Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
10/11/2016 00h59
PARCERIA ESPÍRITO-MATÉRIA E EVOLUÇÃO CONSCIENCIAL

            Três pessoas espíritas passaram a frequentar o curso opcional de Medicina, Saúde e Espiritualidade, que coordeno na UFRN-CCS-DMC, na condição de ouvintes. São pessoas bastante experientes dentro da doutrina divulgada por Allan Kardec, trabalham em Centro Espíritas e conhecem bastante do mundo espiritual e de suas interpenetrações com o mundo material.

            Fui convidado por um deles para fazer uma palestra no Centro Espírita que funciona como um Pronto Socorro espiritual. Vi os trabalhos que eles desenvolvem no Centro, essencialmente de natureza curativa, com diversas salas de atividades e com diversos médiuns em ação ao mesmo tempo. Vi logo a possibilidade de fazermos um trabalho de pesquisa ou de extensão universitária, unindo o conteúdo acadêmico ao conteúdo espiritual.

            No trabalho de pesquisa pode ser feito um levantamento de todas as atividades espirituais, religiosas, não só dentro da Doutrina Espírita, e ver a metodologia que cada uma usa na sua prática.

            No trabalho de extensão pode ser feito uma parceria com o Pronto Socorro Espiritual para encaminhar pacientes necessitados de terapia espiritual para serem diagnosticados, acompanhados e verificados com objetividade o grau de recuperação da enfermidade.

            Qualquer uma das duas atividades deve ter como foco a importância do mundo espiritual na recuperação das doenças, na conscientização da existência pós desencarne e que precisamos evoluir no contexto moral.

            A existência do mundo espiritual tem sido há muito desconsiderado, mesmo a pessoa sabendo da sua existência. O mundo material exerce um forte poder de atração sobre a consciência, e quando estamos funcionando fora dos templos religiosos, pouco lembramos da nossa condição espiritual. Prevalece a hierarquia do mundo material, com o foco nos interesses evolutivos da matéria, geralmente associados ao egoísmo.

            A Academia que é o órgão pensante da sociedade, evita focar seu interesse no mundo espiritual, onde não consegue colocar a metodologia científica para a descoberta da Verdade. A intuição associada à lógica, coerência, termina sendo os principais fatores de manutenção do mundo espiritual no foco de interesse. Mesmo assim, não são todos os acadêmicos que usam a lógica e coerência para considerar a importância do mundo espiritual, muitos até nem aceitam a sua existência.

            Por esse motivo, os acadêmicos que têm a percepção clara da existência do mundo espiritual, não podem deixar de citar a sua importância dentro de nossa evolução e quais são os objetivos que iremos alcançar ao longo da vida.

            É importante que eu procure sentar com as pessoas que já convivem no cotidiano com o mundo espiritual para que eles me orientem como fazer essa convicção chegar às massas e que a maioria seja inclinada a considerar a importância da mudança nos paradigmas conscienciais para que nos tornemos aptos a construir os alicerces do Reino do Pai.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/11/2016 às 00h59
 
09/11/2016 00h59
AMOR INCONDICIONAL (01) – EXISTÊNCIA DE DEUS

            Apesar de não ser possível a sua mensuração de forma objetiva, o Amor é reconhecido pela maioria das consciências mais preparadas intelectualmente como a maior força do Universo, que pode ser reconhecido como a essência do próprio criador. É interessante que possamos fazer uma reflexão para a melhor compreensão dessa força tão importante e ao mesmo tempo tão invisível.

            O Pai achou que já era hora dos meus conhecimentos e paradigmas de vida serem colocados ao público, à bem da Verdade, e providenciou para que eu recebesse um convite para falar no Centro Espírita, Pronto Socorro Espiritual, com o tema à minha escolha. Não tive dúvidas, escolhi falar sobre o Amor Incondicional. Para isso procurei fazer um Power Point para organizar o pensamento e ajudar na exposição do assunto. Mesmo assim, o Pai achou que eu deveria falar do que estava em minha consciência, em contato direto com a plateia, sem me voltar para o material de apoio. A sala estava muito clara, esqueci de levar o meu notebook onde estava guardada a aula e o Centro Espírita não disponha de aparelho, para ao menos eu abrir para ler o que havia feito. Encarei a palestra como o Pai queria, falando diretamente para o público. Resgatei na memória o que havia feito e comecei a tarefa.

