Vamos perguntar: a formação do Cosmo, a criação de um planeta com suas criaturas e demais fenômenos da Natureza, é causa ou efeito? O senso comum considera que seja efeito, pois até hoje está no processo de formação, de expansão. Esse efeito é inteligente ou não? Se é inteligente, como o bom senso parece indicar, então por trás dele existe a causa. Para efeito inteligente a causa necessariamente deve ser inteligente, a razão volta a decidir. Então, se existe uma causa inteligente para tudo que nossos sentidos possam perceber ou nossa imaginação prever, só resta agora denominarmos, conceituar essa causa.
Fica logo patente que nossa inteligência reduzida, que nem mesmo ainda consegue conhecer a maioria das coisas criadas que nos rodeiam, jamais conseguirá abarcar o amplo conceito do Criador de toda a criação. O máximo que consigo dar é um nome a “Isso” e que varia de acordo com o nível da comunidade humana que O estuda: Tupã, Buda, Cristo, Alá, Jeová, Deus, etc. Podemos variar na escolha do nome, mas o princípio pelo qual “Isso” funciona chega mais perto de um consenso. “Isso” deve funcionar de forma a criar uma energia específica, tudo que possamos imaginar e dentro de uma característica marcante de evolução e harmonia, que implica na justiça imanente a uma sabedoria/inteligência suprema. Essa energia com tais características também convergem para a mesma conceituação: o Amor. Então “Isso” associado a Sua energia pode ser considerada o Amor. Para nós do Ocidente podemos dizer: Deus é Amor.
Esse é um grande trunfo da inteligência humana, identificar o Criador pelo nome e saber da essência de Sua energia. Esta é a grande comunidade humana que identificou e venera seus deuses, as vezes fazem guerra por causa deles sem observar os seus princípios, que é justamente a justiça, a harmonia, a fraternidade, a ausência de guerras.
Mas existe um numero menor de pessoas que defendem um pensamento oposto a esse, a inexistência de Deus. Quando tenho acesso aos argumentos dessas pessoas, vejo que o foco são sempre as críticas sobre a nossa capacidade de identificar Deus cujas tentativas são feitas desde a nossa infância enquanto comunidade, civilização. Mas se partirmos do atual ponto de compreensão que possuímos para a existência de Deus, de ser a causa inteligente dos efeitos inteligentes que percebemos, é necessário que entendamos que essas pessoas não acreditam que tudo que existe é um efeito inteligente. Essa conclusão é importante, pois se essas pessoas acreditam que a Natureza é um efeito inteligente têm que necessariamente chegar à conclusão da existência de Deus, qualquer que seja o nome alternativo que seja dado a Ele. Se chegam a conclusão da inexistência de Deus é porque não aceitam a criação como um efeito inteligente. Que seria então? O Caos, respondem eles. Tudo que existe no Universo (não explicam como se criou) funciona sob a leis do acaso e sob a ação das tentativas e erros associados a eternidade do tempo e assim criam as estruturas materiais e seres vivos mais complexos que conhecemos. Este é o nome do Criador para essas pessoas: o Caos, a ação aleatória de uma substância com outra substância que esse Caos “achou” à sua disposição.
Então, essas são as duas teorias que se opõem hoje no campo da imaginação humana. Uma criação promovida por Deus ou uma criação promovida pelo acaso. Qual das duas terá mais sustentação no campo mental, apoiado pela razão e coerência? Essa é a decisão que cada um de nós, apoiado em nossa inteligência devemos fazer.
Qual é a sua, caro leitor?
Sei que minhas argumentações podem ser falhas, pois o meu racional já decidiu pela existência de Deus, o Criador. Quem pensa o contrário pode ter argumentos que não apresentei aqui e por isso, a bem dos critérios da justiça, da pesquisa científica, é importante que esses outros argumentos reforçadores também sejam colocados. Fica assim em aberto essa discussão, cada pessoa com suas convicções já firmadas, mas com o racional aberto a novas reflexões sobre novas argumentações e assim capaz de redirecionar o pensamento para uma posição mais coerente se assim for necessário.
Caminhamos pela vida amparados pela razão e a fé. Alguns desprezam a fé, outros a valorizam tanto que a coloca acima da razão em algumas situações. Foi o que aconteceu com Maria de Nazaré, quando ouviu o anúncio do Anjo sobre a sua gravidez divina e a aceitou prontamente como um ato de pura fé que extrapolava qualquer tipo de razão. José, seu pretenso marido, já não teve o mesmo poder de fé. Desconfiou logo, seguindo a razão, que ala havia se deitado com outro homem. Foi preciso o mesmo Anjo vir em sonho e dar uma injeção em sua fé, para que ele mudasse a decisão de abandonar Maria.
