Recebi uma frase dos amigos que logo me identifiquei com ela. Dizia assim na forma de perguntas e respostas: “Qual sua religião? O Amor. Quem é o seu pastor? Jesus. Qual é a sua igreja? Sou eu.” Achei perfeitas tanto as perguntas quanto as respostas. Passei logo a parafrasear a música de Roberto Carlos – “Esse cara sou eu.” É isso que no íntimo eu pratico e usando todas as fontes espirituais que levam minha inteligência mais próxima da sabedoria de Deus.
Dessa forma, encontrei no Livro do Eclesiástico (Bíblia Sagrada) um item que fala da Prudência e Justiça da maior importância e que não poderia deixar de transcrever aqui como a explicitação de compromisso da “minha igreja”, que sou eu:
23 Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o mal;
24 para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade,
25 pois há uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai glória e graça.
26 Em teu próprio prejuízo não te mostres parcial, não mintas em prejuízo de tua alma.
27 Não tenhas complacência com as fragilidades do próximo,
28 não retenhas uma palavra que pode ser salutar, não escondas tua sabedoria pela tua vaidade.
29 Pois a sabedoria faz-se distinguir pela língua; o bom senso, o saber e a doutrina, pela palavra do sábio; e a firmeza, pelos atos de justiça.
30 Não contradigas de nenhum modo a verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância.
31 Não te envergonhes de confessar os teus pecados; não te tornes escravo de nenhum homem que te leve a pecar.
32 Não resistas face a face ao homem poderoso, não te oponhas ao curso do rio.
33 Combate pela justiça a fim de salvar tua vida; até a morte, combate pela justiça, e Deus combaterá por ti contra teus inimigos.
34 Não sejas precipitado em palavras, e (ao mesmo tempo) covarde e negligente em tuas ações.
35 Não sejas como um leão em tua casa, prejudicando os teus domésticos e tiranizando os que te são submissos..
36 Que tua mão não seja aberta para receber, e fechada para dar.
São essas observações preciosíssimas para o meu comportamento. Sei que eu já as procuro seguir, mas quando faço uma avaliação a partir de leituras vejo que cometo ainda muitas falhas na sua aplicação. Por exemplo, ainda tenho vergonha de dizer com toda profundidade a verdade do Reino de Deus, que devemos lutar por sua construção. O meu perfil acadêmico, aparentemente tão distante desses propósitos espirituais, termina por inibir a oportunidade que me apresenta as circunstâncias que o Pai oferece. Procuro não me mostrar parcial com ninguém, apesar de sentir que os desejos corporais, materiais, possam levar ao favorecimento de alguma pessoa em determinado momento. Mas como isso está difuso ao longo do tempo, cada pessoa pode passar por essa situação, e que é uma possibilidade que fica explícita, pode ser que tudo isso faça parte da estratégia de Deus em minha vida. O importante é que eu não sinto acusações da consciência, onde está colocada a Sua lei.
Não sou tão complacente com as fragilidades do próximo, já consigo dizer o erro que eu imagino que o outro pratica, na tentativa de consertar e não somente de acusar. Mas eu poderia ser ainda mais assertivo e objetivo nesse item, tenho que melhorar. Muita coisa que eu avalio como errada, termino por deixar passar sem deixar nenhuma consideração. Sei que já tenho muito conhecimento acumulado e que me traz algum nível de sabedoria; não posso deixar ela, a sabedoria, reclusa, pelo medo de parecer pretensioso. Devo coloca na mente que é pela palavra que posso mostrar o que eu tenho de sabedoria e ser firme nos atos de justiça. Mesmo que para outros, envolvidos nos seus interesses individuais, pareça uma injustiça. É a minha consciência, associada a lei de Deus, que se constitui o juiz supremo, e nenhum outro interesse subalterno deve inibir ou desviar minhas ações retas. Jamais contradirei a verdade quando assim ela surgir na minha mente. Foi isso que me fez entrar nesse caminho que hoje eu trilho, do Amor Incondicional, da construção do Reino de Deus baseado numa estrutura familiar tão diferente da tradicional. Também não deverei evitar confessar meus pecados apesar do medo e vergonha que venha a sentir. Isso já tive oportunidade de fazer em mais de uma ocasião quando assim eu sou provocado ou que a consciência determine. Não posso mentir sobre os pecados que cometi ou que senti desejos de cometê-los, pois fazem parte da minha estrutura de ignorância e que quero vencer pela força da verdade.