            A procura da verdade tem através da metodologia da ciência uma importante ferramenta para isso acontecer: achar a Verdade. No entanto, fatores de natureza mais abstrata trazem muito mais dificuldade para o cumprimento dos requisitos científicos. Além disso, a lógica e a coerência são atributos cognitivos que podem trazer à consciência fragmentos da verdade que não podem ser alcançados pela metodologia científica. Um desses fragmentos da Verdade, da maior importância, é a nossa origem, enquanto ser vivo, enquanto Universo.

            A Ciência aponta que tudo deve ter existido a partir de um único ponto, altamente concentrado em energia. Esse raciocínio é formado a partir do conhecimento de que o Universo atual está se expandindo, explicado através do espectro da luz vermelha que os astros deixam ao ser observados, fato este que é justificado pela velocidade de distanciamento que o objeto apresenta ao ser observado. Então, sendo feito um estudo retrospectivo, teremos que aceitar um encolhimento do Universo até o limite máximo de um ponto, incapaz de ser reduzido ainda mais. Este ponto contem por dedução lógica, todo o potencial energético do Universo conhecido. Alguma força fez com que esse ponto explodisse e expandisse o seu conteúdo, efeito esse existente até hoje.

            É neste ponto que o raciocínio, sem o apoio da metodologia científica, pois não encontra mais bases factíveis de comprovação de uma possível realidade, pode elaborar teorias racionais para futuras comprovações.

            A primeira teoria é de que esse ponto altamente compacto de energias, “ponto de energia máxima” recebeu uma explosão chamada de Big-Bang e que iniciou todo o processo. Não há uma explicação para que essa explosão tenha existido, tenha sido provocada. Apenas o raciocínio consegue falar sobre o efeito, não consegue ir adiante, para explicar a causa.  

            A outra teoria tenta explicar a causa do efeito e ao mesmo tempo ter a humildade do reconhecimento da incapacidade de explicar a sua existência, pela interveniência de uma inteligência de sabedoria máxima, que criou e detonou esse “ponto de energia máxima”, assim como pode ter criado e detonado outros “pontos de energia máxima” criando, em consequência, Universos sem conta.   

            Para mim, esta segunda teoria que inclui a participação de uma inteligência/sabedoria muito superior à minha, a minha existência que foi criada dentro dessas circunstâncias, parece muito mais completa que a primeira. Implica que eu tenha um Pai, um Criador, e que Ele pode se fazer presente dentro da minha consciência, dentro da reflexão desses argumentos. Então, o nome dEle também pode emergir dentro da minha consciência, de acordo com a consciência coletiva das comunidades/sociedades que estejam refletindo sobre Ele. Por isso aceito o nome “Deus” para a Sua identificação dentro desse arrazoado.

            A primeira teoria também sente algo parecido com Isso que identifico como Deus, mas resiste a ideia de uma inteligência/sabedoria criadora e prefere colocar tudo a disposição do caos, ao acaso, sem considerar a causa das energias formadas e condensadas, prontas para o Big-Bang.

            Em resumo, a primeira teoria defende como a origem de tudo, uma grande interrogação, sem inteligência ou sabedoria; a segunda teoria defende a existência de Deus que se manifesta como inteligência/sabedoria superior.

            Para onde vai o nosso raciocínio? Aceitar que tudo que vemos na organização da Natureza é proveniente de ações ao acaso sem uma inteligência/sabedoria norteadora, e que somente o tempo infinito é suficiente para através de ensaios de tentativa e erro chegarmos ao nosso atual ponto evolutivo? Ou que para a existência funcional do Universo com tanta precisão e leis, foi necessária a força de uma energia com inteligência e sabedoria para tudo acontecer e continuar acontecendo?

            Esta é a decisão que a nossa consciência deverá tomar, com base no livre arbítrio, para aceitar ou não inteligência/sabedoria criadora dos universos, aceitar a existência de Deus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/11/2016 às 00h59
 
08/11/2016 00h59
ORAÇÃO NOVEMBRO 2016

            Pai, mais uma vez eu venho a Ti cheio de pedidos. Desculpe a minha ignorância, fraqueza, preguiça e todos os atributos negativos referentes a mim e que me dificultam seguir a Tua vontade.

            Dá-me pelo menos um pouco de sabedoria, revestida de coragem, para que eu possa usar a minha consciência dentro dos lampejos da Verdade que surgem ao meu lado na sociedade, e seguir na trilha que ela aponta, pois sei que essa é a Tua vontade.

