Refleti muito num trecho que li do livro “Maria de Nazaré” onde o patriarca dos essênios aconselhava José quanto as suas preocupações em desposar Maria, a mando dos sacerdotes do Templo. Como sempre, eu vejo nos trechos que me chamam mais a atenção, uma forma do Pai se comunicar comigo. Procurei ver qual a relação que essas lições dirigidas a José podiam ser aplicadas a mim. Colocarei agora esse trecho da fala de Pai Muni, o venerável dos essênios, que procura orientar José nas suas atribulações, para ver se serve para me instruir para fazer a vontade de Deus:
- Meu filho, disseste uma verdade muito grande neste momento: que ela, a nossa Maria de Nazaré, vive em mundo diferente do teu... Justamente, ela vive em outra faixa, em que ainda não podes viver. Mesmo assim, podes esforçar-te para viver ao lado dela, como companheiro de todos os instantes. É do nosso feitio desejarmos coisas para nós, muito mais do que merecemos e, por vezes, nos gloriamos de conquistar o que ainda nos chega por empréstimo misericordioso.
Procura a humildade e faze o melhor, para que possas conquistar a sua atenção. Se souberes viver bem junto a ela, ganharás um dos maiores prêmios da vida, que é o prêmio que tanto procuras: a paz de consciência. Conquista-a tu mesmo; luta contra os teus impulsos, que os maiores inimigos do homem moram dentro dele. Se fores feliz por dentro do coração, serás feliz por fora, disto eu não tenho dúvidas. Serás um homem perseguido constantemente, não pelos sacerdotes, nem pelos ladrões de ouro e prata, porque não tens esses valores transitórios, mas serás perseguido pela tua natureza inferior, por um exército de divisões do mal, que te procurarão por todos os meios, para te fazer perder nos caminhos que aceitaste para a tua redenção.
Estás ocupando um lugar, José, que terá o devido reconhecimento dos homens e mesmo dos teus companheiros, a que deves servir. Isso, para o teu coração, é bom, porque estarás livre do ciúme e da inveja, do escárnio e mesmo de ser morto pelos perseguidores. Deus quer de ti uma boa companhia para essa mulher, que Ele mesmo colocou ao teu lado. É hora de te redimires, meu filho! E redimir-te por amor à causa de Deus. Deves sentir-te feliz por teres sido escolhido para colaborar para que o Filho da Luz encontre meios na Terra, de servir com mais eficiência a todas as criaturas. Muitos desejariam o teu lugar, por verem nele a melhor das oportunidades de redenção, de dar sem exigir, de aprender na escola do dia a dia, de construir a sua própria consciência, limpando-a da sujidade milenar que a todos afeta.
Quero de abraçar e desejar-te felicidade nos caminhos por onde andares. Nada deves temer, porque pessoa alguma te procura para tirar-te a vida, mas procura-te aquele que haverá de vir como estrela de primeira grandeza espiritual. Maria será assediada pelas investidas das trevas, pelo que sente e vai sentir no coração, como mãe de um ser que transcende todos os nossos ideais. Não estás ao lado dela para desfrutar das coisas da Terra; é necessário que morram, José, os teus instintos inferiores, para que cresça em teu coração a luz de todas as virtudes celestiais. Se o tempo que usas não for aproveitado no sentido do Amor puro, terás caminhos longos para percorrer, talvez sem companhias que te sirvam de reforço nos momentos de sofrimento.
Nós te desejamos a paz, mas aquela que encontra no trabalho a fonte de serenidade e na vida reta, todos os alimentos que a alma desejar, ao ingressar para a vida na eternidade. Sê forte, meu filho! Levanta-te e anda, para que o tempo não fique em vão. O teu dever te espera e Deus há de te inspirar sobre o que deves fazer!
Assim foram colocadas essas lições que considero de grande profundidade e que o Pai certamente deseja que eu faça um paralelo com as coisas e circunstancias da minha vida, desde o momento que decidi ser instrumento da Sua vontade.
