A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Quinta parte.
AM – Falando de Voltaire e de Rousseau, podemos dizer que eles são os principais ideólogos do Iluminismo?
MA – Na Inglaterra teve Hume que foi em quem o Kant se baseou muito. Quando Kant leu Hume falou que despertou do sonho dogmático. O pensamento de Hume era muito radical. Primeiro teve uma corrente forte que ajudou destruir a Escolástica, foi o Nominalismo cujo principal nome é o Guilherme de Ockham. O Empirismo na realidade é um desdobramento do Nominalismo e o Hume vai dizer que a relação de causa e efeito é meramente empírica, que a natureza poderia mudar, ou seja, se a gente está vendo que para aquecer o café a gente tem uma ralação de causa efeito: fogo e água fervendo. Isso seria do momento da nossa experiência empírica. Isso não significa que daqui alguns anos pode ser diferente, eu coloco o fogo e o café vai esfriar. Olha que absurdo, ele defendeu isso e o Kant falou que estava certo, e tem muito filósofo hoje defendendo que Hume está certo, tem que ser abandonada essas visões metafísicas em relação causa e efeito.
LB – Maravilhosa essa negação...
MA – Destrói o princípio da indução por completo, destrói o princípio de você conseguir analisar a essência, a natureza das coisas. Esse é o autor que o Kant elogiou.
LB – Por falar em Rousseau, quem fe alguma faculdade relacionada com educação sabe que ele é muito citado como um grande expoente da educação e tudo mais. Só que na prática, na hora do testemunho de vida, não foi bem assim?
LL – Isso não importa. A realidade não importa. A cosmovisão que eles construíram era desenraizada da realidade.
LB – Colocou cinco filhos no orfanato...
LL – Essa constatação sua é absolutamente irrelevante para a forma de pensar como foi construída por eles. Não se trata de como as coisas são, mas como queremos que as coisas sejam. Essa mentalidade ideológica que nós criticamos tanto na Esquerda, identitária e até marxista mais recente, ela já está presente expressamente no Iluminismo. Pode parecer que estamos falando mal do Iluminismo e que ele pode ter trazido coisas benéficas. O Iluminismo alicerçou o mundo de forma diferente, baseado em quimeras, um mundo que já estava alicerçado. Colocaram coisas desprovidas de substâncias, coisas irreais, em mentiras, em falsidades. O mundo que nós conhecemos que é o mundo nascido da Revolução Francesa, é um mundo absolutamente iluminista. A forma como nós pensamos, como enxergamos a vida, e como os Estados, nações, as sociedades se estruturam são todas a partir de ideias iluministas. Todos os nossos padrões, políticos, jurídicos, constitucionais, todos são padrões iluministas. Tudo surgiu da mente daqueles ideólogos do século XVIII. A ideia de tripartição de poderes, de uma constituição escrita totalmente iluminista. As constituições anteriores eram no sentido tradicional, como a sociedade se organiza, se rege, em vista do bem comum. A partir do Iluminismo, não. Agora a constituição será algo que nós, iluminados, iremos codificar a partir do que nós achamos que será bom para a sociedade, como o Estado deve ser. Na Faculdade se ensina um monte de falsidades, coisas que não se sustentam na realidade. Vemos pessoas com uma visão mais alicerçada na realidade, mais tradicional, defendendo esses padrões que na verdade são quimeras que foram forjadas por homens que não sabiam regular as suas próprias vidas, mas tinham a solução para o problema do mundo.
Este é o efeito que a fama trás a determinada pessoa, a influência que ela passa a ter na sociedade. Pessoas más intencionadas ou equivocadas podem trazer sérios prejuízos, uma vez que na sociedade não existem pessoas em número considerável que possam fazer um discernimento correto das ideias que estão sendo propostas. Como poderíamos imaginar que pessoas católicas, convertidas ao Cristianismo, uma ideologia que procura levar a sociedade a um nível de excelência em padrões de fraternidade universal, se deixam levar por outras ideologias, usando como arma a própria racionalidade, que, se deveras tivesse sendo usada, essas novas ideias não se sustentariam para deslocar a cosmovisão cristã do lugar que ela alcançou.
