Estava trabalhando meus textos e coloquei um filme para assistir na Netflix, “O americano tranquilo”. Logo na abertura ao descrever os créditos, falou da origem e data: Saigon, 1952. É o ano do meu nascimento. Pensei de imediato que deveria dizer alguma coisa para mim. Então me preparei, enquanto o filme carrega, coloco o que ele transmite neste texto.
No inicio é descrito a natureza bucólica da região, a guerra, as drogas, o prazer, a mulher, um destino... Fala de um americano tranquilo que foi morto, esfaqueado... mas que era um amigo.
A partir daí o filme entra em retrospectiva e o jornalista rememora sobre o americano tranquilo, traça considerações sobre salvar um pais ou salvar uma mulher... fala da liberdade do povo...
Ele é médico, Pyle, dança muito mal... Ela é Phuong, que significa Fênix, dança muito bem...
Pyle vai para a frente de guerra encontrar o repórter, para dizer que ficou apaixonado por sua garota, sua amante. Achou que devia falar isso para ele antes de falar para ela, e se ambos fossem casados ele na agiria assim, esqueceria tudo.
O jornalista volta para Saigon e encontra a cidade tomada por um novo partido. Pyle coloca para o jornalista o dilema de Phuong, se ela ficar com ele, e como ele já é casado, ela nunca vai poder casar com um vietnamita. O jornalista acredita que ela não precisa casar, pois está com ele.
Pyle promove uma reunião dos três e declara seu amor a Phuong de forma humilde e respeitosa sob o olhar irônico do jornalista. Os ânimos terminam exaltados e Phuong prefere ficar ao lado do jornalista. Pyle vai embora com o seu cão e o jornalista resolve pedir o divórcio à sua esposa.
Apesar de tudo isso Pyle salva a vida do jornalista e leva um vinho para a sua recuperação, logo que chega a resposta, a esposa negando o divorcio. Mas o jornalista mente e Phuong inocentemente se joga em seus braços cheia de alegria. A mentira não dura muito, logo todos confrontam o jornalista com sua mentira e Pyle diz que isso não é amor. Ele tem razão, a sua forma de amar, de deixar o ser amado nos braços de outra pessoa se assim ela o desejar, é infinitamente maior que a forma egoísta do jornalista, que pretende manter a relação inclusive com mentira, com o engano da boa fé da pessoa amada (?).
Mas Pyle tem uma atividade política perigosa, ele apoia uma facção militar que quer tomar o poder com ações de terror e isso o deixa fragilizado moralmente. A morte de inocentes serve de motivo para ele desestabilizar os seus adversários. Forma-se então um paradoxo, um modelo na vida individual, no amor por uma mulher, e o equivoco nas ações políticas, coletivas.
O jornalista termina por se reerguer moralmente quando não compactua com essa situação e termina por participar indiretamente do assassinato de Pyle. Faz az pazes com Phuong e decide não mais voltar a Londres, para a sua esposa.
Termina o filme de forma melancólica, o jornalista ao lado de Phuong, mas sentindo que tem de pedir perdão a alguém pelo que aconteceu.
Fica a lição de que devemos primar por comportamentos éticos em todas as dimensões, individual e coletiva. Mais ainda, a dimensão coletiva ainda deve ter prioridade frente os interesses individuais, pois é nessa direção que o Divino Mestre nos ensinou, retirar o egoísmo de nossos corações e nos preparar para a Reino de Deus.
Ontem, dia 15-08, foi o dia do solteiro. Interessante, ninguém me cumprimentou devido a isso, mesmo muitos sabendo que moro sozinho, que sou considerado um solteiro. Da mesma forma que me cumprimentam no meu aniversário, no dia dos pais, no dia do médico... Mas do dia do solteiro, nada! Nem uma simples palavra do amigo mais íntimo. Agora tenho que ressaltar que dos meus amigos poucos se ligam com esse aspecto de cumprimentar os outros nessas datas especiais, tem um perfil comportamental parecido com o meu. Também não estou aqui me lamentando quanto a isso. Foi mais um motivo de colocar com destaque a minha condição existencial na atual fase de minha vida. Fazer uma reflexão quanto a isso.
Parece paradoxal, eu uma pessoa que gosto da companhia de outras pessoas, que faço o máximo para que quem esteja ao meu lado se sinta bem, ter que viver assim isolado, na solidão, não tendo com quem conversar, com quem brincar, sorrir, chorar... Tudo isso porque qualquer pessoa que se aproxima de mim, até este momento, termina por desenvolver um sentimento de posse, de querer evitar meu relacionamento com outras pessoas, e eu tenho uma forma de amar de natureza inclusiva, associada ao amor incondicional, incompatível com o exclusivismo do amor romântico.
