Por mais que a batalha nos leve à exaustão, que a pressão teste a integridade dos nossos princípios, que sejam abertas feridas no ego, e sensação do dever cumprido é a principal recompensa que recebemos. A partir daí a consciência evolui com mais desenvoltura, distribuindo o amor à luz da verdade, com liberdade e sem preconceito se essa for sua missão. A vitória do amor deve ser a vitória de todos nós, da humanidade, do próprio Deus, pois Deus é amor. Tudo aquilo que faz obstáculo ao fluxo do amor, preconceitos, prepotência, dogmas, intolerância, egoísmo, ciúmes, etc. perdem força quando é percebido que, pois mais represado que seja, o amor se fortalece tal qual uma hidroelétrica e distribui sua energia com benefícios gerais ao redor. O dever cumprido na doação de amor dentro da adversidade é uma prova avançada da nossa evolução humana em direção à angelitude.
Quando assumimos um ideal de vida, uma missão à cumprir dentro de nossos relacionamentos, percebemos que nossa vida fica preenchida, que não há mais um vazio existencial. Pode ser um ideal simples, construir uma família, criar filhos, netos; fazer uma tese, construir um edifício, enfim existem muitas opções, todas dentro de uma certa cultura e assim flui sem conflitos, apenas com o esforço natural do trabalho de rotina. Quando esse ideal é mais complexo, pode se chocar com os critérios culturais, dos ritos e conceitos estabelecidos. Assim foi com Jesus Cristo que colocou sua Lei baseada no Amor Incondicional acima da Lei de Talião de Moisés. Conquistou discípulos e simpatizantes, pois reconheciam a verdade de seus propósitos e a força de seus argumentos. Mesmo assim os doutores da Lei, os que mais facilmente deveriam reconhecer as verdades que Jesus apresentava, foram os que mais os condenaram e influenciaram todo o poder de um império para perseguir quem adotasse a fé desse ideal. A história registra quantos morreram nos circos romanos como provação dessa fé.
Parece que essa situação está bem distante de nós, hoje existem muitas igrejas de diversas denominações, com uma boa quantidade de fiéis que aceitam a fé nos ideais do amor incondicional que Jesus Cristo ensinou e não são perseguidos, não tem que passar por uma provação. Mas tudo porque tentam se ajustar ao arranjo cultural que hoje incorporou os ideais cristãos. Quando o ideal, mesmo contendo os princípios cristãos com toda fidelidade, mas vai de encontro as normas culturais, passa a existir o mesmo tipo de intolerância que há dois mil anos. Chega momentos de verdadeira provação, quando somos obrigados a responder questões ao estilo da inquisição, com críticas e ameaças se o comportamento apregoado não for substituído por outro aceito culturamente.
Tive hoje que passar por essa provação, junto com minha companheira espiritual. Aceitamos o amor incondicional e o praticamos no contexto do amor não exclusivo. Os membros da sua família não aceitam a quebra do tradicional e nem ao menos tem condições de ouvir os argumentos que os justificam. Somos condenados a priori, e se existisse ainda condenação na fogueira seríamos fortes candidatos. Mas acredito que nos portamos à altura do que nossa missão exige. Já sabemos hoje com clareza com quem podemos contar no prosseguimento de nossa missão e o que devemos fazer para que não sejamos manipulados nem manietados por interesses estranhos aqueles que Deus colocou em nossas consciências. Apesar de todo o conflito e tumulto formado, agradecemos a Deus esse novo momento de nossas vidas, onde ficamos mais fortalecidos com a verdade, mesmo que mais fustigados pela intolerância.
