Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
06/01/2014 01h01
MATRIMÔNIO E DESÍGNIO DIVINO

            O documento do Papa Francisco, seguindo a esteira dos documentos anteriores, o Humanae Vitae e o Familiaris Consortio, insiste na proposta do desígnio divino acerca da verdade originária do amor esponsal e familiar: “O lugar único que torna possível esta doação segundo a sua verdade total, é o matrimônio, ou seja o pacto de amor conjugal ou escolha consciente e livre, com a qual o homem e a mulher recebem a comunidade íntima de vida e de amor, querida pelo próprio Deus, que só a esta luz manifesta o seu verdadeiro significado. A instituição matrimonial não é uma ingerência indevida da sociedade ou da autoridade, nem a imposição extrínseca de uma forma, mas uma exigência interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como único e exclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desígnio de Deus Criador. Longe de mortificar a liberdade da pessoa, esta fidelidade põe-na em segurança em relação ao subjetivismo e relativismo, tornando-a participante da Sabedoria criadora.”

            Insiste o documento na verdade total do matrimônio assim como ele é na formação do amor esponsal e familiar. Cita que é um pacto de amor conjugal consciente e livre. Como pode ser consciente e livre se não é acolhido a linguagem, pensamento e comportamento das ruas, do mundano, das forças instintivas do desejo na modulação da família? Se não acontece essa explicação para quem deseja contrair o matrimonio, quando as forças instintivas se manifestarem no psiquismo de um e no outro cônjuge, eles irão se digladiar em defesa dos compromissos e interesses que fazem parte do pacto realizado, os conflitos tenderão a se aprofundar cada vez mais e irão sentir sim, o casamento como uma ingerência sobre uma liberdade que ele descobriram ser necessária para a realização de desejos que não foram considerados antes. Como aceitar que essa limitação imposta pelo casamento e que não fora considerada antes seja um desígnio de Deus? Se Deus está representado na Natureza e essa mesma Natureza é quem mostra a existência desses desejos que clamam por sua realização?   

            Certamente que a satisfação dos desejos sem o conhecimento de uma ética por trás, irá beneficiar sempre o mais forte, o homem, o mais rico, o mais poderoso. A ética que o matrimônio traz para limitar os abusos que possam ser cometidos e construir um núcleo familiar é de grande importância para a sociedade. Também é desejo de Deus que não haja abusos na engenharia da Natureza que Ele deixou formada. Somente assim o processo evolutivo pode avançar na base da harmonia e fraternidade.

            O Evangelho ensinado por Jesus é a grande lição que recebemos para fazer essa família ser construída nessa base e ser construído assim o Reino de Deus, como ele disse que já estava em tempo.

            Então, possuímos assim duas principais cartilhas para nossa educação: a primeira é a lei de Deus escrita na Natureza, que devemos aprender e aplicar sem abusos; a outra é o Evangelho que serve como limite ético para evitar os abusos que nossos instintos animais possam cometer. Dessa forma podemos construir uma família baseada na verdade e mais próxima do Reino de Deus. 

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em 06/01/2014 às 01h01
 
05/01/2014 03h48
FAMILIARIS CONSORTIO

            O outro documento citado pelo Papa Francisco é a Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” de Sua Santidade João Paulo II ao episcopado, ao clero e aos fiéis de toda Igreja Católica sobre a função da família cristã no mundo de hoje.

            Logo na introdução o documento diz que “A família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais. Consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente; a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade; e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros, a Igreja oferece o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família. Dirige-se particularmente aos jovens, que estão para encetar o seu caminho para o matrimônio e para a família, abrindo-lhes novos horizontes, ajudando-os a descobrir a beleza e a grandeza da vocação do amor e ao serviço da vida.”