A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Terceira parte
MA – O que era chamado de Idade das Trevas mostra um desprezo completo pela tradição e muitas coisas que são relacionadas com o Iluminismo, que quem é favorável não gosta de divulgar, por exemplo, o trabalho do Rousseau quando ele analisa da “Vontade Geral”, onde autores como Talmon e Johnson, e outros, relacionam como um princípio do Totalitarismo moderno. Rousseau coloca claramente, quando ele estuda a Grécia antiga, ele dá razão para Esparta que era a versão totalitária da Grécia antiga, em detrimento de Atenas. O Rousseau desprezava expressamente quando ele deu as cartas em resposta a Sociedade, ele falava que as artes e a ciência estavam prejudicando a civilização. Ele chegou a criticar a razão, na realidade ele entrou em contradição, uma hora elogia, outra critica. Muitos colocam ele como anti-iluminista por ter exaltado o irracionalismo. Essa questão da “Vontade Geral” é muito pouco explorada em Rousseau. Quando falam de Rousseau só querem falar do “Bom Selvagem”, que aliás é ridículo, mas esquecem da “Vontade Geral”, que foi um princípio que teve desdobramentos e foi um dos fundamentos do Totalitarismo moderno. Para ele, depois das pessoas terem compreendido o que seria essa misteriosa “Vontade Geral”, deveria ser imposta para a sociedade com um Estado forte e que todos deveriam obedecer. Dizia também que o individualismo deveria ser dissolvido no Estado. Isso foi o Totalitarismo no século XX. Tem um pouco de Hegel que veio depois. É o mesmo traço na mesma visão do que Hegel vai desenvolver depois. Sim, Rousseau foi um dos pais do Totalitarismo moderno. Robespierre leu Rousseau, Napoleão leu Rousseau, Marx se baseou muito em Rousseau... então vemos aí que autor terrível que foi o Rousseau, inspirador do Totalitarismo, de um racionalismo e do individualismo de uma sociedade atomizada.
Esse aspecto mostra uma grande falha da nossa educação, de mostrar exclusivamente um lado dos fatos, geralmente da linha ideológica que o professor segue. Seria sempre interessante colocar o contraditório nas narrativas que são construídas como verdades. Entramos na vida adulta e vamos trabalhar e reproduzir o que aprendemos como verdade unânime. Quando lá na frente temos conhecimento de outra forma de pensar aqueles fatos, observamos que os nossos heróis se transformam em vilões. Mas acontece que o estrago já está feito, já passamos as falsas narrativas à frente como verdades penhoradas pelo nosso valor de cidadão honesto. Ficamos mais atentos ao que recebemos como verdade, podemos deixar de sintonizar veículos que repassam essas falsas narrativas e que noticiam os fatos enviesados. Tive como exemplo, para mim de forma clara, o que aconteceu com o mandato presidencial de Bolsonaro, onde uma pessoa idônea foi atacada por seus críticos, cheios de iniquidades, mas como tinham o poder de veicular essas falsas narrativas a sociedade ficou contaminada, não só as pessoas analfabetas que é um grande contingente, mas até pessoa de alto nível acadêmico, as próprias universidades. Agora com a internet facilitando a comunicação, nos libertando das algemas informacionais, podemos acessar conteúdos como este, que observamos o esforço para colocar a verdade no seu devido lugar e meus antigos heróis como Che Guevara e agora Rousseau, posso colocar no lixo da história. Infelizmente não consigo ajustar o pensamento de pessoas de grande afeto, pelo nível avançado de contaminação ideológica, se perdeu o poder de racionalização, pois a deusa razão está virada para outro lado.
A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Terceira parte
LB – Pode trazer alguns exemplos?
