Vamos seguir na narrativa descrita em “O Livro de Urântia” na escolha dos doze apóstolos de Jesus
A primeira viagem missionária dos seis primeiros apóstolos foi cheia de êxito. Todos eles descobriram o grande valor do contato direto e pessoal com os homens. E voltaram para Jesus com um conhecimento mais pleno de que, afinal, a religião é pura e inteiramente uma questão de experiência pessoal. Eles começaram a sentir quão sedenta esta a gente comum de ouvir palavras de conforto religioso e de encorajamento espiritual.
Quando se reuniram com Jesus, eles queriam falar todos ao mesmo tempo; mas André tomou a frente e os chamou um a um; e eles fizeram os seus relatos formais ao Mestre e apresentaram as suas indicações dos seis novos apóstolos.
Jesus, depois que cada homem havia apresentado a sua escolha dos novos apóstolos, pediu a todos os outros que votassem na indicação; assim todos os seis novos apóstolos foram formalmente aceitos por todos os seis mais antigos. E então Jesus anunciou que eles todos deveriam estar com os candidatos e convidá-los para o serviço.
Os apóstolos recém-selecionados foram:
Mateus Levi, coletor alfandegário de Cafarnaum, que tinha o seu escritório no lado leste da cidade, perto das fronteiras de Batanea (área a nordeste do Rio Jordão). Foi escolhido por André.
Tomé Dídimo, um pescador de Tariquéia e ex-carpinteiro e pedreiro de Gadara (uma das 10 cidades autônomas situada a sudoeste do Mar da Galiléia, no topo de uma montanha, era a capital da Pereia, uma província romana. Foi onde Jesus encontrou um homem endemoninhado por uma legião de demônios e fez com que eles entrassem nos porcos e se jogassem no mar. Foi selecionado por Filipe.
Tiago Alfeus, pescador e agricultor de Queresa. Foi escolhido por Tiago Zebedeu.
Judas Alfeus, irmão gêmeo de Tiago Alfeus, também pescador. Foi escolhido por João Zebedeu.
Simão, o selote, era um alto funcionário da patriótica organização dos zelotes, posição que ele abandonou para juntar-se aos apóstolos de Jesus. Antes de ligar-se aos zelotes, Simão havia sido um mercador. Foi escolhido por Pedro.
Judas Iscariotes era o filho único de pais judeus ricos que viviam em Jericó. Tornou-se um seguidor de João Batista, e os seus pais saduceus o havia deserdado. Estava procurando emprego naquelas regiões, quando o encontraram os apóstolos de Jesus, sobretudo por causa da sua experiência com as finanças. Natanael convidou-o para juntar-se às suas fileiras. Judas Iscariotes era o único judeu entre os doze apóstolos.
No domingo, dia 23 de junho do ano 26 d.C., Jesus deu as suas instruções finais aos seis. Ordenou-lhes que partissem, dois a dois, para anunciar as boas-novas do Reino. Proibiu-os de batizar e desaconselhou-os quanto a fazer pregações públicas. Explicou a eles que mais tarde ele iria permitir-lhes que fizessem pregações públicas, mas que, por um certo tempo, por muitas e boas razões, esperava que eles adquirissem experiência prática em lidar pessoalmente com os seus semelhantes. Jesus propunha fazer dessa primeira viagem um trabalho inteiramente pessoal. E, embora esse anúncio tenham levado os apóstolos ao desapontamento, eles ainda aceitaram, ao menos em parte, as razões de Jesus para começar daquele modo as proclamações do Reino e, então, assim, de bom ânimo e com um entusiasmo confiante. Eles deram início aos trabalhos. E Jesus os enviou dois a dois. Tiago e João foram para Queresa, André e Pedro para Cafarnaum enquanto Filipe e Natanael partiram para Tariquéia.
Antes que começassem essas duas primeiras semanas de serviço, Jesus anunciou-lhes que desejava ordenar doze apóstolos para continuar o trabalho do Reino, depois da sua partida; e autorizou a cada um deles escolher um homem, dentre as suas primeiras conversões, para que passasse a ser membro desse corpo projetado de apóstolos. João perguntou: “Mas, Mestre, esses seis homens virão para o nosso meio e partilharão todas as coisas igualmente conosco, que estamos contigo desde o Jordão ouvindo todos os teus ensinamentos em preparação para este que é o nosso primeiro trabalho para o Reino?” E Jesus respondeu: “Sim, João, os homens que ireis escolher tornar-se-ão um conosco ensinareis a eles tudo aquilo que seja pertinente ao Reino, do mesmo modo que eu vos ensinei”. Depois de ter dito isso, Jesus deixou-os.
Os seis não se separaram para ir fazer os seus trabalhos, até que houvessem trocado muitas palavras e discutido as instruções de Jesus, com o intuito de que cada um deles escolhesse um novo apóstolo.