            Noutro trecho em que fala das Luzes e sombras da família de hoje, o documento diz da “Necessidade de conhecer a situação. Uma vez que o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família visa o homem e a mulher no concreto da sua existência quotidiana, em determinadas situações sociais e culturais, a Igreja, para cumprir sua missão, deve esforçar-se por conhecer as situações em que o matrimônio e a família se encontram hoje. Este conhecimento é, portanto, uma exigência imprescindível para a obra de evangelização. É na verdade, às famílias do nosso tempo que a Igreja deve levar o imutável e sempre novo Evangelho de Jesus Cristo, na forma em que as famílias se encontram envolvidas nas presentes condições do mundo, chamadas acolher e a viver o projeto de Deus que lhes diz respeito. Não só, mas os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história, e, portanto, a igreja pode ser guiada para uma intelecção mais profunda do inexaurível mistério do matrimônio e da família a partir das situações, perguntas, ansiedades e esperanças dos jovens, dos esposos e dos pais de hoje. Deve ainda juntar-se a isto uma reflexão ulterior de particular importância no tempo presente. Não raramente ao homem e à mulher de hoje, em sincera e profunda procura de uma resposta aos graves e diários problemas da sua vida matrimonial e familiar, são oferecidas visões e propostas mesmo sedutoras, mas que comprometem em medida diversa a verdade e a dignidade da pessoa humana. É uma oferta frequentemente sustentada pela potente e capilar organização dos meios de comunicação social, que põem sutilmente em perigo a liberdade e a capacidade de julgar com objetividade. Muitos, já cientes deste perigo em que se encontra a pessoa humana, empenham-se pela verdade. A Igreja, com seu discernimento evangélico, une-se a esses, oferecendo-lhes o seu serviço em prol da verdade, da liberdade e da dignidade de cada homem e mulher.”

            O ponto central nessas considerações do documento, que merece ser detalhadamente analisado, ponto por ponto em outra ocasião, é a necessidade de CONHECIMENTO. Conhecimento da Natureza trazido pela ciência e das repercussões causadas no meio social, nos relacionamentos. Por exemplo, existe uma crônica escrita por Fabrício Carpinejar, em seu livro “Ai meu Deus, ai meu Jesus” editado pela Bertrand Brasil em 2013 que diz assim logo no início com o título – SEXO e sexo:

            “Sexo é tudo para o homem, na primeira colocação do ranking, seguido de futebol e carro. O quarto e o quinto lugares ainda estão vagos.

            “Sexo não é tudo para a mulher, situado no quinto lugar da lista, depoois de casamento, amor, romance e paixão.

            “Sexo é envolvimento para o homem. É capaz de morar com uma mulher que faz sexo maravilhoso. Ele se apaixona pelo corpo para se apaixonar pela alma. Não desgrudará daquela que transa na primeira noite, as demais madrugadas são para confirmar que a estréia não foi uma alucinação. Admira quem é liberta de preconceitos, safada, exigente de posições fora do convencional. A possibilidade de experimentar uma vida extraordinária na cama arrebata sua confiança. O macho partilha de três fantasias: converter uma lésbica, tirar uma prostituta da profissão e casar com uma ninfomaníaca.

            “Para a mulher, envolvimento depende de forte retranca: segurar a primeira noite. Pode ter sexo na primeira manhã ou na primeira tarde. Mas primeira noite, não. Não pode aparentar facilidade, senão ele dispensará o esforço da conquista e não lhe dará valor.

            “Sua metodologia é retardar o grande momento até que ele se renda ao compromisso sério. Três dias de encontros sem nada é o ideal. Caso completar uma semana, é matrimônio na certa. Talvez até o candidato ficar alucinado de tesão a ponto de não diferenciar o que é real do que é imaginário. Existe um momento em que o parceiro, embriagado pelo próprio desejo, diz sim para qualquer pergunta. A fêmea acalenta três sonhos eróticos: que ele não ronque, não durma no sofá e não palite os dentes. Caso a trinca de modos aconteça, ela abrirá mão da fantasia com o dentista, o psiquiatra e o pediatra do filho.

            “O homem nunca reclama do casamento ao transar sete vezes por semana. Chia diante de uma média menor. A mulher reclama do marido se ele pensa em sexo o tempo todo.

            “O homem é o único mamífero que conta há quantos dias está sem transar. Pode perguntar agora ao seu parceiro: não duvido que não mencione as horas e os minutos. Ficar sem sexo é como uma prisão perpétua masculina. Uma contagem de confinamento. Logo depois que ele trepa, inicia de novo seu cronômetro. É um Sísifo dos travesseiros.