LL – A maior parte dos iluministas não concordavam entre si em temas essenciais. O Iluminismo não é um partido político ou ideologia. É uma forma de pensar na forma de destruição da cosmovisão anterior, que era bastante alicerçada nos valores da fé católica, e a substituição por uma coisa nova.
AM – Eles queriam acabar com o passado, mas não sabiam como, não tinham uma solução.
LL – Vejamos esses dois indivíduos, Voltaire e Rousseau, duas figuras dominantes intelectualmente. Voltaire é um homem que põe tudo no chão, muito habilidoso com as palavras, grande literato, muito talentoso, mas que odeia tudo que existe, sobretudo relacionado a fé. É óbvio, porque se eles tinham a pretensão de tirar o homem das Trevas, que era na mentalidade dos iluministas, a religião, a fé católica. O Iluminismo inglês não tem tanto esse problema porque já é um mundo protestante, cada um pensa de um modo diferente. Na França a fé católica era quem conformava as mentes e ela era essa força opressora da qual era necessário tirar o homem desse jugo. Então Voltaire era o homem que colocava tudo abaixo, que escreve, que dedica sua longa carreira literária para zombar. Ele era muito mordaz, sabia usar muito bem a ironia e mentia também, mentia bastante, sem nenhum peso na consciência.
LB – Ele falava que mentia, que a mentira tinha que ser usada.
MA – Ele falava contra a Igreja.
LL – Minta o quanto puder, ele falava, minta, minta, minta, que alguma coisa vai ficar. Então, quanto mais você lança mentira sobre alguma coisa, mesmo que 99% seja desmentido, 1% vai ficar. Esses são os demolidores, mas temos aqueles que idealizam um mundo novo a partir das suas próprias concepções mentais. São os ideólogos. O Iluminismo é um movimento ideológico de uma série de homens que pensam que está tudo errado, e a partir de suas elucubrações desenraizadas da realidade, a partir de mitos como é o caso do “Bom Selvagem”, lá do Rousseau. Eles imaginam que está tudo errado e partem para reconstruir o mundo a partir da razão deles, excluindo a experiência histórica, excluindo a tradição, excluindo todo o aprendizado secular da humanidade por um novo mundo ideológico. Todas as ideologias são filhas do Iluminismo, de uma cosmovisão que quer por a tradição e a realidade no chão para substituir por algo na perspectiva revolucionária, que a razão é capaz de construir.
LB – O século XIII, de São Tomás de Aquino, de Santo Alberto Magno, que era o seu tutor, um século de tanto florescimento que a gente percebe, por exemplo, na arquitetura gótica, por que as janelas são enormes? Para que a luz entre. Então essa concepção de luz não nasceu com o Iluminismo, muito pelo contrário. Posso dizer que ficou no nosso imaginário hoje, uma concepção que na verdade não é a verdadeira?
MA – Claro, na verdade Idade das Trevas é a Idade do Iluminismo
Observamos dessa forma quem deu entrada à mentira no discurso público: justamente os principais iluministas franceses, com sua razão privilegiada, tentando enganar com esses subterfúgios a população pobre de recursos intelectuais para aplicar a racionalidade que todos possuímos. Isso está disseminado por todo o planeta, com seu perfil revolucionário, onde o principal adversário não é o Estado, e sim o Cristianismo, que se opõe com a arma contrária: a verdade. Por esse motivo o Brasil, designado para ser o coração do mundo e pátria do Evangelho está sendo tão perversamente atacado pelas Trevas, que avançaram por dentro da própria Igreja Católica conquistando o posto majoritário da hierarquia. Estamos todos sofrendo os efeitos perversos dessa ideologia satânica e maquiavélica que contaminou todos os poderes da nação e agora só dependemos dos poderes divinos, pois nossa razão alcança tribunais que nossos algozes não imaginam que existe.
Texto tirado do site Segredos de Paris, para alimentar nossa reflexão sobre o Iluminismo.
O Culto da Razão surgiu em meados da década de 1790, como parte da tentativa de eliminar a influência da Igreja Católica e da monarquia absolutista na França. Para compreender a origem filosófica desse movimento, é necessário retroceder e examinar as influências intelectuais que o moldaram.