Tenho um colega que também é solteiro, mora sozinho num apartamento num condomínio próximo ao meu. Sinto que ele é muito fragilizado por essa situação, reclama da solidão, de não ter alguém perto dele, que procura desesperadamente por uma pessoa que fique ao seu lado. Não tenho esse nível de sofrimento. Sei que se eu abrisse mão dos meus paradigmas de vida e passasse a adotar o comportamento prevalente do exclusivismo nas relações amorosas, eu teria diversas pessoas que poderiam morar comigo até o fim da vida, incluindo as minhas duas ex-esposas.
Mas acontece que esse paradigma de vida que construí e no qual dirijo a minha vida dentro dos seus princípios, acredito que seja uma determinação de Deus, como uma forma dEle me usar como instrumento para contribuir no aperfeiçoamento da sociedade humana. Mesmo que aparentemente seja um comportamento lesivo a instituição da família nuclear, mas é o elemento gerador da família universal, assim acredito. Dessa forma, mesmo que eu queira eu não posso mudar, pois devo fazer a vontade do Pai e não a minha.
Por acaso não seria mais cômodo eu viver com a minha primeira família, estar no aconchego deles, todos já adultos, curtir com serenidade a chegada dos netos, manter a harmonia com minha primeira esposa como agora já recuperei essa harmonia, mesmo nós vivendo longe um do outro. Seria bem mais cômodo para o meu perfil, do que viver agora, sozinho, sem ninguém ao meu lado, sem interagir com ninguém numa convivência diária. Mas Deus me deu uma amostra grátis da beleza do que será quando seu Reino um dia se instalar na terra, com os princípios desse amor inclusivo. Deu a geração de dois filhos magníficos, cada um com suas peculiaridades, que não existiriam caso eu não acatasse a vontade de dEle e aceitasse a intimidade com novos amores; mostrou que as diversas mulheres que ele colocou na minha vida com potencial de amar em profundidade, são pérolas de Sua criação que precisam ser lapidadas da casca dura do egoísmo, pois elas serão as estrelas reluzentes do Seu Reino que se aproxima.
Portanto, por tudo isso não reclamo da minha condição de solteiro, pois sinto que cumpro a vontade de Deus e que estou na companhia moral de grandes solteiros, como Jesus Cristo, Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Chico Xavier, Divaldo Franco...
No meu modo de ver, uma das lições mais difíceis ensinadas pelo Bhagavad Gita, está no Cap. 14, Versos 22-25, que trata da transcendência material. Trata das respostas que o Senhor Krsna dá a Arjuna da seguinte forma:
“...Quem se situa transcendentalmente não tem inveja e nada deseja. Quando o ser vivo permanece neste mundo material recluso no corpo material, deve-se compreender que está sob o controle de um dos três modos da natureza material. Quando está de fato fora do corpo, então está livre das garras dos modos da natureza material. Mas enquanto não sair do corpo material, ele deverá ser neutro. Ele deve ocupar-se no serviço devocional ao Senhor para que imediatamente deixe de identificar-se com o corpo material. Quando se identifica com o corpo material, ele só age em busca do prazer dos sentidos, mas quando se estabelece em consciência de Deus, o gozo dos sentidos para automaticamente. Ninguém precisa do corpo material, nem precisa aceitar os ditames do corpo material. As qualidades dos modos materiais de cada corpo agirão, mas como alma espiritual, o eu está alheio a essas atividades. Ele não deseja desfrutar o corpo, nem deseja sair dele. Situado nessa posição transcendental, o devoto automaticamente libera-se.”
“...O materialista deixa-se afetar pela aparente honra e desonra oferecidas ao corpo, mas o transcendentalista não se deixa afetar por essa pseudo-honra e desonra. Ele executa seu dever em consciência de Deus e não se importa se alguém o respeita ou desrespeita. Aceita tudo aquilo que é favorável a seu dever em consciência de Deus, e, à exceção disso, ele não tem necessidade de nenhum objeto material, seja pedra, seja ouro. Ele considera todos como sendo seu amigo querido que o ajuda em sua execução da consciência de Deus, e não odeia seu aparente inimigo. Ele é equânime e vê tudo num nível de igualdade porque sabe perfeitamente bem que ele nada tem a ver com a existência material. Questões sociais e políticas não o afetam, porque ele conhece a situação das revoltas e distúrbios temporários. Ele não tenta obter nada para si mesmo. Ele pode tentar conseguir tudo para Deus, mas não se esforça em nada que lhe traga benefício pessoal. Com esse comportamento, ele está em verdadeira transcendência.”
