Ao terminar a reunião de estudo na Associação Médica, e ao assistir o filme “Nosso Lar”, ao chegar em casa vi que nessa obra de André Luiz tinha uma boa “dica” para colocar em prática conforme o que decidimos ontem em reunião.
Na reunião de hoje houve uma espécie de catarse coletiva, onde várias pessoas se colocaram com assuntos íntimos. Foi verificado então a necessidade de tirarmos um dia para fazer essa catarse de forma organizada. Foi escolhida a primeira terça feira do mês de maio para fazermos isso.
Assistindo o filme vi que no Ministério do Auxílio ficava um preceptor que atendia diversas pessoas numa mesma sala, com os mais diversos motivos. O atendimento era feito em dupla e com a audiência de todos os presentes.
Achei interessante que seguíssemos esse modelo na nossa reunião de estudos. Faríamos uma espécie de escala onde a cada mês uma dupla seria atendida pelo preceptor sob a audiência dos demais participantes do grupo. Durante o trabalho de exposição dos motivos que cada um considerasse importante, só poderia haver interação entre a dupla e o preceptor. Os demais integrantes do grupo permaneceriam calados e só poderiam se manifestar sobre o que ouviram ao final dos trabalhos, quando fossem autorizados pelo preceptor.
A colocação do assunto de escolha de cada pessoa não tem a função de abrir qualquer tipo de polêmica. A pessoa vai abrir o seu coração sabendo que todos na sala são seus irmãos espirituais e que desejam aprender com sua experiência. As perguntas que poderão ser feitas sempre terão esse sentido, de fazer a pessoa explicar melhor o seu ponto de vista e os seus sentimentos e emoções relacionadas.
No final dessa exposição e quando o preceptor autorizasse, os demais membros do estudo poderiam dar sua opinião sobre o que ouviram de forma avaliativa, usando a sua forma pensar e de sentir. Não quer dizer que sua avaliação seja sempre a correta e o criticado a pessoa equivocada. Pode ser que o comentário recebido seja mais equivocado do que o que foi explanado. Mas não é motivo para ninguém entrar em discussão, fica a cargo da consciência de cada um verificar se a sua participação foi coerente com a aplicação do Amor Incondicional que deve ser o princípio a ser atingido por todos os participantes.
No término do encontro o sentimento de fraternidade entre todos deve ter ficado mais fortalecido, principalmente naquele que expôs os seus pensamentos mais íntimos.
Acredito que esta atividade seja bastante positiva, como forma de verificarmos se estamos colocando em prática as lições do Mestre Jesus dentro dos nossos relacionamentos mais diversos.
Quando queremos construir algo devemos começar pelo alicerce. Se queremos construir uma vida, qual será o alicerce? O corpo ou a alma? Ambos coexistem no viver, no mesmo plano material, mas depois da falência dos órgãos o corpo vai para a sepultura se deteriorar e voltar ao barro de onde veio e a alma vai para o mundo espiritual de onde veio também. Uma é passageira, fugaz... a outra é perene, indestrutível.
Então, onde construir o alicerce da nossa existência, na transitoriedade do corpo ou na eternidade da alma? A lógica diz com clareza que deve ser sobre a alma. Porém a ignorância que nos impede de ver e sentir a importância da alma em nossas vidas, apenas dá valor às necessidades do corpo físico.
Com base nessas premissas decidi construir o meu alicerce de vida nos princípios espirituais. Os materialistas podem me criticar, afinal eles não deixam de perceber o que está acontecendo comigo, pois fazendo assim eu dou uma guinada radical na minha meta de vida. Os valores amoedados que é o símbolo da provisão materialista, que garante o conforto e a segurança desse meu corpo físico agora fica em segundo plano. Esta moeda que é o símbolo da riqueza no mundo material, não tem nenhuma serventia no mundo espiritual para onde logo irei. O que vai servir são os valores morais preservados, o Amor que consegui ofertar sem esperar recompensas, a paciência de tolerar o erro e as críticas dos outros, mesmo sabendo que estão errados.
A minha forma cada vez mais radical de desenvolver esse projeto espiritual me deixa mais próximo do Criador e mais distante dos sonhos acadêmicos e financeiros que eu nutria no passado. A conseqüência é que continuarei a viver neste mundo material, mas os valores serão cada vez mais espiritualizados em sua prática. Viverei neste mundo, mas já pertencerei ao mundo espiritual. Construirei o meu alicerce de vida nesse mundo espiritual. Quando fizer a passagem de um mundo para o outro, não levarei moedas, ninguém consegue fazer isso, mas espero que eu possa levar todo o bem que eu fiz, todo o Amor que deixei fluir do Criador para o meu semelhante.