O resultado de tudo isso é que ela aceitou pela fé ficar grávida de Deus e ser a mãe do Seu filho. Nutriu durante os meses regulares o nascimento deste filho especial, amparado por José em todas as circunstâncias. Durante todo esse período prevaleceu a compreensão, pela fé, que um filho estava sendo gerado em uma virgem e que tinha uma origem divina, com uma missão especial para toda a humanidade.
Essa associação de razão e fé está presente em todos os recantos do mundo onde existe associação de humanos. Descobrimos que a vida se processa em dois planos, material e espiritual, e que no plano espiritual a fé tem uma importância crucial. As pessoas que passam vitoriosas por experiências como a que Maria viveu, passam a ter uma maior consideração, ser chamados de santos, ser venerados também. Livros são escritos, orações são recitadas, tudo para lembrar a glória de Deus, a firmeza dos santos, a fé dos crentes. Cada pessoa, de acordo com o seu potencial e tendências, procura a melhor forma de venerar a Deus e cultivar a fé em associação com outras pessoas. Vejo homens e mulheres que se dirigem a lugares de culto com os livros sagrados nas mãos, principalmente a Bíblia, com terços e outros adereços para demonstrar sua fé conforme se sentem melhor.
Eu tenho uma forma peculiar de procurar servir a Deus e fortalecer minha fé. É a leitura de qualquer livro sagrado onde eu possa minerar os tesouros de Sua sabedoria, e principalmente o lápis na mão onde eu possa repassar o que aprendi com uma compreensão mais clara para aqueles que tem mais dificuldade de aceitar e entender essas mensagens. Assim aproveito para consolidar minha fé, e ajudar na construção do Reino de Deus, mostrando como se pode aplicar o Amor Incondicional, mesmo dentro deste mundo tão materializado.
De forma parecida com o que aconteceu com Maria, eu também senti uma convocação para servir ao Senhor. Não foi nada tão explicito ou extraordinário como aconteceu com ela, comigo foi mais sutil e se desenvolveu ao longo da vida. Inicialmente o impulso para um comportamento de caráter mais mundano, mas sempre dentro dos princípios da ética e da fraternidade. Assim, como foi gerado uma criança sagrada no útero virgem de Nazaré, foi gerado um pensamento sagrado na minha mente insipiente. Ela teve desde o início a consciência de sua missão; eu só vim despertar muito tempo depois de já estar praticando o que o Pai queria de mim.
Agora, minha principal ferramenta é o lápis na mão. Tenho diversos escritos que contam essa saga, que falam em artigos, crônicas e poesias esse caminhar. Espero determinação do Pai, as ordens de Jesus para tornar mais eficiente minhas ações e superar, com ajuda de todos os bons espíritos, que combatem nas hostes do bem, as minhas inúmeras necessidades.
Os bons espíritos me orientam para que eu procure ouvir com mais atenção àquelas pessoas que por um motivo ou outro, justos ou não, se tornaram meus adversários. São essas pessoas que procuram fazer uma retrospectiva de minha vida, uma espécie de Raios-X total, no sentido de encontrar erros e contradições no meu comportamento e jogar sem compaixão na minha frente. Este passa a ser um serviço de grande importância, uma vez que eu, como interessado em defender o meu ego, não tenho condições de perceber. Os amigos, por outro lado, para não querer me ofender, evitam colocar à luz essas verdades sobre meus erros. Então, não posso desperdiçar esse grande serviço que meus adversários me prestam.
É assim que eu vou ficar mais atento a acusação de que estou ficando louco, no mínimo fanático ou fascinado, por eu ter decidido me tornar um discípulo radical do Cristo, de praticar nos meus atos o Amor Incondicional que Ele ensinou, e com esse propósito inviabilizar a família nuclear de base romântica que construí; que vivo agora como ermitão, em apartamento sozinho, sem condições de conviver com ninguém que preza o amor romântico e exige o exclusivismo das relações íntimas; que vivo dentro de uma incoerência, de amar tanto e a todos e por ninguém ser amado da mesma forma.
Estarei realmente louco? Estou sendo fanático ou fascinado? Estou sendo nocivo a mim mesmo e aos outros, principalmente àqueles que estão mais próximos de mim? Entendendo que ainda tenho sanidade mental suficiente para avaliar a acusação, é isso que farei agora.