Existe um adágio que diz que não podemos servir a dois senhores. Passei por uma situação parecida ontem, quando estava gravando um programa de televisão.
Tenho uma compreensão cada vez mais forte do mundo espiritual e de sua lei principal, o Amor Incondicional. Vivo dentro do mundo material que tem sua organização efêmera e que absorve a nossa mente quase que integralmente.
Como a compreensão do mundo espiritual mostra que a vida real se processa naquela dimensão, eu tenho que dá prioridade as exigências que partem de lá. Tenho que fazer esse esforço cognitivo e voluntário na aplicação dessa hierarquia e deixar os interesses materiais em segundo plano.
Dentro dessa conjuntura fica configurada a criação de ”dois senhores” no meu campo mental e que disputam a prioridade de minhas ações. A quem atender, ao mundo material ao qual pertence meu corpo e que está submetido às exigências de sobrevivência através da reprodução, ou ao mundo espiritual ao qual pertence a minha alma na perspectiva da vida eterna? Já decidi que irei atender com prioridade as exigências do mundo espiritual, mesmo que sofra a pressão do mundo material devido as necessidades do meu corpo biológico e através do qual a minha alma se expressa.
Portanto, ontem foi um dia decisivo, de mostrar a quem eu iria servir frente ao programa de televisão. Fui convidado a falar sobre o programa de Extensão Universitária que estamos elaborando dentro da comunidade, intitulado “Foco de Luz”, com base no trabalho voluntário e de forte conteúdo espiritual.
Frente às câmeras fui instado pelo entrevistador a falar sobre a motivação e o embasamento teórico desse trabalho. Foi o momento de decidir a quem eu iria servir. Eram três blocos de apresentação a forma de construção do programa. No intervalo do primeiro para o segundo bloco, eu senti que a minha fala estava localizada dentro dos valores acadêmicos e materiais. Percebi que devia mostrar a motivação espiritual do trabalho em primeiro plano, mesmo que isso me deixasse alvo de crítica por meus colegas acadêmicos, e, principalmente aqueles que não conseguem compreender nem aceitar o mundo espiritual.
Mesmo com essa intenção dentro da mente eu sabia que minha ação no sentido de dar prioridade aos valores espirituais logo iria perder força quando o programa recomeçasse, pois naturalmente iria assumir o comando da minha mente os valores materiais que já estavam condicionados por minha formação materialista e pelo tempo. Mas eu não queria que isso acontecesse e rezei no pequeno intervalo para que o Pai me desse as forças necessárias e que eu direcionasse a minha fala nos interesses da vontade dEle, pois era a isto que eu me proponha.
Consegui fazer isso em alguns momentos, não em todos. Mas acredito que tenha passado ao telespectador a prioridade espiritual desse trabalho. Consegui falar da minha condição de criatura frente ao poder criador de uma força básica, inteligente, e que permeia o universo, que permanece criando em toda a extensão de sua Natureza. Força essa que denomino de Deus, cuja energia eu sinto na forma do Amor Incondicional. Essa energia leva a minha compreensão de acolher todas as criaturas deste universo como minhas irmãs, pois originadas de uma mesma fonte criadora, de um mesmo Pai ou Mãe, principalmente o meu semelhante. Esse conhecimento faz com que eu veja a necessidade de harmonia no processo de evolução que atende a lei do progresso existente em todas as dimensões da vida. Faz ver que os valores materiais são efêmeros, que o tempo logo destrói, e o que fica é tudo que eu produzi de forma a harmonizar o meu comportamento com as necessidades de todos os meus “irmãos”, seres viventes ou não. Enfim, passei a informação de que tudo que fazemos aqui no mundo material tem a finalidade de ser aproveitado no mundo espiritual para o qual retornamos após a falência do corpo físico, no fenômeno conhecido como morte.