A Revolução Francesa, um dos eventos mais emblemáticos da história, foi marcada por mudanças sociais, políticas e culturais que moldaram o mundo contemporâneo. Entre as transformações mais notáveis desse período, destaca-se a ascensão do Culto da Razão, um movimento filosófico que refletiu os ideais iluministas e os princípios da Revolução.
Os filósofos do Iluminismo, como Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Diderot (1713-1784), foram os precursores desse Culto. Eles promoveram a ideia de que a razão humana era a ferramenta fundamental para alcançar o progresso, a justiça e a liberdade. Defendiam a separação entre a Igreja e o Estado, argumentando que a religião muitas vezes era usada para manter o poder opressivo.
Princípios e significados do Culto da Razão
Um dos princípios centrais do Culto da Razão era a crença na capacidade da razão humana de construir uma sociedade baseada na Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Inspirados pelos ideais iluministas, os líderes revolucionários buscavam promover o pensamento crítico, a educação e a secularização da sociedade, ou seja, o abandono dos preceitos culturais que se apoiam na religiosidade. Eles acreditavam que a razão, em vez da religião, deveria ser o alicerce da moralidade e da ética.
Em 1793, durante o governo radical conhecido como o “Reino do Terror”, a Convenção Nacional Francesa proclamou o Culto da Razão como a religião oficial do país. Templos da Razão foram estabelecidos em toda a França, e as cerimônias religiosas foram substituídas por celebrações da razão. Essas cerimônias incluíam discursos, música, dança e a leitura de textos filosóficos.
Festa da Razão
Em 10 de agosto de 1793 foi realizada na praça da Bastilha, a primeira Festa da Razão ou Festa da Unidade e Indivisibilidade celebrada pelo presidente da Convenção Nacional, Hérault de Séchelles (1759-1794). Na ocasião foi erguida uma alegoria egípcia da natureza, em forma de estátua de gesso da deusa Ísis, ladeada por dois leões sentados, e que jorrava água dos seus seios. Nomeada como a Fonte da Regeneração.
A deusa Razão, também conhecida como a Deusa da Liberdade ou “Liberté” foi um símbolo icônico durante o período revolucionário francês (1789 e 1794), e seu culto desempenhou um papel central na efêmera religião do Culto da Razão celebrada em inúmeras igrejas transformadas em Templos da Razão.
O “culto” manifestou-se entre 1793 e 1794 (anos II e III) através de procissões carnavalescas, desnudamento de igrejas, cerimônias iconoclastas, cerimônias de mártires da revolução, etc. As cerimônias eram destinadas a substituir os cultos religiosos tradicionais, vistos como símbolos do antigo regime e da opressão.
Em 20 de Brumário de 1793, do calendário republicano francês ou 10 de novembro de 1793, do calendário gregoriano houve uma grande Festa da Razão organizada por Pierre-Gaspard Chaumette (1763-1794), procurador da Comuna de Paris, no interior da Catedral de Notre-Dame de Paris, renomeada para o evento como “Templo da Razão“.
A estátua da Virgem Maria foi retirada do altar-mor da catedral, e substituída por uma montanha feita em madeira. Num cenário de inspiração antiga, algumas jovens, sacerdotisas da filosofia, celebraram o culto da deusa Razão. No alto da montanha a deusa foi personificada por uma jovem atriz chamada Thérèse-Angélique Aubry(1772-1829), vestida em branco drapeado coberta por uma túnica azul (em referência ao manto da Virgem Maria), usava um boné frígio dos revolucionários e iluminada pela tocha a liberdade, símbolo a primazia da razão sobre a religião.
A Festa teve como objetivo substituir os rituais religiosos tradicionais da Igreja Católica por celebrações baseadas na razão e no pensamento secular.