Reconheço que meus adversários têm razão nas suas acusações, quando eles consideram o mundo deles em comparação com o meu. A medida que modifiquei meus paradigmas para se ajustarem ao Amor Incondicional, me afastei desse mundo material, egoísta e me aproximei do ideal do Reino de Deus – como Jesus falou, a partir da transformação do meu coração. Assim, quando consideram o meu comportamento como anormal dentro de nossas normas e práticas culturais atuais, sou realmente anormal, reconheço. Mas quanto a loucura, não! O louco não possui esse poder de argumentação e reconhecer sua própria anormalidade dentro de um contexto cultural.
Então, qual é o motivo de minha anormalidade já que não é devido a loucura? Eu credito a esses aspectos: intenção, discernimento e coerência. Intenção de ser justo, fazer o bem e progredir na vida. Discernimento para procurar entre todas as doutrinas e lições de como viver, qual a melhor que se ajusta às minhas intenções. E coerência para aplicar na vida prática todos os princípios absorvidos e considerados como corretos, mesmo que isso vá de encontro a uma cultura milenar fortemente estabelecida.
Sei que muitos argumentos que eu possuo, quanto ao Amor Incondicional e a construção do Reino de Deus, estão no mundo transcendental, no campo da fé. É tanto que o meu principal Mestre, cuja existência material já deixou de existir a quase 2000 anos, ainda o considero como meu principal instrutor e que está sempre presente quando eu o invoco, juntamente com o Pai do qual somos filhos obedientes. Esta é a compreensão que eu tenho e que destoa da compreensão dos meus adversários por esses motivos me acusam de lunático, fanático ou alucinado.
Agradeço a preocupação deles com minha sanidade mental, mas prefiro acreditar no mundo que o Mestre falou e da possibilidade de sua realização, mesmo que eu tenha que enfrentar os dentes dos leões ou as fogueiras da intolerância, como aconteceu no passado. O que eles dizem ser loucura, eu digo que é fé; o mundo que eles defendem não é o mesmo em que eu vivo; a vida que para eles termina, para mim é eterna; para eles o meu mundo é loucura, para mim é a meta de vida.
Tenho lutado para entender o Amor, este mesmo com A maiúsculo. O Amor que deve ser a essência de Deus e que ao atingir nossos corações pode se fragmentar em diversos raios, como um prisma faz com a luz. Nenhum desses raios secundários, que geralmente se tornam condicionados a algo ou alguma pessoa, pode ser colocado acima do raio original, o raio branco que contem todos, o raio original do Amor Incondicional.
Jesus, o Mestre de Nazaré, veio a este mundo com uma missão específica, nos ensinar sobre o Amor Incondicional e dizer que a partir de sua aplicação estaríamos construindo o Reino de Deus. Naquela época o próprio amor condicional estava mergulhado na barbárie dos nossos instintos animais, e essas lições de humildade e perdão inclusas dentro do Amor Incondicional, deu a civilização humana uma nova feição. Hoje encontramos a sociedade mais humanizada em comparação ao passado, mas ainda muito brutalizada em comparação com o Reino de Deus do futuro.
Muitas pessoas estudaram as forças que permeiam a alma. Platão dividiu-a em três partes ou funções - razão, paixão e desejo - e concluiu que o comportamento correto resultava da correta harmonia entre esses elementos. William Shakespeare estudou os conflitos da alma entre o bem e o mal, nas suas obras como Rei Lear, MacBeth, Otelo e Hamlet. Santo Agostinho procurou entender a alma hierarquizando as diversas formas de amor, em seu trabalho ordo amoris: amor a Deus, ao próximo, a si mesmo e aos bens materiais.
Também arrisco a fazer meu estudo sobre essa importante força existencial. Certamente não tenho nem o brilho nem a fama dos meus antecessores, mas se por acaso puder adicionar um pingo que seja de compreensão nesta tão ampla discussão, já me sinto por satisfeito. Prefiro seguir essa metáfora do raio principal e de seus derivativos a partir de um prisma. Esse raio principal é o Amor Incondicional, a força suprema do universo, sabedoria imanente e transcendente, construtora e destruidora em busca da harmonia que se espalha pelo cosmo no tempo da eternidade. A minha frágil inteligência, nem a inteligência superior de qualquer ser humano, jamais pode alcançar o seu início nem o seu fim. É importante reconhecer apenas o seu poder criador e nós como suas criaturas. Que possuímos dentro de nós a sua faísca pura que podemos alimentar em sua pureza ou a deformar com nossos desejos mesquinhos. Desde que o jato de Amor atinge o nosso coração humano, de natureza animal, essa luz pura tende a sair contaminada pelos mais diversos interesses e daí as mais diversas formas de amor condicional, geralmente recheados de ciúme e exclusivismo. A partir do amor parental, cujo maior ícone é o amor de mãe, vemos um desfilar de amores condicionais e que seus portadores muitas vezes nem sabem da existência do Amor Incondicional. A grande maioria que o conhece, não consegue ou não quer aplicá-lo.