Agora sou incentivado mais uma vez a entrar no bom combate, de não ter medo, pois apesar das críticas, ataques e sofrimento que eu venha a sofrer, Deus estará comigo e combaterá por mim. Não deverei ser precipitado nas minhas palavras, por isso demoro a tomar uma decisão, preciso considerar sempre os prós e os contras, o lado positivo e o negativo do que irei fazer. A partir daí devo agir, sem covardia, sem negligência. Não posso ser rígido e exigente no ambiente doméstico e omisso e covarde lá fora. Deverei ter muito cuidado com minha mão, no ato de dar e receber: ninguém é tão pobre que não possa ofertar alguma coisa, ou tão rico que não possa receber. Tudo isso faz parte da fraternidade que está sendo exigida cada vez mais pelo Pai, para a construção do Seu Reino.
Por tudo isso que analisei dessa forma é que volto a confirmar a assertiva do início: esse cara que tem o Amor como religião, Jesus como pastor e a si mesmo como o templo e que segue as prescrições de inspiração divina, esse cara sou eu!
A Terra está em guerra declarada contra as forças da ignorância, do mal, desde que o Cristo chegou até nós e deu suas lições de Amor Incondicional. Parece paradoxal quando Ele disse que estava trazendo a espada, pois era um Mestre na arte do Amor. Mas Ele queria dizer justamente isso, da batalha espiritual que iríamos enfrentar e que nossa espada era esse Amor Incondicional, a essência do Pai. Mesmo que o homem tenha interpretado de forma errônea as Suas lições e tenham empunhado uma espada física para dominar o mundo material em Seu nome e tenha feito correr tanto sangue humano nas areias ou se consumido nas fogueiras; mesmo que o interesse subalterno pelo poder temporal tenha ofuscado o objetivo espiritual tanto ensinado pelo Mestre.
Mas as lições do Mestre, tais quais sementes jogadas nos corações dos homens, encontraram em alguns, terrenos férteis para se desenvolver e evoluir em direção ao que Ele propôs, a formação do Reino de Deus entre nós, aqui na vida material. Essas pessoas que deixaram a semeadura do Mestre prosperar em seus corações passaram a se constituir uma elite de espíritos que formam o quartel general dessa batalha espiritual que teve início há mais de 2000 anos sob o comando de Jesus e que se reflete na vida material até hoje.
Assim, ao longo do tempo podemos observar a participação de pessoas de comportamentos excepcionais quanto a contribuir para a nossa evolução ética e moral na construção desse Reino. São Francisco de Assis é uma dessas referências, ao lado de tantos outros em tantos outros contextos: Gandhi, Mandela, Madre Tereza de Calcutá, Chico Xavier, etc. O exemplo de cada um deles serve para lembrar as lições do Mestre e que cada um de nós tem a necessidade de evoluir no sentido espiritual com muito mais empenho do que empenho na evolução material. Que nesse esforço (luta) de tirar o coração humano da ignorância, ninguém deve ser excluído, pois todos são esperados pelo Pai.
Pudemos assistir atualmente um capítulo dessa luta em que a influência dos espíritos superiores se mostrou determinante na condução da estratégia cristã. A Igreja Católica que foi o primeiro movimento cristão a conduzir de forma organizada os ensinos e práticas de Jesus, não estava invulnerável às investidas da ignorância e o seu poder nocivo às criaturas. Com ampla penetração em todo o mundo, a Igreja vivia acossada por acusações as mais diversas em seu seio, desde a pedofilia até corrupção financeira. Durante o conclave para a eleição do novo Papa, os cardeais responsáveis por isso e que eram os candidatos naturais ao posto de Pedro, deveriam até por dever do ofício, serem as pessoas mais permeáveis às influências espirituais superiores. Superior no sentido ético e moral no qual o Evangelho é a matriz dessas diretrizes comportamentais.
Assim foi que recebendo sugestões do mundo espiritual, o cardeal Claudio Hummes, emérito de São Paulo, chegou a sussurrar no ouvido de Jorge Mário Bergoglio, logo que ele foi eleito Papa, “não se esqueça dos pobres”. Foi esse gesto que acima do tumulto da eleição ficou reverberando na mente do novo Papa, que fez chegar ao seu coração o nome de Francisco de Assis.