Mesmo nós sendo seres gregários, que nascemos para vivermos em coletividades, na companhia uns dos outros, tem momentos que a solidão é importante. Serve para fazermos uma retrospectiva de nossa vida, ver como está sendo a nossa trajetória, onde devermos corrigir ou não o curso da vida, implementar os pensamentos e procurar a sintonia com a inteligência astral que sintoniza conosco. Lembro que nas primeiras vezes que essa possibilidade de ficar sozinho chegava a minha consciência, uma espécie de pavor se apoderava de mim. Fazia tudo para que a pessoa mais próxima de mim não me abandonasse, meu coração sangrava e me sentia perdido com reação ao futuro. Fui lentamente aprendendo que ficar sozinho comigo mesmo não era algo catastrófico, pelo contrário, era o momento de avaliação, de congraçamento comigo mesmo. Quando volto para a coletividade estou mais confiante e seguro dos relacionamentos que devo manter, dos projetos que devo implementar e se tiver que permanecer na solidão por qualquer tipo de necessidade, já sei que vou encontrar um grande amigo: eu mesmo! Que bom quando todos aprenderem que tem dentro de si esse grande amigo. Talvez a maior parte do sofrimento da terra deixe de existir: o medo da solidão.
Ensinou Jesus que devemos perdoar setenta vezes sete, 490 vezes. A minha consciência ainda vai mais além. Jesus não disse que isso seria a uma só pessoa, pode ser aplicado também a todos os nossos relacionamentos. Mas a minha consciência diz que deve ser aplicado a uma só pessoa. Daí se eu tenho dez relacionamentos próximos, a orientação é seja perdoado até 4.900 vezes. Caso tenhamos mais de dez relacionamentos esse número se torna muito alto, obriga quase a perdoarmos uma pessoa a cada dia de nossa vida. Qual o significado disso? Acho que Jesus queria dizer de forma brincalhona ou figurada, que devíamos passar toda nossa vida perdoando. Isso é o preço para também sermos perdoados? Bem, está colocado na principal oração que Ele nos ensinou, o Pai Nosso. Acho que Ele queria com isso nos manter agregados uns aos outros. Digo isso porque, quando sou atingido de alguma foram, minha tendência é o isolamento, a separação, ir para longe de quem está em desarmonia comigo para sempre. Para Deus isso é negativo, já que estamos a cada momento caindo em falta com o outro, então é necessária que a figura do perdão tenha uma posição privilegiada n o nosso psiquismo. Acredito que eu já tenha essa capacidade de perdão bem desenvolvida dentro de mim. Parece que todo dia estou perdoando alguma coisa que fazem comigo, por ignorância ou por influência do mal. Confesso que no início do golpe, é uma dureza dirigir o comportamento para o perdão, mas depois que passa a fase mais crítica, sinto um grande bem estar, por não deixar que nada de ruim se acumule em meu coração.
Recebi hoje pela manhã uma visita do meu passado. Passado não tão passado, cerca de três anos. Minha ex-companheira que me expulsou de casa e até hoje não perdoou a causa pela qual agi. Permanece com a mesma quantidade de raiva da última vez que nos encontramos. Sei que ela tem suas razões, mesmo que eu não concorde com elas, mas as aceito e se isso nos deixa incapacitado de vivermos juntos como companheiros, que seja feita a separação. O que não consigo entender é como dois corações que um dia se descobriram apaixonados e desenvolveram o amor chega a esse nível. Sei que o meu coração não sofreu esse processo de tamanha raiva, mesmo tendo também os seus motivos para agir como ela. Sei toda a injustiça que sofri, mas a minha mente contemporiza, coloca as razões dela num patamar superior as minhas razões então nada de ruim chega ao coração com relação a ela. Continuo sem raiva e com todo o amor que aprendi a ter por ela. Sinto falta do seu contato, da sua voz, do seu sorriso, do jeito de cuidar de mim... Lembro tudo que ela fez de bom para mim, escrevo no mármore da minha memória. Procuro não ver os equívocos que ela comete com relação a mim e que chega até a atingir o nosso filho. A sua avaliação que eu sou o mal que deve ser evitado ficar perto dela e do nosso filho, é muito forte para mim, mas mesmo assim, respeitarei o seu pensamento e me afastarei o máximo possível com minha forma de amar, pois é isso que a faz pensar assim. Espero que nosso Pai consiga esclarecer a mim ou a ela, para que tão forte conflito seja corrigido na consciência de quem esteja errado. Enquanto isso, peço ao Pai que me nutra com o seu infinito amor, para que eu não deixe de o derramar por todos que me são significantes ou não.