            “Mulher apenas contabiliza os dias de abstinência quando completa três meses. O trimestre é um sinal preocupante, a ameaça da seca. Falta de sexo é como gestação para a ala feminina, demora para ser vista.”

            Esta é a linguagem e o pensamento que predomina dentro da comunidade. O matrimônio, o casamento como ensinado pela Igreja, é considerado pelas mulheres e principalmente pelos homens como posto num altar, como está a maioria dos santos. Todos devem ser referenciados, respeitados, mas dentro do templo. Ao sair na rua ou adentrar nos grupos ou na intimidade da alcova, tudo isso fica muito distante. Fazer a junção do comportamento da rua com a ética do Evangelho é uma tarefa que cada discípulo do Cristo, independente da Igreja que ele freqüente, ou que não freqüente nenhuma, mas que tenha a intenção de cumprir com fidedignidade as lições evangélicas, deve procurar fazer, e a partir do seu próprio comportamento.

            Nesse aspecto a Igreja católica tem dificuldade, pois quer ensinar uma coisa que não possui a experiência prática. Nenhum padre ou freira tem a experiência de um relacionamento íntimo homem-mulher com a perspectiva de formar uma família para entrar nessa discussão com bases próprias. É parecido com o que acontece com os Alcoólicos Anônimos. Pessoas que se reúnem para combater o alcoolismo que cada um reconhece ser portador. Esse tipo de atitude traz um grande recurso terapêutico, superior a qualquer outra forma de tratamento que seja empregada. O sucesso é entendido porque todos que ali se acham reunidos conhecem a mesma linguagem do que está sendo abordado: a dependência do álcool. Na Igreja é como se os técnicos, padres e freiras, quisessem ensinar algo do qual eles não tem experiência própria. Perdem grande parte de sua força educacional.   

            Portanto, é assim que entendo e que os próprios textos da Igreja confirmam: o ensino da verdade qualquer que seja ela, desde que seja pertinente a vida dos nubentes, que sejam de interesse para o projeto de vida de cada um, e que seguem os caminhos da Natureza, devem ser feito sem nenhum resquício de preconceito. Apenas com o intuito de esclarecer devidamente o que cada um irá experimentar no futuro e a fazer a devida avaliação se consegue ou não cumprir determinada exigência legal ou espiritual. Neste caso a honestidade de quem ensina e de quem aprende é fundamental.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 05/01/2014 às 03h48
 
04/01/2014 01h01
HUMANAE VITAE

            O documento do Papa Francisco cita a Carta Encíclica Humana Vitae de sua Santidade Papa Paulo VI, publicada em 1968, como mais um esforço da Igreja na educação das famílias. Reconhece este documento que o homem fez progressos admiráveis no domínio e na organização racional das forças da natureza, de tal maneira que tende a tornar extensivo esse domínio ao seu próprio ser global: ao corpo, à vida psíquica, à vida social e até mesmo às leis que regulam a transmissão da vida.

            Lança uma reflexão nova e aprofundada sobre os princípios da doutrina moral do matrimônio: doutrina fundada sobre a lei natural, iluminada e enriquecida pela Revelação divina. Diz que compete ao Magistério da Igreja interpretar a lei moral natural. Lembra que Jesus Cristo, ao comunicar a Pedro e aos demais apóstolos a sua autoridade divina e ao enviá-los a ensinar todos os seus mandamentos, os constituía guardas e intérpretes autênticos de toda a lei moral, ou seja, não só da lei evangélica, como também da natural, dado que ela é igualmente expressão da vontade divina e que a sua observância é do mesmo modo necessária para a salvação.

            Diz que o matrimônio não é fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes. É uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas.

            Diz ainda que o amor conjugal é plenamente humano, ao mesmo tempo espiritual e sensível. Não é, portanto, um simples ímpeto do instinto ou do sentimento; mas é também, e principalmente, ato da vontade livre, destinado a manter-se e a crescer, mediante as dores da vida cotidiana, de tal modo que os esposos se tornem um só coração e uma só alma e alcancem juntos à sua perfeição humana.