            Sinto que estou cercado, Pai, pela mentira ou pelas omissões e falácias que deformam a Verdade; sinto intuitivamente onde a Verdade se encontra, mas muitas vezes não posso provar, mas são tão evidentes que me deixa confuso, porque tantas pessoas não a consideram assim como eu? Será que estou sendo portador de algum tipo de miopia cognitiva, que não consiga diferenciar a verdade da mentira?

            Pai, Tu sabes das minhas intenções, não quero enganar a ninguém, não quero ser beneficiado em prejuízo do próximo, não quero usar a mentira para aumentar os meus recursos, beneficiar os meus parentes, colegas ou amigos.

            Quero usar a Verdade, ser amigo dela, ser o seu arauto, mesmo que isso me cause constrangimento, os parentes não entendam, os colegas me excluam, os “amigos” me abandonem... Não tenho medo de nada disso acontecer por eu estar ao lado da Verdade, pois sei que se assim eu fizer eu estarei ao Teu lado, meu Pai.

            Mas tenho medo de estar errado, de pensar que estou ao lado da Verdade, enquanto estou defendendo uma falácia, uma mentira não reconhecida. Se eu tenho essa falha cognitiva, meu Pai, não a poderei corrigir sozinho. Tenho que ter a Tua ajuda, que sei que me acudirás, pelos imensos caminhos que podes criar.

            Também não quero, Pai, pecar pela ação de defender uma mentira que não consegui reconhecer, ou pecar pela omissão, de não defender a Verdade porque não tive a capacidade de reconhece-la como tal.

            Sei que devo ser humilde, de reconhecer a Verdade de qualquer lugar que ela surja, que não devo deixar a minha autoridade acadêmica como escudo contra ela; sei que devo ser proativo, de passar a Verdade reconhecida adiante, vencendo obstáculos, com a velocidade necessária para trazer a harmonia coletiva o mais rápido possível.

            Eis, Pai, o que desejo de Ti; eis, Pai, o meu compromisso para Ti!

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em 08/11/2016 às 00h59
 
07/11/2016 00h59
MIOPIA UNIVERSITÁRIA

            No dia 03-11-16 o Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) divulgou uma nota se posicionando conta a PEC 241, atualmente PEC 55, devido aos efeitos negativos sobre a normalidade, qualidade e o desenvolvimento de políticas públicas sociais do governo federal, sobretudo no que diz respeito à educação pública superior no Brasil durante os próximos 20 anos.

            A decisão expressa em Nota Pública, aprovada por unanimidade pelos conselheiros, ocorreu em reunião extraordinária realizada na tarde da quinta feira, 3-11-16, no auditório do Anfiteatro do Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET). Durante a reunião, diretores de Centros Acadêmicos, gestores da administração central e representação dos segmentos da comunidade universitária (servidores e estudantes) argumentaram porque a UFRN deve mostrar para a população quais os prejuízos que a PEC 55 vai impor à sociedade brasileira.

            Ao final da reunião, a reitora Ângela Maria Paiva Cruz agradeceu o “esforço e as contribuições da comunidade universitária para construir uma unidade em defesa da UFRN”. A seguir, a Nota completa:

 

Nota Pública do Conselho Universitário da UFRN sobre a PEC 241 (PEC 55 – Senado)

            As universidades públicas federais experimentaram, na última década, grande expansão para atender as demandas da sociedade por educação, por profissionalização de qualidade, por pesquisa e inovação, que são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do país. Entendemos que esse processo de expansão não pode ser interrompido, devendo ser consolidado e continuado a fim de garantir a oferta de educação de qualidade para todos os brasileiros, como estabelecem as metas do Plano Nacional, aprovado por unanimidade pelo Congresso Nacional.

            Reconhecemos a necessidade do equilíbrio das contas públicas. No entanto, é um grande equívoco considerar educação, ciência, tecnologia e inovação somente como gastos públicos. Ao contrário, como demonstram as experiências históricas de muitos países, essas áreas devem estar entre as prioridades estratégicas, como investimentos indispensáveis, inclusive para a superação da crise econômica, com a retomada das atividades produtivas em todas as regiões e a construção de um país democrático e soberano com inclusão e justiça social.

            As propostas contidas na PEC 241, a qual tramita no Congresso Nacional, possuem implicações estruturais para o futuro do país, atingindo também a saúde, a previdência social, os investimentos em infraestrutura e os programas sociais, cujos recursos são insuficientes no Brasil. As medidas a serem adotadas sacrificam apenas as despesas primárias da União (notadamente aquelas com pessoal, investimentos e custeio), preservando as despesas com a dívida pública, as quais consomem parte substancial do orçamento federal. Por atingirem direitos consagrados na Constituição de 1988, a adoção de tais medidas exige ampla discussão com a sociedade brasileira sobre as muitas alternativas para diagnóstico e soluções para a atual crise econômica.

