movimenta nossas almas, sem qualquer barreira preconceituosa que seja, percebemos que passamos a caminhar com vários outros caminhantes em uma mesma direção. Não importa se estejamos próximos ou distantes, no tempo ou no espaço, ou nas dimensões da vida, material e espiritual, consideramos nossos companheiros. Caso estejamos juntos, aproveitamos a circunstância com o pleno do Amor a envolverem as nossas almas; se estamos distantes aproveitamos também a circunstância e espalhamos o Amor ao redor cientes que logo mais seremos reabastecidos em novo contato com nosso(s) companheiro(s).
Perceberemos assim, que a felicidade não está no final do caminho e que sim, é o próprio caminho!