É depois, um amor total, quer dizer, uma forma muito especial de amizade pessoal, em que os esposos generosamente compartilham todas as coisas, sem reservas indevidas e sem cálculos egoístas. Quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquecê-lo com o dom de si próprio.

É, ainda, amor fiel e exclusivo, até a morte. Assim o concebem, efetivamente, o esposo e a esposa no dia em que assumem, livremente e com plena consciência, o compromisso do vínculo matrimonial. Fidelidade que por vezes pode ser difícil, mas que é sempre nobre e meritória, ninguém o pode negar.

É, finalmente, amor fecundo que não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas que está destinado a continuar suscitando novas vidas. “O matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos pais”.

            O documento citado pelo Papa Francisco mostra assim avanços no Magistério da Igreja com relação a educação das famílias. Reconhece o avanço humano no conhecimento das leis da natureza e o conseguinte domínio e organização. Reconhece o fundamento do matrimônio sob a lei natural, mas não vai além disso, não aprofunda no que a lei natural exige das criaturas. Quanto ao mandato dado por Jesus Cristo aos apóstolos como guardas e interpretes da lei moral que inclui o Evangelho e a Natureza, tanto um como outro depende de aprendizado. Quanto ao Evangelho o próprio Cristo ensinou as diretrizes que se reproduzem ao longo do tempo. Com relação a Natureza é a ciência quem vem desvendando os seus mistérios e necessita de uma constante atualização dos atuais discípulos de Jesus para melhor aplicar a lei moral. Os instintos e herança genética fazem parte da natureza humana e o devido conhecimento dessa força é importante para aplicar melhor os ensinamentos evangélicos.

            Diz de forma temerária que o matrimônio não é fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes. Acredito que ainda não temos domínio completo da Natureza para afirmar isso, e pelo pouco que já conhecemos essas forças naturais inconscientes podem sim, ter um papel muito importante na motivação para o matrimonio. A instituição do matrimônio pode ter sido inspirada pelo Criador, mas como é uma criação humana, com certeza dentro dela se reflete nossas imperfeições. Cabe a nós ter humildade, rever os ensinamentos evangélicos, aprofundar no conhecimento científico da Natureza e ajustar passo a passo a instituição matrimonial para que seja mais coerente com o próprio Reino de Deus que é a sua finalidade.

            Agora acredito que o documento esteja certo quando diz que o amor conjugal é plenamente humano, ao mesmo tempo espiritual e sensível. É um ato da vontade livre que desejam se tornar uma só alma e um só coração. Carne da mesma carne, como está escrito na Bíblia. Está cheia de verdade o documento, quando diz que quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquecê-lo com o dom de si próprio. Perfeito! Mas para que isso possa acontecer, para que esse amor seja puro até a morte, é necessário que exista plena consciência de quem seja o consorte, o que ele pensa, o que deseja alcançar, quais são seus paradigmas de vida, etc. somente depois de bem conhecer a pessoa que se candidata a consorte, e aceitar esses princípios como seus também, é que se estabelece a condição de um matrimônio consciente e sintonizado com o Evangelho e com a Natureza, onde os preconceitos de toda espécie deixam de existir e prevalece a consciência, onde está escrita a lei de Deus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/01/2014 às 01h01
 
03/01/2014 01h01
FAMÍLIA E MATRIMÔNIO

            O matrimônio, dentro do direito canônico (conjunto de leis e regulamentos feitos ou adotados pelos líderes da Igreja, para o governo da organização cristã e seus membros), é o pacto pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio para toda a vida, de acordo com suas propriedades essenciais: a unidade e a indissolubilidade. Será ordenado por sua índole natural aos bens materiais e espirituais dos cônjuges e à geração e educação da prole a partir do batizado. Para a grande maioria das confissões cristãs significa um Sacramento, sinal ou gesto divino instituído por Jesus Cristo.

            O consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual um homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir matrimônio.