            A UFRN será duramente atingida com a aprovação da PEC 241. O financiamento das suas atividades acadêmicas e administrativas sofrerá drástica redução. Em uma análise feita sobre a evolução orçamentária, se a PEC 241 estivesse em vigor desde 2006, a UFRN teria sofrido uma perda superior a duzentos milhões de reais nos seus recursos de custeio e de investimento.

            Isso significaria suprimir grande parte da expansão recente que proporciona a criação de vários novos cursos, o aumento na oferta de vagas de graduação e pós-graduação, a ampliação de sua infraestrutura física, a realização de concursos para admissão de novos docentes e técnico-administrativos e a implantação de democratização do acesso e da assistência estudantil. Não teremos condições de manter a qualidade acadêmica que conquistamos nas avaliações dos nossos cursos, nem os processos exitosos de interiorização, de internacionalização e de inclusão social, o que ameaça a continuidade e a consolidação de inúmeros projetos em andamento.

            Por todas essas razões, o Conselho Universitário manifesta publicamente seu posicionamento contrário à aprovação da PEC 241          , apelando para que nossos representantes no congresso Nacional votem em defesa da educação, da ciência, da tecnologia e da inovação e pela manutenção dos direitos sociais fundamentais e consagrados na Constituição brasileira.

Natal, 03 de novembro de 2016.

 

            Eis a questão: eu, como professor universitário, mas, principalmente, como cidadão brasileiro, que fui às ruas protestar contra a corrupção que tomou conta do Estado brasileiro, com políticas nocivas de expatriação de recursos nacionais, que exigi dos representantes do povo no Congresso Nacional o impeachment constitucional da “presidenta” que havia sido reeleita na base da mentira com o eleitorado e que jogou o país no abismo da crise política, moral e financeira onde estamos, não posso compactuar com essa nota que não representa o meu nível de conhecimento e de conscientização. Por isso considerei como uma miopia dos fatos. Não posso simplesmente pedir aos meus representantes no Congresso Nacional que “votem em defesa da educação, da ciência, da tecnologia e da inovação e pela manutenção dos direitos sociais fundamentais e consagrados na Constituição brasileira.”, sem saber se os recursos que a Educação Superior recebeu até o momento fazem parte do contexto ideológico do uso dos recursos e crédito públicos que endividou a nação, aumentou o desemprego e multiplicou a pobreza... Se isso não for esclarecido, corremos o risco de perder a sintonia com a sociedade que tanto queremos defender, onde ela se manifesta através do voto de uma forma, e nós, acadêmicos, de outra forma, acatando invasões em prédios e vias públicas e boicotando a ordem e progresso de nossa bandeira. A vocação universitária é ser o “cérebro da sociedade” e não podemos tomar partido para beneficiar indevidamente nenhum órgão da nação, mesmo que seja o cérebro, pois podemos adoecer da “hidrocefalia de recursos financeiros”, um cérebro hipertrofiado mantido por uma sociedade espoliada.

            Nós, que não somos da área administrativa, financeira ou política, e sim da área da saúde, solicitamos maiores esclarecimentos sobre essas questões, através de técnicos do governo e dos partidos políticos interessados. Dessa forma a nossa inteligência local pode se debruçar sobre os dados reais e deixar que a Verdade nos liberte dos falsos condicionamentos, à direita ou à esquerda.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/11/2016 às 00h59
 
06/11/2016 00h59
DIALÉTICA ERÍSTICA

            Não conhecia essa forma de dialética e por isso posso ter sido vítima, e ainda ser, de seus efeitos. Não imaginava, mesmo que intuísse, que poderia existir a arte do debate malicioso, que é o que caracteriza a dialética erística.

            Os grandes filósofos do passado também se ocuparam em desmontar as picuinhas, sem que isso os afastasse de suas cogitações mais altas. Mas eu jamais percebi esse detalhe que estava por trás de uma luta de ideias, uma estratégia consciente de nocautear o adversário que trazia uma verdade profunda.

            Outra falsa compreensão que eu nutria era que da discussão pudesse nascer a luz, mas parece que fazem nascer apenas falsas certezas e decisões catastróficas. Fica aqui um conselho importante, a dialetação consigo mesmo, na sinceridade de uma investigação, até o momento de ficar seguro que as próprias opiniões não expressam apenas o desejo egolátrico de impor as preferências pessoais, mas revelam algo da natureza das coisas e do estado dos fatos.