Estou construindo o meu alicerce espiritual com as diversas chances e companheiros que o Pai disponibiliza para mim. Procuro fazer ver ao próximo a importância desse trabalho, pois mesmo que eu esteja totalmente errado, que não existe nada de mundo espiritual e tudo termina com a finitude do corpo, mesmo assim, a qualidade de vida que adquiri é de um maior quilate, capaz de trazer satisfação interna e a sensação de que cumpro uma importante missão.
Sei como todos sabem que temos uma origem biológica, que temos um pai e uma mãe na origem de nossa vida material. Poucos sabem, no entanto, que também temos uma vida espiritual e que possuímos um Pai primordial, aquele que construiu todo o universo e que continua criando. Portanto, sei que sou filho do homem e filho de Deus. Tudo vem de Deus, tudo tem dois significados. A minha existência tem um significado biológico e outro espiritual. O significado biológico implica na permanência da vida biológica ao longo do tempo, que eu atenda os instintos que Deus criou dentro do meu corpo para a preservação e reprodução. O significado espiritual é que a vida real se processa no mundo espiritual e que o nosso espírito precisa evoluir no campo moral e ético, usando a Terra como escola e o corpo como campo de estágio, sabendo usar os seus recursos instintivos para potencializar o Amor Incondicional de natureza divina.
Assim, o filho do homem possui dentro de si as forças do egoísmo que podem se manifestar como o mal; o filho de Deus sabe da existência dessa maldade em potencial que existe na estrutura do nosso corpo e que precisa aprender a domesticá-la para os princípios estreitos do bem e não para os prazeres largos do individualismo.
O filho de Deus pode fazer a vontade do Pai ao partilhar essa verdade que descobriu dentro de si, dentro do filho do homem, com os irmãos que ainda vivem envoltos nas trevas. Não deve de ter medo de falar para todos, os que queiram e os que não queiram ouvi-lo. Basta ter compaixão pela humanidade e abrir a boca. Falar do que o coração está cheio. O segredo é esse: compaixão! Compaixão pelos homens, por todos, por tudo, pois tudo faz parte de Deus! Ser capaz de olhar nos olhos de uma formiga e ver a face de Deus. Não ter medo de morrer, por entender que ela não é uma porta que se fecha, ela se abre.
Não deverei ter medo de falar, Deus falará por mim. Eu vim do Mata-Sete, uma região de Macau, um setor de bebidas e prostituição. Cresci e fui educado nessa região. Muitos diziam que eu não iria servir para nada, pois nada que viesse desse lugar poderia prestar. Mesmo assim diziam de Jesus, que nada que viesse de Nazaré poderia servir. Quando Deus quer coloca as palavras certas na nossa boca, vasta aceitarmos essa condição. Foi isso que Jesus fez; é isso que devo fazer.
Jesus sabia da dificuldade que o povo teria de entender a sua mensagem e usava muito os recursos das parábolas. Era um semeador da verdade. Ele semeava como o agricultor que joga as sementes, as pessoas que o escuta são as pedras e espinhos que dificulta o eclodir da semente. A semente é o Amor tem que tem de encontrar um solo fértil para se reproduzir e alimentar uma nação. Ontem eu era um solo árido, cheio de pedras e espinhos, mas acreditei na mensagem, deixei a semente crescer no meu coração, e agora que ele está cheio já posso também sair a semear. Não preciso ir à escola para aprender a semear, a falar; basta dizer do que o meu coração está cheio; basta agir de acordo com o que eu falo; basta amar como Deus me ama!
Existe um risco, e Jesus também já sabia disso: o filho de Deus está falando para os filhos dos homens, aqueles que possuem os instintos em polvorosa, que desejam poder, riqueza, influência... Que podem usar a semente do Amor como símbolo em bandeiras de carnificina entre irmãos, como aconteceu com os cruzados; que podem usar a semente do Amor dentro de livros intolerantes capazes de condenar os pensamentos discordantes ao suplício das fogueiras, como aconteceu na inquisição. Existe o risco do objetivo da construção do Reino de Deus se transformar em guetos de isolacionismo, em cortiços de miserabilidade, em favelas de violência.
Esta é a grande guerra do bem contra o mal, da verdade contra a ignorância, da luz contra as trevas. Acima de tudo tremula a bandeira do Amor e quem a levar nas mãos com honestidade, independente de sua origem ou de recursos materiais, estará sendo o instrumento de Deus.