Eu me contento com essas duas divisões para aprofundar o meu estudo: Amor Incondicional de um lado e amores condicionais do outro. Estou envolvido agora com o trabalho de desmascarar o amor romântico no que ele tem de perverso na geração do egoísmo, de perverter a função fraterna da família na construção de uma sociedade justa e harmônica, sem miseráveis do lado da pobreza ou do lado da riqueza. Mesmo que isso me deixe como um pária da sociedade que é estruturada sobre a hipocrisia de uma família que diz seguir a lei do Amor, e a minha própria exclusão é uma prova de que isso não é verdade.
Vejo na leitura litúrgica do dia 24-02-14 da Igreja Católica, que Jesus passou as escolher doze pessoas para acompanhá-lO, para ser Seus discípulos. Era intenção dEle organizar uma nova comunidade com os que Ele quis. Com isso Ele rompeu com o sistema rabínico, pois não foi atrás dos doutores da lei, pelo contrário, eram pessoas simples, pescadores, pecadores declarados. Escolheu quem achou conveniente para ficarem em sua companhia, para prepará-los, imbuí-los do Seu Espírito, como primeira finalidade. A segunda finalidade da escolha era para enviá-los a pregar. A partir da escolha e da aceitação, os doze passaram a fazer parte da vida de Jesus.
Com a escolha dos Doze, Jesus iniciou a pregação sobre o novo povo de Deus, o Reino de Deus, que não estaria mais restrito apenas a Israel. Com esse objetivo a escolha tinha que cumprir as seguintes características: formação e missão, escuta e proclamação, contemplação e atividade, todas se condicionando reciprocamente.
Hoje, quase 2000 anos passados dessas lições do Mestre Jesus, parece que Ele continua fazendo o convite para quem queira entrar no Reino que Ele anunciou, desde que a pessoa siga a devidas instruções e dê o primeiro passo de limpar o coração de todo egoísmo. Confesso que essas lições calaram fundo na minha consciência e logo procurei aplicá-las com honestidade no meu comportamento, pois se assim não fizesse estaria enquadrado como hipócrita, o ser mais desprezível no entendimento do Cristo.
Não tenho a força moral que o Cristo tinha, não sou tão perfeito e esperado como filho de Deus como ele era, portanto não tenho como defender esse pensamento e comportamento com a amplitude com que Ele fez. Eu me contento a ser um simples discípulo, reconhecedor de minhas inúmeras fragilidades, mas com a intenção pura de seguir as lições e de corrigir os erros quando identificá-los e tiver forças para isso. Não posso fazer a convocação de ninguém para seguir o caminho, pois a convocação não é minha, e sim dEle. Posso apenas lembrar das lições que Ele ensinou e que existe um novo mundo esperando por aqueles dispostos a seguir esse caminho. O que posso fazer é dar o exemplo do meu comportamento para as pessoas que estão mais próximas, conceitualmente, desses princípios, e que de certa forma dividiram ou dividem de forma mais profunda esses afetos comigo. As pessoas que foram influenciadas e/ou que sofrem ou sofreram os efeitos desse comportamento e que ainda comungam pensamentos e sentimentos comigo. Posso citar Radha, Clara, Carlinhos, Navegante, Cristina, Monica, Edinólia, Adriana, Paulo, Luciana, Cássia e Neta. Posso ter cometido algum erro, pois talvez existam pessoas com essas características que não me veio à memória no momento. Também não podem ser consideradas como os Doze escolhidos pelo Cristo, pois naquele caso eles foram convidados para aprender o que o Mestre tinha para ensinar. No meu caso eu sou mais um discípulo que pretende ser honesto na aplicação das lições, e essas pessoas indicadas por mim servem mais como testemunhas da integridade de minhas ações. Mesmo que elas possam se envolver na maior profundidade que o Amor pode levar, jamais deixarão de ser testemunhas da correta aplicação dos ensinamentos do Cristo sobre a Lei do Amor e sobre o Reino de Deus.