Eram essas as informações espirituais que eu deveria passar para a comunidade com todo o aparato da ciência material, mas não a ela subordinada. A ciência é um instrumento valoroso para investigar a Natureza e suas leis, mas devido a nossa deficiência intelectual, muitas vezes entramos em caminhos divergentes da verdade que só o tempo mais adiante irá nos fazer corrigir.
Terminei o programa sabendo que procurei servir ao “Senhor espiritual” mesmo com muito conteúdo dentro dos valores de interesse do “Senhor material”. Mas senti que minha consciência estava satisfeita, afinal continuo ainda com muitos defeitos de caráter e até de inteligência que só o tempo aliado à minha vontade pode corrigir.
É interessante como fatos do passado voltam ao presente com grande carga emocional. Foi o que aconteceu no último domingo. Reunido com os parentes inclusive minha ex-primeira esposa, ela aproveitou o momento de recordação quando foi entrevistada pela minha sobrinha sobre um trabalho da escola e que tinha que falar sobre mim, para lembrar-se de fatos pitorescos de nossa vida em comum. Depois, sentados à mesa numa conversa informal, ela relembrou um fato marcante de nossas vidas.
Nós estávamos casados e morávamos com a família dela. O único arrimo para aquela família era ela e quando casei eu me uni a esse esforço de sobrevivência deles. Entre a família dela existiam três moças solteiras que dormiam no mesmo quarto, duas de menor idade e a outra mais velha, que já trabalhava no comercio e tinha um relacionamento frustrado com um namorado. Essa frustração atingia o seu lado emocional com forte impacto e muitas vezes eu saia com ela para ajudá-la nesse aspecto. Acontece que eu também possuía meus desejos masculinos e que não deixava de focar na interação sexual com ela. Mesmo assim eu reprimia esses desejos, pois percebia que não era o momento propício, uma vez que ela estava tão profundamente envolvida com aquele seu namorado que não se abria para outras perspectivas. Eu também não tinha a habilidade que tenho hoje de conduzir tais transtornos emocionais na perspectiva de novos horizontes. O que eu sempre tive e mantenho até hoje é o sentimento de não prejudicar ninguém, pelo contrário, de ajudar no máximo de minhas forças.
Outro contexto que surgia era à noite no período do sono. Eu ficava até tarde assistindo filmes na sala enquanto elas estavam dormindo no quarto com portas abertas e ao meu alcance. Nesse momento voltavam na minha mente os pensamentos sexuais com pessoas que estavam ali à minha disposição. Com as duas menores existia o bloqueio forte da consciência, pois elas dependiam de mim como minhas filhas e eu não poderia induzi-las em algo que possivelmente iria trazer mais malefícios para elas do que benefícios. Porém com a mais velha era diferente. Ela era uma pessoa adulta, tinha o seu trabalho fixo e independência financeira; se morava conosco era por conveniência dela. Alem disso passava por sérias dificuldades afetivas onde era desconsiderada pela pessoa que ela amava. Não a tratava bem e fazia de tudo para mantê-la afastada. Ela sofria intensamente por sentir esse desprezo e não poder fazer nada. Eu sabia de tudo isso e chegava a ficar sozinho com ela no meu carro, em momentos que eu pretendia lhe ajudar a superar esse problema. Mesmo com desejos por ela nunca cheguei nesses momentos a falar ou demonstrar, de qualquer forma, o que eu sentia.
Foi dentro dessa conjuntura que eu passei a ter conflitos cada vez mais fortes nas noites que eu ficava assistindo televisão na sala e ela dormia no quarto. O desejo voltava com intensidade e eu sabia que ela dormia naquele quarto, carente de afeto, de sexualidade. Eu estava ali, mesmo não sendo a pessoa que ela desejava, poderíamos compensar nossos desejos recíprocos de forma discreta que só a nós dissesse respeito; que se eu tivesse no lugar dela gostaria de ter uma proposta como a que eu queria apresentar, mesmo que decidisse não aceitar. Esses eram os argumentos que meus desejos plantavam nos meus pensamentos. Por outro lado existia o contraditório, que eu era respeitado na casa e que aquilo seria uma afronta a todos.
