As pérolas de sabedoria da Fé Bahá’í traz uma lição interessante com relação a fé:
... Digo-vos que qualquer um que se levante na causa de Deus, nesta época, será pleno será pleno com o espírito de Deus, e que Ele enviará Suas hostes do céu para ajudá-los, e que nada será impossível para vós se tiverdes fé. E agora lhes darei um mandamento que será um convênio entre vós e Mim – que tenhais fé; que vossa fé seja firme como uma rocha que nenhuma tempestade pode mover, que nada pode perturbar, e que perdure através de todas as coisas até o fim; mesmo se ouvirdes que vosso Senhor foi crucificado, não sede abalados em vossa fé; pois estarei convosco até o fim. Assim como a vossa fé, assim serão vossos poderes e bênçãos. Isto é o equilíbrio – isto é o equilíbrio – isto é o equilíbrio.
Então, a fé é a forma de ligação mais eficiente entre a criatura e o Criador. Como estamos na experiência de um mundo material, sem a lembrança de nossa origem espiritual, a mente fica muito ligada a esses aspectos materiais e termina por desconsiderar qualquer coisa que não impressione os sentidos.
Lembro quando eu vivia a duvidar da existência do Criador e formulava diversas hipóteses para justificar minha existência, origem e porvir. Confesso que em nenhuma delas eu me sentia tão confortável como quando decidi num esforço racional acreditar no mundo transcendental. A partir daí o meu raciocínio lógico fluiu com mais profundidade em campos nos quais os meus sentidos materiais não alcançam. Porém só consigo navegar por esses horizontes tão amplos se eu estiver revestido de fé. Caso entre a menor dúvida tudo desaba nas incerteza e todo o meu construto racional racha no meio. Não posso deixar entrar em mim a descrença em algo que já considerei e que avaliei ser o mais importante na vida, o mundo material.
Assim, a conceituação da fé como um convênio entre a criatura e o Criador é muito pertinente. Mesmo eu sendo tão displicente no ato de orar com regularidade e freqüência, tendo a consciência desse convenio entre mim e Deus, passa a ser mais uma motivação para a nossa comunicação, pois isso implica na formação de um ele entre nós. Fico agora mais confiante, pois sei que o Pai estar sempre ao meu redor, que organizou a Natureza para que tudo pudesse fluir com harmonia; a única criação que não obedece automaticamente as Suas ordens, somos nós, humanos, pois Ele nos dotou com o livre arbítrio. Assim eu posso decidir contra a Sua vontade, contra a harmonia da Natureza, devido a minha ignorância, mas aprenderei que pararei por esses erros.
Hoje tenho uma boa compreensão do que Ele quer que eu faça, recebo instruções sobre isso e orientações sobre o caminho a seguir. Sei das dificuldades que irei encontrar e peço forças para resistir as intempéries.
Lembro que ontem fiz uma indagação a Deus: QUE FAÇO, DEUS, AGORA? Logo em seguida, quase de imediato, por um instante que fiquei à espera e peguei num livro, e encontro a Liturgia do dia:
Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”. Passando ao longo do mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse-lhes: “Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens”. Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no. Uns poucos passos mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E chamou-os logo. Eles deixaram na barca seu pai Zebedeu com os empregados e o seguiram.
Nessa lição Jesus reforça a preparação para a vinda do Reino de Deus que está próxima. Explica às pessoas que ele convida que serão a partir daquele momento pescadores de homens.
Logo a minha mente faz as devidas conexões com o que eu acabara de pedir ao Pai: um caminho a seguir. Jesus fez há dois mil anos um convite para que seus discípulos se tornassem “pescadores de homens”. Hoje temos espalhados pelo planeta milhares de “pescadores de homens” instruídos por Jesus e Seus discípulos. Mesmo assim o mundo se debate nas fogueiras do egoísmo, com todo tipo de crime e miséria florescendo em toda comunidade humana, seja bruta ou civilizada. Os atuais cristãos não conseguem construir esse Reino de Deus como o propósito ideal. Os relacionamentos que levam a formação da família estão cheios de egoísmo na sua base e que impede a expressão do Amor Incondicional; o que observamos é a simples execução do amor condicional... eu amo fulano porque ele está na condição de ser meu filho, meu marido, minha esposa, meu tio, e assim por diante. As vezes até esse modelo está contaminado e o egoísmo fomenta o ódio até mesmo dentro das famílias.