Sei que terei extrema dificuldade em aplicar essas lições, principalmente no destaque, de não precisar do corpo material nem aceitar os seus ditames. Parece até um paradoxo existencial, como querer viver se esnobamos dessa forma o corpo? Viver sem nada desejar, sem procurar o prazer dos sentidos, não desfrutar dos prazeres que o corpo pode oferecer, não ser afetado pela honra ou pela desonra, não se importar com o respeito ou desrespeito do outro para conosco, não sentir necessidade por nada que seja material, considerar a todos como amigos e não odiar os inimigos, ver tudo com a equanimidade da justiça, não ser afetado pelos movimentos políticos, não se esforçar por nada que traga benefício pessoal.
Agora mesmo, no momento que estou escrevendo este texto, um paredão de som é ligado logo abaixo do meu apartamento e o volume de som de baixa qualidade, de letras pornofônicas, invade o meu espaço. Sinto a raiva se agigantar dentro de mim, a falta de consideração dessas pessoas com os moradores num horário de 00:30h. A primeira vontade é ligar para a polícia e pedir que eles venham coibir o abuso, com toda a carga emocional, raivosa, que criei dentro de mim. Assim, eu perdi totalmente o foco da transcendentalidade. E apesar de tudo, ainda sou considerado uma pessoa muito paciente e tolerante! Como posso cumprir todas essas lições feitas pelo Bhagavad Gita? Também não conheço ninguém do meu círculo que tenha esse perfil, nem mesmo ao redor do mundo eu tenho consciência de tal ser. Mas, considerando a história, vou encontrar há dois mil anos uma figura com alta transcendência: JESUS CRISTO! Parece até que ele foi à Índia e estudou todas as lições do Bhagavad Gita para aplicar na sua terra natal. Todos esses itens listados pelo Bhagavad Gita eu encontro nas lições que Ele deu e ficou registrado nos Evangelhos, até o ponto mais difícil, o da crucificação, onde parece que ele dava a lição mais complexa, de não considerar o corpo material durante a tortura que sofreu até o último suspiro no madeiro. Um Mestre dessa estirpe não pode passar despercebido pelo mundo, não pode deixar de fazer discípulos por onde passasse, por onde chega a Sua história.
Dessa forma, eu sei que o ensino é difícil, a aprendizagem e aplicação dos conhecimentos mais ainda, mas sei que o Mestre demonstrou na teoria e na prática a sua viabilidade existencial e não posso deixa de me candidatar para seguir com fidelidade todas essas lições e alcançar algum nível de transcendência com o meu esforço. Mesmo sabendo que estou ainda num nível muito materializado, onde um simples carro de som altera meu emocional e já quero partir para a agressão, perco a condição de amar ao próximo inclusive o adversário. Mas tenho boa vontade de aprender, e mesmo me arrastando eu vou tentar seguir as lições do Mestre e das inspirações do Bhagavad Gita.
Hoje é o dia consagrado à Unidade Humana. Podia muito bem ser o dia da Família Universal, o dia do Reino de Deus... Parece-me que são sinônimos. Vejo a opinião de Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM, (freialmir@gmail.com.br) que escreveu na Folhinha do Coração de Jesus o seguinte: “Família é coisa importante na vida. Tudo nela acontece e tudo marca para sempre. Há a festa do casamento com chuva de arroz e festa com bolo e guaraná. Chega o primeiro filho. A mãe meio perdida não sabe dar banho. E chega o tempo da escola, dos amiguinhos, das festinhas. Depois os filhos começam a voar, a ter asas livres. Aparecem os perigos. Acontece que a mãe ficou viúva e se casou com outro viúvo que trouxe duas meias irmãs sardentas. O mais velho arrebenta o dedo numa topada, o pai anda bebendo demais, a mãe contempla essa coisa louca e bela que é a sua família. Não troca por nada essa coisa chamada família. Família na mesa das refeições, família na oração, sempre família!”
Esta é uma opinião que todos aceitam como verdadeira, como paradigmática na comunidade, na sociedade. A Unidade Humana, a Família Universal, o Reino de Deus, é apenas uma utopia ensinada por Jesus, mas que nunca podemos alcançar.