            Observamos assim a gravidade dessa condição, que liga um homem a uma mulher para a vida toda. É necessário para que isso seja feito com justiça, que ambos conheçam todas as implicações dessa decisão. É necessário que eles saibam que, geralmente, o motor dessa decisão é o amor romântico alicerçado nos desejos sexuais que são mantidos dentro de uma esfera egoísta de exclusividade. É necessário que saibam que esses desejos carnais, como todos os outros desejos ligados à carne, passam pelo processo de adaptação, de saciação, que não mostram mais a mesma força motivacional de antes; que esses desejos carnais irão surgir com força por outras pessoas e que muitas vezes não se verão empecilhos outros contrários à sua realização, a não ser esse compromisso matrimonial. É necessário que os nubentes tenham essa compreensão antes de decidir pelo compromisso do matrimônio com todas as responsabilidades e exigências que ele apresenta. Mesmo que não consigam dimensionar adequadamente a força do que os esperam, visto que se encontram ainda dentro do circulo de uma paixão romântica, mas quando chegar o momento que a Natureza mostrar sua verdade, eles não se sentirão enganados ou prisioneiros dentro de uma armadilha que eles não conheciam.

            Isso sem falar nos defeitos de cada um que o tempo irá demonstrar à medida que o desejo carnal for sendo saciado. O que será criado de forma positiva e que desempenhará um grande papel na convivência dos dois é o sentimento de companheirismo, de amizade, de fraternidade, que o tempo consolidará se não houver obstáculos para isso acontecer. Esse sentimento de companheirismo será o grande aliado do Amor para a sua perpetuação na base sólida da amizade.

            Agora, o documento papal vem dizer que ao longo dos séculos, sobretudo na época moderna até os nossos dias, a Igreja não fez faltar seu ensinamento constante e crescente sobre a família e sobre o matrimônio que a fundamenta.

            Tudo bem, a Igreja fez isso, mas sempre com base naquilo que os seus líderes consideram correto; é o ensinamento da Igreja para os seus membros. A Igreja não se debruçou sobre a Natureza onde está colocada a lei de Deus e tentou fazer uma interpretação com base na justiça e fraternidade. Poderia ter reconhecido que esse desejo carnal está presente em toda a humanidade, inclusive dentro da Igreja e entre os seus líderes. Poderia advertir melhor sobre a necessária união do homem com a mulher, mas observando todos os desejos com os quais Deus nos criou, como Ele desejaria que lidássemos com esses desejos para não atravancar nossa evolução espiritual nem abusar dos mais fracos, nem fugir de nossas responsabilidades.

            O documento cita o Concílio Ecumênico Vaticano II que dedica um capítulo inteiro à promoção da dignidade do matrimônio e da família, como sobressai na descrição do seu valor para a constituição da sociedade: “A família – na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social – constitui assim o fundamento da sociedade”. Particularmente intenso é o apelo a uma espiritualidade cristocêntrica dirigida aos esposos crentes: “Os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade, de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e dos sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com sua morte e ressurreição”.

            Volto a dizer que dentro dos maiores textos e capítulos que tenham sido escritos pela Igreja, não encontro a consideração da Natureza na formação dos nossos instintos animais e que persistem na condição humana. Fala sobre o valor do matrimônio e da família para a constituição da sociedade e deixa escapar a realidade dos instintos animais em nossa constituição e a melhor forma de lidar com eles, sem ser pela exclusiva repressão.

            Pode até ser intenso o apelo a uma espiritualidade cristocêntrica dirigida aos esposos crentes, mas sempre com a deformidade de não considerar todos os ângulos da questão e tão somente o que os líderes consideram uma “ideologia saudável” que possa ser defendida em público, mesmo que na vida íntima nem as ovelhas nem mesmo eles próprios, os próprios lideres consigam cumprir em sua pureza.