Essa atitude foi um excelente golpe tático na estratégia cristã de enfrentamento na batalha contra a ignorância, uma reforma a partir do papado! A Igreja ergue a cabeça com o novo Papa Francisco que está disposto a mostrar ao mundo que as lições do Mestre ainda estão sendo os princípios pelos quais devemos seguir. O Papa Francisco empunha a espada da revolução cristã, a verdadeira espada do Amor Incondicional que é levantada em favor dos pobres, marginalizados, esquecidos, jogados nas periferias; também não se esquece dos ignorantes espirituais que patrocinam esses desmandos contra a condição humana, pois também são nossos irmãos e merecem ser redirecionados no caminho do bem.
É uma luta onde a espada do Cristo aponta contra os efeitos da ignorância dos pecadores, tentando minimizar os efeitos de suas ações maléficas como crimes, violências, drogas, corrupções, etc. Mas ao mesmo tempo lança ao pecador a oportunidade do perdão, pelo reconhecimento dos seus erros e a honesta convicção de repará-los. Tudo isso se passa em todos os ângulos da vida, não é preciso que tenhamos qualquer cargo para estar dentro dessa luta. Todos nós participamos por mais humilde que seja nossas ações. Somos como as ovelhas que ouvem a voz do Pastor e com sua inteligência deve decidir seguir o caminho do bem, o caminho que Deus colocou em nossas consciências.
Como eu precisava fazer exercício para forçar o meu corpo a perder o excesso de peso, resolvi fazer uma carreira de onde moro, Praia do Meio, até Ponta Negra. Sabia que a tarefa não iria ser fácil, pois não faço exercício há cerca de seis meses. Vesti apenas o calção de banho, pois pretendia chegar ao fim, parar na areia da praia, tomar banho de mar e fazer os exercícios complementares. Coloquei uma camisa pólo e uma nota de cinco reais dentro do calção, talvez para uma água de coco no retorno.
Comecei a correr pela beira mar, já que eu estava descalço, com prudência, sabia que minha resistência física não suportaria excessos. Além da corrida eu fazia contagem dos passos e ao chegar no passo duplo 75 eu fazia exercícios complementares em número de 10, aproveitando a corrida, sem deitar o corpo. Logo eu desisti de contar, pois surgiam em minha mente idéias para desenvolver textos e que se eu ficasse concentrado nessa contagem eu não iria lembrar. E eram várias das quais eu tentava fixar uma pequena palavra para lembrá-las depois: o atirador, a paranóica, modelo de casamento, negociação evangélica, turismo cristão, natureza da fraternidade, a lição das pedras... sabia que eu podia esquecer, por isso decidi usar os cinco reais que levava quando chegasse em Ponta Negra com a compra de um bloquinho e caneta.
Eu já tinha corrido uma hora e a cada 15 minutos eu fazia a observação para manter os exercícios complementares. A praia tinha pouca gente nesse horário, apenas alguns hóspedes dos hotéis da Via Costeira que decidiram encontrar o sol na caminhada pela areia. O cansaço era cada vez mais evidente e na minha consciência eu sentia que não podia mais alcançar a meta e voltar andando como havia cogitado no início. O máximo que eu poderia fazer era comprar o bloquinho, fazer a anotações para não se perder na memória e ir andando até o Morro do Careca. De lá eu pegaria um táxi para voltar para casa.
Cheguei no início do calçadão de Ponta Negra e já havia diversas pessoas em atividade física nesse momento. Já faziam 2:30h que eu tinha saído de casa e não tinha a dimensão do problema que isso podia causar. Eu já havia feito esse percurso antes, tinha gasto um tempo semelhante, mas antes eu não tinha ninguém a me esperar em casa. Vi que o próprio ato de andar, de colocar uma perna na frente da outra já era dolorido quanto mais o movimento das articulações e dos pés socando as diminutas pedras do calçamento. Tinha que desistir da meta do Morro do Careca, da compra do bloquinho, do lápis... o que eu precisava encontrar agora era um táxi e negociar com o motorista o preço para me levar para casa.