Vendo o filme, “A última tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, veio a minha mente a convicção que tenho do que Deus quer de mim. No filme as pessoas dizem que não sabem o que Deus quer delas, comparado com Jesus que sempre soube. Eu também não sabia dessas histórias, de que existia um Deus sobre nossas vidas e que era uma de nossas obrigações enquanto filho de atender a Sua vontade. Pois não é que hoje, após tantas idas e vindas cognitivas e comportamentais, chego a conclusão dessa paternidade divina e que me foi entregue também uma missão!
Pertenço agora ao seleto grupo de pessoas que se reconhece como filhos de Deus e que tem uma missão a cumprir nesta Terra, nesta existência, de acordo com Sua vontade. Reconheço Jesus como meu irmão mais graduado espiritualmente e que é o meu mestre na caminhada da vida, seguindo as Suas aulas como uma verdade, Seu exemplo como um caminho e Sua filosofia como a vida real.
Como adquiri um maior grau de luminosidade dentro do meu coração e da minha consciência, estou pronto para reconstruir minha vida dentro desses novos paradigmas e de transmitir essa luz ao meu redor com toda a honestidade e dedicação possível, mesmo que isso me afaste dos projetos materialistas que todos esperam que eu faça. Estou em pleno processo de construção da família ampliada, com ajuda de minhas companheiras, e também estou em pleno processo de construção do Reino de Deus dentro da comunidade, através dos projetos sociais que começam a ter andamento com a ajuda dos diversos voluntários que Deus convoca e os coloca ao meu lado.
Agora, será que é uma bênção saber o que Deus quer? Essa é a interrogação que Scorsese coloca nas palavras de Jesus. Que Deus ver dentro de nós todos os nossos pecados e nos coloca ainda com tanta responsabilidade. Mesmo Ele vendo no nosso histórico que mentimos, roubamos, adulteramos e tantos outros pecados mortais, mesmo assim Ele nos escolhe para uma missão de acordo com Sua vontade... Como posso dizer as pessoas que tenho tal missão sem provocar uma onda de risos? Como um tal pecador como Eu posso ter tamanha responsabilidade dada por Deus? Talvez porque Ele sonda o meu coração e ver por baixo de tanto lixo existencial, uma réstia de Sua luz original que deseja se expandir e brilhar acima de tudo... Talvez seja por isso...
Mas eu continuo com medo de tantas coisas, nem sempre digo a verdade do que acontece, principalmente as minhas companheiras para não ferir umas as outras. Não consigo falar da verdade que já existe dentro de mim para confrontar a opinião das sombras que se manifestam com ruído ao meu redor. De que adianta eu ser luz se não consigo alumiar? De que adianta eu ter a verdade se não consigo ensinar? Digo ao Pai em oração que quero ser o Seu instrumento aqui na Terra, neste momento, nesta ocasião. Mas que instrumento é esse que não consegue entrar em operação, ensinar os irmãos, influenciar a comunidade?
Assim volta a pergunta: o que Deus quer de mim? Sabendo que sou tudo isso, um fraco pecador, e deixa na minha consciência tal responsabilidade? Para aumentar o meu sofrer na tentativa de realização de uma meta que está além das minhas forças?
O Jesus de Scorsese diz que quando ver uma mulher se envergonha e desvia o olhar. Eu também sofro disso e, no entanto, Deus coloca na minha missão a responsabilidade de me relacionar harmônica, fraternal e até sexualmente se preciso for com tantas que Ele coloca ao meu lado, pelos mais variados motivos.
O medo que esse Jesus de Scorsese diz ser dominado, que esse é o seu verdadeiro Deus, pois se não fosse ele faria tudo que desejasse: roubar, matar, inclusive lutar contra o próprio Deus. O meu medo também exerce grande influência sobre mim, talvez seja ele o maior obstáculo para cumprir a vontade do Pai, com o qual não desejo lutar, não renego a missão que Ele me deu.
Talvez seja isso o que Deus quer de mim, ao fazer a Sua vontade que eu me encontre com a essência divina que Ele deixou dentro de mim, que eu cresça em Sua direção e que me torne uno com Ele, assim como Jesus conseguiu.