            Quando é dito para os esposos, que são feitos a imagem de Deus, seguirem a Cristo como um modelo e princípio de vida, esquecem que a lição básica que Ele veio nos ensinar foi aprender a amar. Não é o amor de natureza carnal que São Francisco e Santa Clara tão bem demonstraram nas suas relações com eles mesmos e com o mundo. Eles se olhavam e se amavam profundamente, mas o amor deles não era entendido pela compreensão de vida que tinha a maioria das pessoas, inclusive os seus parentes mais próximos. Eles não tinham o desejo sexual que apetece a carne e quer a exclusividade do ser amado. Mesmo assim São Francisco fazia questão de indagar se ela sabia realmente o que estava querendo fazer, ao querer seguir a vocação que ele tinha de fazer a vontade de Deus conforme a ouvia em sua mente. Ela era firme em suas convicções e que estava disposta a suportar os espinhos do caminho, conforme Francisco advertia. Este era o caminho de Francisco e Clara, se tornaram companheiros sem nunca morarem juntos, sem nunca terem tido uma experiência sexual. Foram chamados por Deus para demonstrarem que a prática do Evangelho que Jesus veio ensinar podia ser aplicada entre os homens, que podia ser evitado a pompa e autoridade na comunidade dos irmãos e prevalecer a fraternidade, bondade e compaixão.

            Mas, todas essas lições que Jesus trouxe foi com o objetivo de criar o Reino de Deus, pois os tempos eram chegados. Para criar o Reino de Deus é necessário que seja considerada toda a força da Natureza, pois é nela que se encontra a lei de Deus em sua essência. Devemos estudar e compreender cada vez mais suas características para agir com harmonia necessária, sem praticar abusos de qualquer natureza, contra nós ou contra o próximo. Tem que ser considerado a natureza dos instintos animais que possuímos quando pensamos em nos unir a uma mulher e formar uma família com o intuído de construir a coletividade fraterna do Reino de Deus. Para alguma coisa servem esses instintos animais além da reprodução animal com base no exclusivismo afetivo. Pode muito bem serem usados para fortalecer e praticar com prioridade o Amor Incondicional. Este é ao meu ver, a grande lição que temos que praticar para construir esse Reino de Deus, sob o comando de Jesus. Devo tirar de minhas convicções quaisquer leis ou regulamentos humanos que tentam limitar ou obstruir a expressão do Amor Incondicional, por qualquer título que lhe dêem.

            Dessa forma eu imagino um paralelismo com o que aconteceu com São Francisco. Ele ouvia uma voz que lhe dizia o que fazer para cumprir a vontade de Deus, reconstruindo a Sua igreja que estava deteriorada e ruindo em seus alicerces espirituais, apesar de por fora existir com grande pompa. Eu tenho a compreensão de receber mensagens de Deus a cada momento para que eu reconstrua a família que está deteriorada nas suas bases mais íntimas e que por fora parece tão pura e perfeita.

            Da mesma forma que Francisco se sentia confuso muitas vezes, eu também me sinto, pois não consigo dizer com clareza como será a construção desse Reino de Deus através da reconstrução da família, por um caminho que parece a todos cheio de prevaricações e de confronto a própria lei de Deus como eles imaginam.

            Sei apenas e disso tenho convicção, que tenho de me armar da mesma forma que Francisco, com as armas do amor, da tolerância e da compaixão, e por meio desse meu exemplo consiga alcançar os corações de boa vontade e criar famílias mais íntegras. Assim como Francisco criou capelas coerentes com o Evangelho nos corações, talvez eu motive a criação de famílias mais íntegras e que evitem a hipocrisia em hoje estão mergulhadas pelo mundo afora.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/01/2014 às 01h01
 
02/01/2014 01h01
FAMÍLIA E SOLIDARIEDADE

            O mundo vive uma crise de solidariedade que posso constatar ao abrir a janela de minha casa e ver crianças, adultos e idosos andrajosos, maltrapilhos, esfomeados e drogados, a pedirem ou roubarem o que necessitam. Posso constatar ao ligar a televisão ou pegar o jornal e ver os níveis de corrupção que são descobertos pelo mundo, das guerras externas e das revoluções internas que pipocam em todos os pontos do planeta, das armas de destruição que são construídas e aperfeiçoadas, dos treinamentos militares que são realizados para melhorar o comportamento tático de destruir o próximo que está distante ou que pensa de forma contrária.