Enfim, esse chamado de Jesus para ser pescador de homens não se aplica mais a mim, pois Deus já viu que isso não irá modificar o modelo que já está instalado, da família nuclear fundamentado no egoísmo. Deus sutilmente colocou na minha consciência ao longo do tempo e alicerçado pelas leis da Natureza e pela ética evangélica, a formatação de uma nova família, a família ampliada como protótipo da família universal. Nesta família prevalece o Amor Incondicional e não o amor romântico; prevalece a fraternidade, a justiça, a tolerância, o amor inclusivo. Então entendi onde Deus queria que eu chegasse na minha compreensão: ele não quer que eu seja pescador de homens, e sim pescador de famílias.
Está aí o grande passo que Ele quer que eu realize. Que assuma essa nova compreensão, de corrigir a pureza da família, tirando do seu interior o egoísmo e colocando a fraternidade; respeitar o amor romântico, mas obedecer ao Amor Incondicional. Não quer dizer com isso que seja um objetivo a destruição da família tradicional, mas que seja destruída a hipocrisia em que muitas se sustentam. Se os membros decidem viver num regime fechado de amor exclusivo, que façam isso respeitando todas as conseqüências, e não o forte humilhar o fraco em função dos desejos instintivos, tanto dentro como fora dos limites familiares.
Experimento agora como é bom, salutar, revigorante e maravilhoso conversar com Deus, saber que Ele me ouve, sonda meu coração e dá suas instruções por intuição ou qualquer meio de comunicação.
Sinto-me mergulhado nos Seus mistérios que mesmo sem compreender todos, isso agora não me trás angústia, pois sei que jamais alcançarei a plenitude de Sua sabedoria ou a dimensão de Sua consciência.
Sei que sou uma de Suas infinitas criaturas, que Ele me criou com o germe de Sua inteligência e que gerou o meu livre arbítrio. Sei que agora estou na plenitude de minha consciência, no controle racional do meu livre arbítrio. Reconheço a minha filiação divina e procuro ser obediente as ordens do Pai. Sei que o meu irmão maior, o Mestre Jesus, já explicou que Ele, o Pai, deseja que formemos na Terra o Seu Reino. Deu as primeiras instruções de como alcançar isso e agora eu me considero voluntário dentro dessa missão.
Fiz uma boa faxina no meu coração e agora procuro construir os relacionamentos adequados a esse Reino de justiça e fraternidade, de Amor Incondicional.
Deus enviou duas companheiras para mim que se propõem a construir esse modelo e mostrar, em comparação, a benignidade de uma família ampliada, dentro da confiança, do amor inclusivo, da falência do egoísmo, da morte do ciúme.
Sei que estamos dando os primeiros passos nesse sentido, mas eu, como motivador da idéia, não tenho referências teóricas, de experiências de outras pessoas para me instruir nesse caminho. O único referencial que possuo é a lição do Amor Incondicional ensinado por Jesus, das duas principais leis que ele destacou e do livro da Natureza que é a lei de Deus exposta ao meu redor.
Sinto-me as vezes assustado, apesar de maravilhado, com a dimensão do que tenho à frente. Vejo tantos caminhos abertos, sei pela intuição quais são os aprovados pelo Senhor, e sei que tenho influência de minhas tendências instintivas, geralmente inconscientes. Isso pode provocar erros. E se eu prejudicar o próximo ao invés de auxiliá-lo? Esta é uma dúvida que não sai de minha cabeça, e serve para orientar os passos que devo dar. A consciência me acusa, pois em determinada ocasião, por excesso de zelo nesse campo, eu deixei de ajudar a quem devia e que estava sob meus cuidados. A própria consciência diz que os passos devem ser bem pensados para não trazer prejuízos a terceiros, e consequentemente, atrasos ou inviabilidade da missão.