Esse dilema se repetia noite após noite... O argumento que eu colocava para desarmar o contraditório era que eu estava correto em apresentar a ela os meus desejos e que era ela quem deveria decidir se aceitava ou não, sem qualquer tipo de retaliação em caso de negativa, como é do meu caráter; que eu seria um covarde tendo esse tipo de pensamento na sua essência benigno, e eu deixasse de expressá-lo com medo dos preconceitos e maledicências que pudessem surgir, mesmo porque, se tudo fosse discreto, pelo sim ou pelo não, ninguém iria saber.
Dessa forma, fustigado por essas argumentações que no fundo eu considerava positivas, encontrei a coragem de ir uma noite até sua cama. A despertei com cuidado para fazer o convite, mas não considerei o grau de reatividade que ela podia apresentar. Acordou logo e se mostrou assustada, sem a mínima condição de conversar, mesmo sabendo que era eu, o amigo que muitas vezes estava ao seu lado conversando e tentando aliviar o seu sofrer. Acordou toda a casa e de repente aconteceu o que o contraditório tentava me advertir. Perdi o respeito por todas, pois se sentiram afrontadas e ameaçadas. Ninguém foi capaz de avaliar o meu comportamento cotidiano, de trabalhador, respeitador, doador... De repente passei a ser tratado como marginal e que os quartos deviam ser trancados para prevenir outras investidas. Já que não podiam me expulsar da casa que era minha e da minha esposa.
Esse foi o meu erro estratégico, de não ter tido as condições de dimensionar a reatividade emocional de que eu ia abordar. Pensava que o fato de ter demonstrado em tantas ocasiões uma amizade sincera iria me blindar das reações que ela apresentou.
Hoje ao analisar esse erro, eu considero que eu errei na forma, mas não no conteúdo. Eu respeitei a lei de Deus que está na Natureza. E a Natureza diz que ela nos deu instintos para ser usados. No nosso caso humano, devemos ter o cuidado de usar sem prejudicar ninguém, isso eu fiz em todos os momentos, não coloquei meus instintos em direção a quem não podia se defender e dependia muito de mim, até como pai que não tinham mais. Direcionei esses instintos para a pessoa que estava fragilizada por não ter os seus próprios instintos harmonizados e que poderia ser harmonizados com os meus, se houvesse o consenso. Tudo está, então, nos trilhos da vontade de Deus, não houve desvio dos seus caminhos. O que aconteceu foi que o outro lado não teve a mesma empatia que eu possuía e originou a balburdia que contaminou a todos, e todos da mesma forma se mostraram sem empatia com relação a mim. A única que esboçou reação em minha defesa foi minha ex-esposa, pois mesmo sem argumentos ela conseguia ter na intimidade do seu coração a intuição que na essência eu não era mal e que devia me acompanhar para onde eu fosse. Ela sabia que eu era um homem diferente, capaz de deixar a minha família com dificuldades de sobrevivência, para colaborar com a sobrevivência da família dela, pois sabia que eu, como o cabeça da família, podia levá-la para morar com minha família e deixar a dela à deriva. Mesmo assim eu trabalhava num comércio, principalmente nas minhas férias escolares, para garantir a mesa de tantas pessoas que dependiam de uma só, minha ex-esposa. Sabia que eu usava sempre a verdade, que nunca a enganei, nem a sua família, nem a qualquer pessoa que ela conhecesse. Pelo contrário, eu era sempre a vítima a ser enganado!