O primeiro taxi que vi estava localizado no topo de uma ladeira. Mas era o mais próximo e eu tinha que alcançá-lo. Então reuni todas as forças e fui colocando pé ante pé até chegar no primeiro motorista, que por estar no fim da fila estava dormindo. Resolvi ir mais adiante e falar com o primeiro da fila. Assim que me aproximei do senhor que parecia ter adivinhado minhas intenções e estava na expectativa, vi que parou ao lado o coletivo com destino a Praça Cívica, um local que ficava próximo do meu apartamento. Então foi intuitivo, imaginei que não existem coincidências e que se esse ônibus chegou exatamente no momento que eu ia pegar o táxi era porque Deus assim o queria. Embarquei, sentei e minhas pernas e pés agradeceram de imediato, aliviando a dor que eu sentia.
Ao chegar no ponto mais próximo do apartamento desci e voltei a caminhada, dolorida, mas não tanto quanto antes. Ainda tinha que subir e descer ladeiras antes de chegar em casa, mas já via o apartamento ao longe e isso me deixava feliz e revigorado. Pensava em comprar coco verde com o troco do coletivo para levar e tomar em casa, mas comecei a perceber que minha companheira devia estar um pouco preocupada com minha demora.
Eu estava certo quanto a preocupação, mas errado quanto a intensidade. Logo a vi parada na portaria do prédio, celular na mão, com o rosto banhado em lágrimas, com o porteiro como um apoiador. Disse que já havia ligado para todos os meus parentes e amigos e que minha irmã já estava vindo para comandar a busca pela beira da praia. Pensou até em ligar para a minha outra companheira com a qual tem enormes dificuldades de relacionamento para ajudar de alguma forma. Só não o fez porque não tinha o número do celular. Depois de pedir com a voz entrecortada que eu não fizesse mais isso, ligou para minha irmã e disse que eu já havia chegado e eu falei no celular um pouco sobre o que havia acontecido.
Depois de tudo eu tinha que ir a Ceará Mirim fazer um trabalho com ela. Estava preocupada que eu voltasse sozinho. Pensou em levar minha filha foi quando eu falei da possibilidade de levar também a mãe dela, a outra companheira. Foi quando eu percebi a estratégia de Deus. Ele sabe que estou determinado em cumprir a Sua vontade, mas que não posso fazer isso sozinho. Tenho que ter no mínimo duas companheiras, pois uma só caracteriza uma relação tradicional. Existe uma dificuldade enorme das duas se relacionarem fraternalmente e da qual já me considero impotente pra resolver. Deixei nas mãos de Deus. Então Ele resolveu agir. Fez eu pegar o trajeto maior para cumprir o trato de perder peso que eu fiz com Ele e rompi ao tomar duas bolas de sorvete e dois dindins na noite anterior. Então o trajeto extenso da corrida, pegar o ônibus ao invés do táxi, tudo contribuiu para criar um clima de extrema angústia pelo meu bem estar que com certeza mobilizaria e tornaria as duas como colaboradoras de uma mesma causa. Percebi aí a sutileza de Deus, mostrar que o meu bem estar implica em cumprir a Sua vontade e que eu dependo da fraternidade delas como companheiras para que eu alcance isso. Esse foi um dia que ficou marcado para minhas atuais companheiras e Deus assim mostra Sua força na sabedoria das circunstâncias. Eu contemplo o Seu poder extasiado, vejo as Suas ações constantemente ao meu redor e que eu só devo seguir a opção que mais se aproxima da Sua essência, que é o Amor Incondicional. Da mesma forma devem agir todos os Seus filhos que querem fazer a Sua vontade, pois caso contrário saem do caminho reto e entram em desvios outros.
O Escritor Paul Salopek da National Geographic resolveu andar durante sete anos, 33 mil quilômetros da África à Terra do Fogo, no Chile. Ele pretende reproduzir o trajeto que o Homo sapiens fez quando iniciou a exploração da Terra há 60 mil anos. Começou a caminhada em 10-01-13 no sítio arqueológico de Herto Bouri, Etiópia, no que chamou de “marco zero da humanidade” até o ponto extremo no Chile. Os achados fósseis e conhecimentos genéticos definirão a rota.
Esse sítio é o famoso local em que foram achados alguns dos mais antigos fosseis humanos, Homo sapiens idaltu, extinto há 160 mil anos. Um ancestral de ossos largos, uma versão inicial dos humanos. Foi na Etiópia descoberto muitos fosseis importantes de hominídeos, entre os quais o Ardipithecus ramidus, um bípede de 4,4 milhões de idade.