            Geralmente, um homem mais gesticula e dramatiza em defesa de suas ideias, quanto menos está seguro delas por dentro, por não havê-las examinado bem.

            A capacidade de argumentar, por necessária que seja nas circunstâncias práticas da vida intelectual, é habilidade menor e desviada em relação ao perceber e intuir.

            Até a prova, no sentido da demonstração apodítica, é apenas serva e discípula da verdade intuída, que mais vale saber sem poder provar do que produzir um milhão de provas daquilo que, no fundo, não se intui de maneira alguma.

            No mais das vezes, a simples afirmação direta daquilo que se enxerga tem mais forças que muitos argumentos. Contra as tentações do erro e da fantasia não há outra arma senão dizer a verdade, com tal clareza, com tal precisão, que nenhuma finta, nenhum rodeio, nenhum jogo de cena ou artifício de palavras possa prevalecer contra ela.

            Essa clareza se obtém com um tremendo esforço de atenção que é quase um exercício ascético. Olhando fixamente para dentro do seu coração, um homem lê o que está inscrito na sua consciência íntima, como palavras de um texto supremamente auto evidente. Ao subir para a periferia da mente – onde estão depositadas, como redes superpostas, a gramática do idioma pátrio, as regras de estilo, os usos do vocabulário comum, os esquemas argumentativos padronizados e as exigências da moda -, as palavras do discurso íntimo se embaralham, entrando por automatismo nesses canais e arranjos pré-moldados que as desfiguram e as afastam infinitamente do significado originário. Então é preciso mergulhar de novo e de novo, até que a imagem do discurso interior fique tão nítida na memória, que as formas da linguagem externa se amoldem a ela, como meras vestimentas, sem deformá-la ou incomodá-la.  

            Esse é todo o trabalho do autêntico escritor: dizer exatamente o que percebeu desde o centro do coração, afeiçoando o discurso ao conteúdo intuído, sem que este se deixe arrastar pelas exigências daquele. Essa é também sua única força: ela sobe com um impulso avassalador que rompe os muros da indiferença, rasga as máscaras do fingimento e demole a fortaleza de palha da tagarelice.

            Talvez por pressentir essa força é que o adversário maldoso busca sempre desviar-se  do centro das questões para algum detalhe miúdo e periférico que possa, bem explorado, dar margens a controvérsias sem fim; ou, o que dá na mesma – colocar alguma objeção sabidamente tola, mas que não possa ser contestada sem longas e tediosas explicações; ou ainda, obrigar-nos mediante resistências fingidas, às vezes sublinhadas com emocionalismo teatral, a repetir mil vezes nosso discurso sob mil formas diferentes, descendo a exemplos e detalhes cada vez mais elementares, até a exaustão. Ele sabe que, quanto mais tivermos de nos gastar no esforço de provar ninharias, mais excitado ficará o nosso cérebro e mais longe estaremos do centro do nosso coração. É este o seu verdadeiro propósito: tornar-nos iguais a ele, fazer de nós uns sonsos tagarelas irritados, maliciosos, revoltados, cínicos, sem consciência nem inteligência. Uma vez neutralizada a diferença qualitativa que era nossa única superioridade, ele pode nos vencer pelo mais simples dos expedientes: reúne meia dúzia de comparsas e nos esmaga pela força do número.

            Ir ao centro já é difícil. Ir e voltar muitas vezes, velozmente, é uma habilidade que não se conquista sem décadas de treino, e o melhor dos treinos é lutar contra nossas próprias mentiras. Por isto, em geral, o superior de uma ordem religiosa proíbe os noviços de entrar em disputa com o argumentador mundano, pelo menos até estar seguro de que não se perderão no caminho entre o coração e o mundo.

Mais vale, as vezes, a verdade muda, conservada no fundo da alma, mesmo na linguagem pessoalíssima de um sonho, de uma imagem, do que sua expressão clara e distinta em termos lógicos, a qual, por perfeita que seja, há de ser alvo de mal entendidos tão logo caia no mundo, e tornar-se objeto de controvérsias tediosas que reduzirão a cinzas o fogo da sua intuição originária.

            Somente um longo aprendizado da concentração habilita o homem a sair imune dessas controvérsias, de modo a poder retornar, sempre que queira, àquele centro de si mesmo, àquela fonte viva onde a alma e a verdade se interpenetram. Para quem não esteja seguro de possuir essa via de retorno, os combates de argumentos são uma dispersão fatal no mundanismo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/11/2016 às 00h59
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