Assim, após tantos anos dessa ocorrência, vejo ainda os reflexos equivocados e preconceituosos de tantos quantos foram envolvidos. Estou com a consciência tranqüila frente ao Pai que sonda meu coração. Ele ver que eu mantive sempre uma postura de equidade com todos. Equidade com aquela que não me entendeu e que tanto escarcéu fez; com todos os seus parentes que nunca pesaram com o devido valor tudo que eu fiz para eles; que nunca chegaram a refletir que tudo isso foi causado por uma tentativa de conversa em momento e lugar inapropriado, mas que se essa conversa tivesse sido realizada, nenhum dano maior iria ocorrer.
Dentre todas essas pessoas, o grande conforto que tenho é que a minha ex-esposa, apesar de não ter a clareza dos argumentos que eu tenho, possui na intimidade do seu coração a certeza da minha inocência e da capacidade de fazer o bem, mesmo que venha revestido de aparente maldade. Ela me ver ao contrário do dito popular: ela me ver como “um cordeiro em pele de lobo”. E talvez eu passe isso para o mundo quando quero fazer a vontade de Deus custe o que custar, passando por cima de preconceitos, maledicências e intolerância.
Completou 77 anos e talvez seja este o seu último aniversário, pela fragilidade orgânica que apresenta. Estavam presentes os amigos mais próximos, cerca de 30 pessoas, aquelas mais ligadas à espiritualidade.
De início ele pediu a palavra e agradeceu a vinda de todos. Logo que ele terminou eu tomei a palavra e fiz uma singela homenagem a ele. Disse que eu me lembrava de um evento ocorrido há pouco tempo na Câmara Municipal de Natal onde ele fora homenageado como um título de cidadão natalense. Esse momento também era especial na vida dele e que merecia outra homenagem parecida com aquela. Seria o reconhecimento de suas ações em prol do mundo espiritual e lhe dar também um documento simbólico de cidadão do mundo espiritual.
Este meu amigo certa vez chegou no Centro Espírita onde eu tenho uma atividade voluntária semanal, aplicando o Evangelho as dificuldades dos dependentes químicos. Era a primeira vez que eu via aquela pessoa, de aparência humilde, de olhar sereno e amistoso. Apesar de seus diversos cursos, da publicação de livros, ele chegava com a atitude de humildade, se colocando como um aprendiz e servidor de todos.
Foi assim que meu amigo logo se envolveu com este trabalho e dividindo comigo a cabeceira da mesa, quando fazíamos nossos comentários em seguida a leitura de um trecho do livro que adotávamos. Sua linguagem de profundo conhecedor do Evangelho e da Psicologia, sempre nos trazia informações novas e despertavas emoções que nutriam o nosso coração.
Mas a capacidade de doação do meu amigo não ficava circunscrita a isso. Ele também se doava em alguns domingos, para trazer um curso estruturado para os dependentes e seus familiares. Também estava presente em outros lugares quando o convite era feito, sempre com disposição pra servir da melhor maneira.
Já no final fiz a confissão de ter tido muito medo de espíritos quando eu era criança. Mas agora eu entendo e faço diferente. Agora, disse eu, eu faço um combinado com o meu amigo. Se ele voltar ao mundo espiritual antes de mim, como tudo parece que acontecerá, ele tem a minha permissão para fazer contato comigo e assim poder continuar nosso trabalho em comprimento das lições sobre o Amor Incondicional que o Mestre de Nazaré deixou para nós.
A festa de aniversário era movido por um churrasco generoso que era distribuído para todos. Como eu me considero dentro da Quaresma e cumprindo uma forma de jejum não radical, apenas tomei um cálice de vinho e comi um cubo de queijo.
Voltamos para casa de meu irmão e preenchi o resto do dia em atividade lúdica com o jogo de baralho. Mais uma vez ficou a impressão que eu exagerei na dose, podia ter ficado menos tempo nessa atividade lúdica e fazer mais trabalhos, tanto materiais como espirituais que me compete fazer. Mesmo não estando com a consciência tão tranqüila como acontecia ontem, hoje eu considero que devia ter ficado menos tempo mesmo. Uma pontinha de culpa emerge da minha consciência e tenho que encontrar agora tempo e espaço para compensar.