Poderia ficar sozinho sem nenhum relacionamento afetivo, sinto que tenho condições de viver assim, mas a missão que o Pai me determinou implica em relacionamentos os mais amplos possíveis, os mais profundos possíveis.
Tem momentos como este no qual vejo toda a dimensão da vida a se descortinar à minha frente e não posso deixar de fazer a pergunta: que faço, Deus, agora?
Sei que tenho meu livre arbítrio, mas que posso errar até mesmo sem ter a consciência desse erro; errar por ação ou por omissão. Tenho que ter ajuda de Deus, minha sabedoria ainda não é suficiente para resolver essas questões.
Tenho diversas opções de caminhos pela frente. Seguirei àqueles que pelas circunstâncias tem a “assinatura” do Pai. Mas esperarei sinais mais claros da vontade dEle para dar passos mais largos.
QUE FAÇO, DEUS, AGORA?
Desde que desenvolvi meus estudos procurei encontrar um foco para a vida. Inicialmente foram as diversas opções de profissão, da qual eu deveria escolher uma; depois escolher a companheira, a quantidade de filhos, o trabalho, e assim por diante. Depois verifiquei que a vida como eu a sentia e imaginava era uma coisa passageira, logo mais eu estaria morto e tudo perderia o sentido. Então, valia a pena tanto esforço para depois tudo se perder? Bem que os filhos seriam a minha continuidade na vida através da expressão da consciência, mas minha essência seria perdida.
Depois que passei a estudar a doutrina dos Espíritos adquiri uma nova compreensão da vida, que não se resumia apenas a esta fase material de existência, muito pelo contrário, existia outra fase, espiritual, mais dinâmica e mais importante, de onde toda a vida se origina. A minha vida no mundo matéria seria apenas um ligeiro estágio que poderia se repetir quantas vezes fosse necessário para a aprendizagem do Espírito. Dessa forma eu tive que fazer uma reprogramação radical nos meus paradigmas de vida e estabelecer novos propósitos a alcançar e direção a seguir. Passei a ter um conceito de Deus mais adequado ao meu racional e que evitava tantas dúvidas quantas eu tinha antes.
Hoje estou com 61 anos e tenho propósito bem claro na consciência e sei a direção que tenho de seguir. Consegui alcançar as lições do Mestre Jesus que falava do Reino de Deus, como o podíamos alcançar e do respeito e obediência que eu deveria ter para com o Pai.
O propósito da minha caminhada estando claro na consciência, faz com que eu deva escolher a melhor direção para a alcançar. Recebo constantemente mensagens que Deus manda das mais variadas fontes. O que antes para mim era algo muito distante ou fantasia de alguns beatos, ganhou um grande destaque na minha consciência e até um lugar de destaque que reformula todo o meu repertório comportamental.
A direção do comportamento é com o que devo maior preocupação, cuidado para não entrar em desvio errado que me distancie dos meus propósitos. Isso implica em ter cuidados com a minha rotina, observar o que faço de errado e corrigir, e por outro lado observar o que faço de correto e procurar repeti-los até formar um hábito e posteriormente ser incluso no caráter.
Esse é um aprendizado que devo fazer constantemente, com todos que estejam ao meu lado, em qualquer circunstância. Sei de inúmero defeito que possuo e que alguns são tão fortes, como a gula e a preguiça, que talvez eu não tenha tempo de os corrigir nesta atual existência.
Mas continuo mantendo a esperança que atingirei os meus propósitos que não cometerei tantos erros na direção dos caminhos.
Após encontrar textos que ajudam a combater o egoísmo e formatar dentro do nosso comportamento o homem de bem, apto a ser cidadão do Reino de Deus, eis que me deparo com um texto que mostra o contrário, o que incompatibiliza o homem com essa cidadania. O encontrei no livro da Bíblia, Eclesiástico, 13: 19-32 (Incompatibilidade entre o rico e o pobre).
19. Todo o ser vivo ama o seu semelhante , assim todo homem ama o seu próximo.
Assertiva tirada da Natureza, no estado da ingenuidade, pois quando existem associações prévias o homem pode se transformar no pior inimigo do próprio homem.