            O documento do Papa Francisco lembra que na comunidade cristã primitiva a família se manifestava como “Igreja Doméstica”, nos chamados “códigos familiares” das Cartas apostólicas neo-testamentárias. A grande família do mundo antigo é identificada como o lugar de solidariedade mais profunda entre esposas e maridos, entre pais e filhos, entre ricos e pobres. Em particular a Carta aos Efésios identificou um amor nupcial entre o homem e a mulher “o grande mistério” que torna presente no mundo o amor de Cristo e da Igreja.

            Quando comparo esse trecho do texto papal com a aplicação do Amor Incondicional que é a lei de Deus, vejo uma grande confusão e perda de foco, de quem é principal e de quem é secundário nessa história. Posso até concordar que a grande família do mundo antigo seja identificada como o lugar de solidariedade, explicita, mas não profunda, entre esposas e maridos, entre pais e filhos... jamais entre ricos e pobres!

            Digo assim, pois não vejo a solidariedade da esposa ou do marido ir além daquilo que cada um considera também positivo para si. Um exemplo bem claro é na história de Abraão e Sara que encontramos na Bíblia. Sara percebendo que não podia mais dar um filho a Abraão, e que este tanto necessitava para passar o bastão do seu clã, resolve aconselhar o marido a fecundar a criada, Agar, e assim ter o desejado filho com ela. Acontece que Sara logo em seguida tem o seu filho e termina por induzir Abraão a expulsar Agar com o filho dela da tribo para que o primogênito de Abraão não ameaçasse a liderança da comunidade após a morte do pai. Abraão constrangido faz a vontade da esposa e expulsa seu filho e a mãe para o deserto. Onde está a solidariedade de Sara por Abraão que quebrou os seus princípios contra a Lei do Amor e teve que obedecer aos caprichos egoístas da esposa? Onde está a solidariedade de Abraão por Agar que apesar de humilde e escrava aceitou ser a mãe de um filho para contentar seu senhor e a sua esposa? Por isso eu afirmo que essa solidariedade observada entre marido e esposa desde as famílias mais antigas é apenas um verniz comportamental. Quando as circunstâncias ameaçam os interesses de cada um, logo as exigências são feitas de forma abusiva contra os interesses de quem esteja na frente. O amor ao próximo como Jesus ensinou não existe!

            A mesma forma acontece na relação dos pais com os filhos. Os pais criam e educam os filhos com o objetivo principal de suprirem as suas necessidades, fisiológicas ou psicológicas, que façam a sua vontade e muitas vezes desconsideram ou são plenamente contrários porque não se ajusta ao que eles pensam da vida. Por outro lado, os filhos quando crescidos e independentes assumem os caminhos de sua vida sem lembrar da importância dos pais na sua formação. Onde está a solidariedade nesse contexto? Mais uma vez não consigo a observar além do verniz comportamental.

            Agora, dizer que existe solidariedade entre ricos e pobres no contexto familiar, considero um grande contra-senso. Logo, a existência da pobreza é uma prova da falta de solidariedade da sociedade como um todo e das famílias em particular. A riqueza geralmente é formada sobre o abuso da ignorância e da fragilidade do próximo. A caridade que observamos nas famílias pretende atenuar a fome e a nudez dos miseráveis, mas nada faz para eliminar seus privilégios, deixar de explorar a ignorância e a fragilidade. Isso pode existir mesmo dentro das famílias, quanto mais fora dos seus limites consangüíneos. Mais uma vez não vejo solidariedade!

            O texto do Papa Francisco continua a mostrar miopia ao dizer que identificou na Carta aos Efésios, no amor nupcial entre o homem e a mulher, “o grande mistério” que torna presente no mundo o amor de Cristo e da Igreja. Tire a possibilidade de relação sexual entre os nubentes para ver quantos evoluem até o casamento! Então este é “o grande mistério” que está presente no amor de Cristo e da Igreja? Uma relação sexual? Temos que convir que esse amor que Cristo veio nos ensinar está muito além de uma relação sexual, mesmo porque Ele não nos deu nenhuma indicação de que esse amor nupcial, sexual, seria fundamental para a criação do Reino de Deus. O que Ele ensinou era que o fundamental é o Amor Incondicional e que ele deve ser desenvolvido a partir dos nossos próprios corações, após fazer a faxina do egoísmo que nascemos com ele.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 02/01/2014 às 01h01
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