Membros da Comuna de Paris estavam escoltados por um coro de meninas vestidas de branco e coroadas com folhas de carvalho ficaram na base da montanha, dançando e cantando. Muitos discursos enfatizavam os princípios da Revolução Francesa, como a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Finalizada a festa na Notre-Dame, o cortejo continuou pelas ruas de Paris até os jardins das Tulherias, onde encontrava-se a sede da Convenção Nacional. A deusa Razão depois de cortejada pelo Presidente da casa e seus representantes políticos voltou a Catedral aclamada pela população em êxtase pela nova ordem social e política do país.
Fim do Culto da Razão
O Culto da Razão, no entanto, não sobreviveu por muito tempo. Foi substituído pelo Culto do Ser Supremo, uma tentativa de criar uma religião deísta que incorporasse elementos religiosos mais tradicionais. A Revolução Francesa estava em constante evolução, e a religião e a filosofia eram frequentemente usadas como ferramentas políticas para atingir objetivos específicos.
Agora, tanto o Culto da Razão como e os eventos ocorrido nas Festas da Razão encontraram resistência de muitos setores da sociedade francesa. O governo revolucionário liderado por Robespierre (1758-1794) tentou substituir o “Culto” pelo Culto do Ser Supremo, uma religião deísta mais moderada, como parte de seus esforços para estabelecer um equilíbrio entre a razão e a espiritualidade.
Apesar de sua efemeridade, o Culto da Razão deixa um legado duradouro. Ele ilustra como os ideais filosóficos podem influenciar e moldar movimentos políticos e sociais. Além disso, ele destacou a importância da razão como um princípio orientador na busca pela justiça e pela igualdade, princípios que continuam a ressoar na sociedade contemporânea.
Conclusão
O Culto da Razão na Revolução Francesa teve suas raízes na filosofia iluminista, que promovia a primazia da razão humana como uma força transformadora. Embora tenha sido efêmero, ele desempenhou um papel significativo na tentativa de remodelar a sociedade francesa, estabelecendo a razão como a pedra angular dos ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade.
Após a queda de Robespierre e a ascensão de Napoleão Bonaparte (1769-1821), a deusa Razão e os princípios que ela representava continuaram a influenciar o pensamento político e filosófico na França e em todo o mundo. Ela permanece como um símbolo duradouro da busca pela razão, liberdade e justiça, que continuam a ser valores centrais na sociedade moderna.
Fontes bibliográficas:
-L’église Notre Dame devient temple de la Raison, de Gérard Michel (Obermund).
-“Le culte de la raison et le culte de l’être suprême (1793-1794)“, por Alphonse Aulard -(Paris, Félix Alcan, coleção: “Bibliothèque d’histoire contemporaine” 1892, VIII-371).
-“Culte de la Raison”, Wikipédia versão francesa.
Acredito que muitos dos meus leitores tenham ficado surpresos tanto quanto eu, de que os superiores intelectuais franceses, construtores do Iluminismo com a recém descoberta Razão, tenha colocado essa sublime senhora num pedestal e praticado seus cultos por todo o país, numa postura muito parecida com seus adversários ignorantes que não conheciam a Razão. Será que podemos hoje usar a nossa racionalidade para discernir onde está a mentira da verdade. Temo que ainda possuamos muitas pessoas, até com títulos acadêmicos jurídicos ou eclesiásticos que tenha dificuldade de fazer esse discernimento. Falha do processo racional? Infectado pelo vírus do efeito manada e que não conseguem pensar afastado do estouro da boiada?
A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Segunda parte
AM – Quando se diz, o homem no centro, é por isso que os iluministas lutam contra a religião, entendida como uma autoridade, e que o homem não teria capacidade de organizar e cuidar da sua própria vida?