20. Toda carne se une a outra carne de sua espécie, e todo homem se associa ao seu semelhante.
Também é mais um aspecto tirado da Natureza virgem, a procura do ser vivo por associações para otimizar a sua sobrevivência pessoal e o sucesso reprodutivo; desde que seja feito as associações, o próximo encontro com um homem desconhecido pode ser de muita hostilidade e violência. São fatos observados até hoje entre indivíduos cultos e incultos, entre civilizações brutas ou modernas.
21. O lobo jamais terá amizade com o cordeiro: assim é entre o pecador e o justo.
O Cristo veio nos ensinar que o justo que tem a luz tem a obrigação de ensinar o que erra, o pecador, para assim ambos terem a cidadania no Reino de Deus.
22. Que relação pode haver entre um santo homem e um cão? Que ligação pode ter um rico com um pobre?
A ligação fraterna entre irmãos que ambos devem ter, principalmente o rico que se subentende ter mais capacidade de conhecimento.
23. O onagro (mamífero ungulado selvagem, do Irã e da Índia, intermediário entre o cavalo e o asno) é a presa do leão no deserto: assim os pobres servem de pasto aos ricos.
Até hoje se observa essa exploração dos pobres, mas não devemos nos comportar para manter esse status quo, e sim para o transformar em solidariedade.
24. E como a humanidade é abominada pelo orgulhoso, do mesmo modo o pobre causa horror ao rico.
Essa é a distância enorme que existe entre ambos, pois não é considerado a fraternidade que deve existir no Reino de Deus.
25. Um rico abalado é apoiado pelos seus amigos, o pobre que tropeça é ainda empurrado pelos seus companheiros.
No mundo material existe essa tendência, dos ricos se tornarem cada vez mais ricos, isso é, exploradores; enquanto os pobres se tornam cada vez mais pobres, isso é, explorados. O Reino de Deus exige que isso seja interrompido, que seja criada a verdadeira fraternidade universal.
26. Quando um rico é enganado, numerosos são aqueles que o vêm ajudá-lo; se diz tolices, o apóiam.
Novamente aponta para a tendência de todos protegerem os ricos para se tornarem candidatos aos seus benefícios, mesmo que a custa do suor e sangue dos demais irmãos.
27. Quando um pobre é enganado, ainda merece censura, e, se falar com sabedoria, não o levam em consideração.
Relata um fato que é observado, mas que não ensina como corrigir a distorção e a falta de caridade para quem é pobre; como se o fato observado fosse apenas para se conhecer o devido lugar onde se encontra a pessoa.
28. Se fala o rico, todos se calam, e glorificam suas palavras até as nuvens;
Nesse ponto surge uma pitada de crítica, principalmente aos pobres que sendo a principal vítima dos ricos não reconhecem a rapinagem que sofre e bajula seu torturador.
29. Se fala um pobre, dizem: “Que é este homem?” E, se ele tropeçar, fazem-no cair.
Este é o outro lado da moeda, a falta de caridade de todos, pobres e ricos, para quem é pobre. Não tem a solidariedade de ninguém.
30. A riqueza é boa para quem não tem a consciência pesada, péssima é a pobreza do mau que se lastima.
Este é um ponto que existe uma crítica mais forte contra essas incompatibilidades para com o Reino de Deus.
31. O coração do homem modifica seu rosto, seja em bem, seja em mal.
Também adverte para a mudança que ocorre no físico quando a alma está cheia de defeitos, certamente se tornando roto, incapaz de vestes fisionômicas para adentrar no Reino do Pai.
32. O sinal de um coração feliz é um rosto alegre; tu o acharás dificilmente e com esforço.
Finalmente aponta uma característica capaz de sinalizar um candidato ao Reino de Deus. Um rosto alegre aponta para uma consciência tranqüila. Não podemos generalizar, pois existem espíritos melancólicos por natureza, que estão capacitados para o Reino de Deus. Mas um rosto alegre permanece sendo um bom sinal.
Mas devemos atentar para o conjunto do texto que mostra a fatalidade de uma sociedade e da necessidade de nos defendermos dela, não de transformá-la.