Jesus disse-lhes: “Eu me vou, e vós procurareis e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”. Perguntavam os judeus: “Será que Ele vai se matar, pois diz: para onde eu vou, vós não podeis ir?” Ele lhes disse: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima.” “Quem és tu?” perguntaram-lhe então, Jesus respondeu: “Exatamente o que eu vos declaro. Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que me enviou é verdadeiro e que ouvi eu digo ao mundo”. Jesus então lhes disse: “Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou e que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo; Ele não me deixou sozinho, porque faço sempre o que é do seu agrado”.
Esta era a missão clara para Jesus e que Ele tentava nos ensinar, que veio para o mundo material cumprindo a vontade do Pai. Ele sabia que essa existência material era passageira, que logo Ele iria voltar ao mundo espiritualizado do Amor, a essência do Pai a qual lhe preenchia em qualquer ocasião e por ser assim sempre fazia a Sua vontade. Tentava mostrar que não podia ser julgado por critérios meramente humanos, porque Ele é do alto, pertence ao mundo de Deus.
Quando reflito sobre essas lições de Jesus, chego a conclusão de que também sou filho de Deus, que posso aprender com essas lições e outras de igual pertinência. Como sou filho de Deus também devo obedecer a Sua vontade. Agora de forma inversa, pois não tenho a evolução espiritual do meu irmão Jesus, que já chegou na Terra com uma missão bem estabelecida.
Tenho algumas tendências herdadas da genética de meus pais, de vivências anteriores e que facilitam uma determinada forma de comportamento. Considerando tudo isso e as oportunidades que o Pai me oferece ao longo dessa atual existência, descobri que foi construída um tipo missão na minha consciência. Daí porque coloquei o título deste texto como “Uma missão invertida”, comparando ao que aconteceu com Jesus que veio para Terra com uma missão pré-determinada, já sabia que era o filho mais próximo de Deus, que viria trazer uma mensagem de salvação para todos que viviam imersos nas sombras do pecado, que seria o Messias previsto pelas escrituras sagradas.
A minha vida, história e perspectiva é muito diferente. Nasci também em berço humilde, apesar de não ser uma manjedoura dentro de uma estrebaria. Mas não tinha nenhuma expectativa maior sobre o meu nascimento, nem de estrela, nem de Reis, talvez só da minha mãe e das minhas avós. Também eu não sabia que possuía um Pai além dos meus pais biológicos e por muito tempo duvidei de Sua existência.
Foi somente com o tempo que consegui encontrar com o meu Pai celestial e procurar fazer a Sua vontade. Ainda tenho muita dificuldade de fazer isso, mesmo estando atento para as oportunidades que surgem. Agora mesmo, faço a avaliação do dia de sábado, ontem, que passou e vejo que fui testado pelo Pai em duas ocasiões e não me saí bem.
O primeiro teste ocorreu logo cedo, por volta das 3 horas da madrugada. O motorista de Caicó veio me pegar para a viagem e fazia comentários perversos sobre travestis e prostitutas que até aquela hora estavam na rua em busca de clientes. Falou também no mesmo tom de uma moça que viajaria conosco. Ouvi tudo e apenas fiz um comentário simplório, “este mundo é muito complicado”. Poderia ter encontrado palavras mais educativas e compassivas, frente ao quanto já estudei, sei e procuro aplicar. É como se o Pai tivesse feito um teste comigo e do qual eu sai com nota vermelha.
O segundo teste aconteceu a partir de um filme que eu assistia no caminho de retorno para casa: “Drácula, o príncipe das trevas.” Era um filme sem maiores profundidades, mas uma das atrizes tinha no personagem o nome de “Aline” e que dizia que significava fogo, luz. Ao chegar em Natal e entrar numa loja, fui atendido por uma moça muito atenciosa. Deu as melhores opções para a minha compra e ainda conseguiu uma garantia estendida que eu não iria pagar nada, apesar de eu não ter solicitado. Ao final perguntei o seu nome, respondeu que era Aline. Lembrei da personagem do filme, mas apenas respondi que ela era muito simpática.
Depois fiquei a refletir que Deus poderia ter me preparado para naquela ocasião ter dito aquela moça o que eu acabara de aprender. Que o seu nome significa luz e que era bem merecido, pois o seu atendimento mostra que é capaz de trazer a luz para quem se relaciona com ela.
Assim vi que falhei com o Pai nesses dois momentos e por coisas tão simples. Muito distante da prova que Jesus teve que passar e conquistar a vitória com galhardia. Mas o Pai sabia do valor desse Seu filho, por isso tanta pompa no seu nascimento, de anjos, reis e estrela. Por isso eu o referendo como meu Mestre e procuro agora aplicar Suas lições para ajudar ao cumprimento da tarefa que o Pai me ofereceu.