Jesus ensinou que para poder ver o Reino de Deus temos que nascer de novo. Não com o nascimento na carne, como aconteceu com o meu corpo há 61 anos, pois ele, meu corpo, nasceu da carne (de meu pai e minha mãe).
Jesus se referia ao nascimento do espírito, que desde a formação do corpo biológico ele fica acoplado ao corpo de carne, como se tivesse preso, sem expressão, dentro de um escafandro.
O nascimento do espírito significa a sua libertação do corpo material, de seus interesses egoístas. Percebe agora o mundo espiritual e suas novas obrigações.
O espírito sopra aonde quer, ouvindo a voz da sua consciência, onde está escrita a lei de Deus.
Sou dessa forma um recém nascido do espírito, acabo de receber a paternidade do Pai e estou pronto para fazer a Sua vontade, ajudando a construir o Seu Reino.
Sei de inúmeras dificuldades que possuo e que também os meus companheiros, inclusive os mais íntimos. que deveriam ser considerados carne da minha carne, possuem.
Na condição de recém nascido no espírito, que procura ver e aplicar o Reino de Deus, ainda cometo erros diariamente que identifico e procuro corrigir, alguns deles tão fortes e enraizados que sei irão se repetir diversas vezes antes que possam ser controlados pela vontade.
Porem sei que o Pai entende essas minhas fraquezas e compreende que mesmo apesar delas eu continuo evoluindo na escala do progresso. As vezes são falhas aparentemente graves, como por exemplo, hoje, agora, que perdi a hora de conversar com o Pai à meia noite, como estou pretendendo fazer um hábito, através da oração e meditação. Fiquei na casa de meu irmão jogando baralho com as pessoas significativas da minha família ampliada. Poderia estar com a consciência culpada pelo ocorrido, mas não é assim que percebo. A consciência encontra-se satisfeita, pois sente que tudo ocorreu dentro de um clima de harmonização e que foi iniciado pelo Evangelho no Lar.
Mesmo que exista dentro dos corações de cada pessoa algum tipo de sentimento negativo, esses foram devidamente controlados e o que prevaleceu foram as ações harmônicas com todos, entre todos.
Até essa digitação que sempre é agendada para ser postada no primeiro minuto do dia, sofreu essa demora de cerca de cinco horas. A leitura diária dos livros também não foi feita e deverá ser feita cumulativamente hoje. Tudo isso é motivo para levar culpa à consciência, mas em nome da harmonização e da justiça, a consciência considera que fez o certo. Como é dentro da consciência que se encontra a lei de Deus, eu considero então que Deus está satisfeito com o ocorrido.
Outro aspecto que devo considerar nessa condição de Recém nascido dentro do Reino de Deus, onde o Amor Incondicional é a lei que todos devem cumprir, é que eu sinto que me arrasto sozinho nessa caminhada, pois o egoísmo sempre está surgindo nas suas diversas formas nas pessoas do meu relacionamento, por mais que saibam das lições de Jesus... Parece que ainda não renasceram pelo espírito, continuam presos dentro do homem velho. Então o meu esforço termina sendo bem maior, pois não tenho ninguém a me amparar a não ser o Pai. Pelo contrário, as minhas ações dentro do Amor Incondicional e da justiça a ele inerente, são fontes de insatisfação e de despertamento das forças egóicas.
Por tudo isso é que a cada dia surgem problemas e circunstâncias que testam a força das minhas convicções nesse aspecto. Sei que o “testa de ferro” do egoísmo nesse campo de lutas é o amor romântico que estrutura o orgulho em torno do ego. Como eu venci essa força romântica ao longo da minha vida, tive condições de além de entender o Reino de Deus que Jesus ensinou, o colocar em prática na condição de recém nascido. Devo ter paciência para esperar que todos os meus parceiros consigam também essa vitória para que possam se arrastar comigo pelas estradas luminosas desse novo Reino.