Eu tenho uma visão diferente. Acredito que a lição de Jesus é uma pura verdade e que o Reino de Deus, a Família Universal, a Unidade Humana, está próxima e que devemos a construir a partir da transformação do meu próprio coração. Procuro seguir ao pé da letra cada lição que o Mestre deixou, eliminar o egoísmo do coração em todas as suas manifestações e aplicar o principal item da lei em todas minhas relações: amar a deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Dessa forma eu passo a ver a Família como o frei Almir descreveu como importante em nossa evolução, mas que representa apenas uma etapa. É como se tivéssemos saindo da barbárie, da lei do mais forte, e tivéssemos ingressado na alfabetização do amor. Estamos no Jardim de Infância, na escola de 1º grau do amor. A família como atualmente está construída, no meu modo de ver, serve para aprendermos a amar a partir de parentes significativos, a partir dos próprios pais. A força da biologia através dos instintos da sobrevivência muito nos ajuda nesse aspecto. Mas devemos dar o salto de qualidade e entrar em outro nível de ensino, no ensino de 2º grau onde, sem desprezar o amor que aprendemos a ter e distribuir com os parentes, agora podemos distribuir ao nosso entorno, com outras famílias, sem a consanguinidade, com a mesma qualidade que existia dentro da nossa família consanguínea. Este salto de qualidade para entrar em um novo nível de ensino, corresponde a um verdadeiro vestibular, onde muitos nem sentem a necessidade de se submeter e tantos outros tentam e não conseguem, alguns acham que é uma utopia e que só espíritos muitíssimos elevados podem atingir. Engano, faz parte de nossa evolução, de nosso aprendizado em direção à perfeição que Jesus tanto nos ensinou. Será com as pessoas capazes de colocar em prática o Amor Incondicional que iremos construir aqui na terra a Família Universal e assim realizar um dos itens do Pai Nosso: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus.”
Tenho a intuição que depois de construirmos esta Unidade Humana em nosso planeta, estaremos capacitados para entrar em novo nível de amorosidade, uma espécie de terceiro grau, onde nossa capacidade de amar se expande as estrelas sob o beneplácito direto do Pai. Mas nisso eu não tenho condições cognitivas de nem ao menos conjecturar como poderá ser. Quem sabe, Jesus continuará com novas lições?
Quando se trata de relacionamentos, a atração não é brinquedo. É pena que haja um descompasso, quando os hormônios começam a funcionar em nosso organismo, na juventude, e motivam com energia a procura por relacionamentos, o nosso conhecimento da vida ainda é muito pequeno, quase não existe nenhuma sabedoria nos encontros que a vida nos oferece. Prevalece muito mais os valores intuitivos que trazemos de outras vivências ao longo da aprendizagem no tempo e nos ciclos das reencarnações. Dessa forma somos passíveis a cometer vários erros que na idade mais avançada jamais os cometeríamos.
Lembro-me dos momentos em que eu era bombardeado por essa motivação na procura de relacionamentos e como eu procurava manter um limite ético para minhas ações frente ao outro que eu tivesse simpatia e desejo. Era esses sentimentos a senha para que eu pudesse avançar em busca da comunhão e intimidade. Os limites que eu me impunha era que a pessoa não fosse prejudicada em seus projetos de vida e que tivesse sentimentos equiparados aos meus. Porem, isso não era feito em profundidade, os desejos que nutríamos um pelo outro permitia apenas que avaliássemos superficialmente a viabilidade de atender esses desejos. Logo partíamos para a intimidade e o fator comunhão era de certa forma minimizada. Atingíamos o gozo dos sentidos e o pequeno nível de honestidade que havia em nossas consciências, sobre os paradigmas de cada um, justificava a manutenção da intimidade ao longo do tempo.
Agora, a comunhão das duas pessoas, dos paradigmas existenciais de cada um, não era aprofundada e isso gerava dificuldades que se acumulavam no tempo. Hoje, mesmo com grande conhecimento adquirido, ainda assim continuo displicente no aprofundamento da comunhão antes de entrar na intimidade. O desejo continua exercendo um forte fator de pressão para que isso aconteça, mesmo sabendo que a comunhão não pode ser dispensada. A diferença é que, mesmo mantendo a intimidade quando é conveniente, hoje eu permaneço lutando para atingir um nível de comunhão em que surja a sintonia dos paradigmas e a harmonia dos comportamentos. Sei que isso é difícil, pois essa comunhão vai de encontro aos instintos diferentes que possuem o homem e a mulher, mas com a obediência as lições do Evangelho e tentando construir o Reino de Deus como é orientado, podemos vencer essa dificuldade, como bem ensinou Jesus. O objetivo final é este, o bem estar coletivo em primeiro lugar, nossos interesses egoístas, individualistas devem ser contidos e a nossa consciência operacionalizar nossa vontade em busca desse objetivo. Lembrar sempre de não tomarmos atitudes que neguem o chamado de Deus para aplicarmos mudanças saudáveis em nossas vidas e assim construir a família universal.