MA – Antes de chegar nesse ponto, quando você pensa no Iluminismo você pensa imediatamente na Idade das Trevas. Quem criou o termo Idade das Trevas foi Petrarca, mas em outro sentido. O termo aplicado ao que nós chamamos de Idade Média como Idade das Trevas surgiu no Renascimento. Haveria três idades: a Idade Antiga, a Idade Média e a Idade do Iluminismo. Sendo a Idade Média a Idade das Trevas e depois viria o Iluminismo. Quem desenvolveu a teoria das três idades foi Joaquim de Fiori, uma influência joaquinista. Estabeleceu-se Idade Antiga, Idade Média e Iluminismo. Muitos dos elementos do Iluminismo pegam do Renascentismo, que foi tudo, menos algo racionalista. Estava cheio de coisas místicas, esotéricas, cabalistas, gnósticas. O Renascimento comecou com o Humanismo que foi se desenvolvendo, se desdobrando e depois vem o empirismo, revolução científica até chegar no Iluminismo que tem ao mesmo tempo o culto ao homem e o culto da razão. Muitos desses traços do Iluminismo vão chegar em Auguste Comte que vai ter até o Templo da Razão. Na Revolução Francesa existiu o Templo da Razão. Foi um movimento no qual o homem estava no centro de tudo, principalmente sua razão.
LB – Nós trazemos essa palavra “razão” com bastante frequência quando falamos do Iluminismo. Então a racionalidade, a razão, todo um elemento que se contrapõe à questão da fé. É como se o tempo inteiro o homem estivesse se colocando como racional, trazendo a razão, sua própria razão para o centro da questão. Porque isso seria um jeito de combater aquela escuridão da fé, colocando essas duas coisas como contrapostas. Havia de fato uma contraposição no período que antecede o Iluminismo, à razão? Havia um ódio à razão?
LL – O conceito que os iluministas têm de razão é uma ideia desenraizada da realidade. A razão iluminista, alicerçada na filosofia cartesiana de Rene Descartes, não é uma razão tal como os gregos e os medievais compreendiam. Quando observamos a mentalidade iluminista, veremos que é tudo menos racional. Ela é racionalista porque reduz toda possibilidade de conhecimento humano a essa razão que na prática se converte em uma faculdade ilimitada e que tudo pode realizar. Através da sua razão o homem pode destruir o que existe, colocar no chão como fazia Voltaire, e construir um novo a partir das utopias e do que ele acha justo, adequado e bom, que é o que fazia Rousseau. O que o Iluminismo faz por trás dessa fachada de trazer luminosidade para a vida humana, o que se faz é fechar a vida humana em certas construções teóricas desenraizadas da realidade, desenvolvida por alguns indivíduos.
Podemos ver que o termo “razão” foi sequestrado pelas novas formas de pensar, como se nos períodos anteriores não existisse razão. Tudo que nós construímos desde o tempo das cavernas tem o toque da racionalidade. O desenvolvimento do Cristianismo foi o grande triunfo da racionalidade, tirando o homem de uma estrutura de barbárie, da lei do mais forte, que implica em constantes guerras fratricidas com grande poder de destruição e sofrimento, para uma sociedade mais fraterna onde o amor pode ficar acima dos instintos animais. A vitória da racionalidade cristã, conquistando inicialmente o poderoso e perseguidor império romano foi uma amostra dessa forma de pensar e agir religiosamente. Mesmo que os seus agentes tivessem consigo a preponderância dos instintos animais, da luta pelo poder, mas colocava nesse ponto a racionalidade cristã como arma de combate. Portanto, dizer que os iluministas foram o descobridor da razão e que chegaram até a criar uma religião com templos e rituais nesse sentido, é mais uma artimanha populista para mudar a cosmovisão existente para outra, usando como massa de manobra os inúmeros ignorantes que se movem em busca dos seus interesses pessoais, próprios do egoísmo animal. Os iluministas revolucionários que proveram o banho de sangue na França, percebem hoje o fiasco de suas primeiras ações racionalistas criando a religião da razão, que hoje poucas pessoas conhecem essa faceta dos revolucionários, como eu. Eles continuam exibindo como símbolo do sucesso a bandeira tricolor com os temas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade como motor condutor das massas e que se repete até hoje com suas falsas aplicações, onde podemos ver que na práticas eles fizeram totalmente o inverso do que prometiam.