Nesse início de viagem Paul reconhece que o mundo é bem diferente quando se está com sede. Ele encolhe, perde toda profundidade. São 32 quilômetros sob calor opressivo. Foi nessas perambulações que nossos antepassados há 60 mil anos ou mais, toparam com outras espécies de hominídeos. Na época o mundo estava cheio desses primos estranhos: Homo neanderthalensis, Homo florensiensis, os denisovanos e talvez outros povos. Será que os encontramos numa situação parecida com essa? Que compartilhamos nossa reserva de água ou nos acasalamos uns com os outros, pacificamente, como sugerem alguns geneticistas? Ou será que violentamos e massacramos inaugurando a longa e terrível história de genocídio que marca a nossa espécie?
Neste início de viagem o que me deixou sensibilizado foi a descoberta de diversos cadáveres que se espalhavam pelo campo de lava de Ardoukoba, Djibuti. Eram dezenas de cadáveres vistos ao longo do trajeto, todos africanos mortos na tentativa de atravessar o deserto brutal, movidos pelo sonho de encontrar trabalho no Oriente Médio. Imaginei o sofrimento dessas pessoas caminhando em busca de um objetivo tão simples e no qual perdem suas vidas de forma tão dolorosa.
Com esse sentimento que para mim foi tão forte e puro, de empatias por aquelas frágeis criaturas, acredito que Deus tenha querido colaborar comigo no sentido de eu sentir no corpo pelo menos uma pequeníssima fração do que eles devem ter sofrido naquela travessia frustrada do deserto.
Sai de casa às 4:45h para fazer exercício. Resolvi correr de onde moro, Praia do Meio, até Ponta Negra, pela beira da praia, já que eu estava descalço, sem levar nada a não ser o calção de banho, uma camisa pólo e cinco reais. Farei uma crônica mais completa dessa aventura mais adiante.
Pois bem, não consegui atingir minha meta de ir até o Morro do Careca, local famoso de Ponta Negra e de Natal e que estava bem dentro do meu foco visual. Quando cheguei no calçadão de Ponta Negra já não conseguia correr, mesmo no trotezinho que eu vinha. Até o ato de andar era muito doloroso em cada movimento dos músculos e das articulações, principalmente das pernas e pés, e ainda mais quando meus pés descalços encontravam as pequeninas pedras do calçamento. Nem sobre a grama da calçada dos hotéis eu podia andar, pois estava cheio de placas dizendo que era proibido. Foi nessa situação que depois eu entendi o quanto havia sofrido meus irmãos da África que se deslocavam em busca de dias melhores.
Essa aventura de Paul Salopek que procurarei acompanhar deve servir para me dar boas inspirações sobre o nosso passado e como está o nosso atual comportamento, que mesmo com toda a mudança radical que a ciência e tecnologia nos trouxeram ainda se move dentro do barbarismo animal. E como fazer para conseguir aplicar a construção do Reino de Deus como Jesus ensinou e assim sairmos desse barbarismo é a minha principal meta nesta existência. Talvez parecido com a meta dos irmãos africanos que tombaram exaustos no deserto. Será que eu terei esse mesmo fim? Será que eu tombarei exausto sem ter atingido a minha meta? Esta experiência da corrida não foi alvissareira, não consegui atingir a minha meta de chegar até o Morro do Careca. Resta agora a meta espiritual, será que conseguirei aplicar e exemplificar a construção do Reino de Deus assim como Jesus ensinou?
O capítulo de Eclesiástico (Bíblia Sagrada) com esse título traz uma mensagem importante para que possamos nos conduzir nos diversos relacionamentos. Diz o seguinte:
19 Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que estima dos homens, ganharás o afeto deles.
20 Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus achará misericórdia,
21 porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado.
22 Não procures o que é elevado demais para ti; não procures o que é elevado demais para ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras,
23 pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos.
24 Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus,
25 pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano.
26 Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.
Excelentes conselhos práticos. Confesso que eu já os procuro seguir, mas não os entendia assim com tanta profundidade e ligação com Deus. Vejo que muitas pessoas que tem dificuldades com outras, de se aproximar, de dialogar, de ter empatia, se fizessem o esforço de se comportar conforme aconselha Eclesiástico, veria que a capacidade de tolerar, compreender e perdoar seria mais fácil.
O que eu tenho que observar com mais cuidado é a minha tendência de querer aprender muito, talvez já esteja demasiado. Mas como sempre estou associando tudo que aprendo com minha missão, acredito que ainda não esteja no exagero que Eclesiástico adverte.