O conselho de André prevaleceu afinal e eles partiram para os seus trabalhos. Em essência, eis o que André disse: “O Mestre está certo, somos em número muito pequeno para assumirmos esse trabalho. Há necessidade de mais instrutores e o Mestre manifestou grande confiança em nós, por nos ter confiado a escolha desses seis novos apóstolos”.
Naquela manhã, quando se separaram a fim de seguir para o trabalho, havia um pouco de depressão escondida em cada coração. Eles sabiam que iriam sentir falta de Jesus e, além do medo e da timidez, não era daquele modo que tinham imaginado a inauguração do Reino do céu.
Havia sido arranjado para que os seis trabalhassem por duas semanas, depois das quais retornariam à casa de Zebedeu para uma reunião. Nesse ínterim, Jesus foi até Nazaré para estar com José e Simão e os outros membros da sua família, que viviam naquela vizinhança. Jesus fez tudo o que lhe foi humanamente possível, em consonância com a sua consagração à vontade do seu Pai, para manter a confiança e o afeto da sua família. E cumpriu bem sua o seu dever nessa questão, e fez mesmo até mais.
Enquanto os apóstolos estavam fora para essa missão, Jesus pensou muito sobre João Batista, agora na prisão. Era uma grande tentação usar o seu poder potencial para libertá-lo, mas uma vez mais ele resignou-se a “aguardar a vontade do Pai”.
Havia nessa tentação de resgatar João Batista da prisão o aspecto afetivo, humano. Mas a vontade do Pai era soberana. João veio como instrumento precursor para a introdução de Jesus, não havia necessidade dele continuar ao lado, pois tinham propostas diferentes que provocavam grupos dissidentes, como observamos no caso de André e Ezdras. Era necessário que cada um cumprisse a vontade do Pai que terminaria por levar um à decapitação e o outro à crucificação. Isso possibilitou que mensagem do Reino fosse apresentada e difundida pelo mundo, chegando até nós da forma que a recebemos. Falta agora nós fazermos a nossa parte nesse construto do Reino, cada um com os talentos que o Pai deu a cada um.
Após a escolha de Filipe, que caminhava com Natanael e encontrou Jesus com seus amigos, André, Pedro, Tiago e João, foi a vez de Natanael ser escolhido.
Filipe agora acenava ao grupo, para que esperassem onde estavam, enquanto ele voltou correndo para anunciar a nova da sua decisão ao seu amigo Natanael, que ainda ficara para trás, sob a amoreira, refletindo sobre as muitas coisas que ele tinha ouvido a respeito de João Batista sobre o Reino que viria, e do Mestre esperado. Filipe interrompeu essas meditações, exclamando: “Eu encontrei o Libertador, aquele sobre quem Moisés e os profetas escreveram; e a quem João Batista tem proclamado”. Natanael, levantando os olhos, inquiriu: “De onde vem esse Mestre?” E Filipe respondeu: “Ele é Jesus de Nazaré, filho de José, o carpinteiro, mais recentemente residindo em Cafarnaum”. E então, um tanto chocado, Natanael perguntou: “Uma coisa boa assim pode vir de Nazaré?” Mas Filipe, tomando-o pelo braço, disse: “Vem e vê”.
Filipe levou Natanael a Jesus, que, olhando benignamente no rosto do homem sincero que duvidava, disse: “Eis um israelita genuíno, para quem não há engano. Segue-me”. E Natanael, voltando-se para Filipe, disse: “Tu estás certo. Ele é de fato um Mestre dos homens. Eu também o seguirei se for digno disso”. E Jesus fez um gesto afirmativo a Natanael, dizendo de novo: “Segue-me”.
Jesus já havia reunido a metade do seu futuro corpo de colaboradores íntimos, cinco que já o tinham conhecido há algum tempo e um estranho, Natanael. Sem mais demora atravessaram o Jordão e, passando pela aldeia de Naim, chegaram a Nazaré tarde naquela noite.
Todos passaram a noite com José, na casa de infância de Jesus. Os companheiros de Jesus pouco entenderam por que o seu recém-encontrado Mestre estava tão preocupado em destruir completamente cada vestígio dos seus escritos que ainda permaneciam pela casa na forma dos Dez Mandamentos e outras frases e preceitos. Esse procedimento, no entanto, junto com o fato de que eles nunca mais o haviam visto escrevendo depois disso – exceto no pó ou na areia – causou uma profunda impressão em suas mentes.
Este relato também provocou uma profunda impressão em minha mente. Primeiro que, este livro, “O Livro de Urântia”, que é proposto como uma revelação mais aproximada da Verdade, traz algumas falhas que podem ser devido a tradução ou impressão, mas que deve ser ressaltado. Além de Natanael, Pedro também não era um estranho para Jesus? E quando Jesus foi com eles à sua casa em Nazaré, não podiam ter passado a noite com José, pois ele já havia falecido nessa ocasião.
No entanto, pequenas falhas que aconteçam não podem anular o conjunto da obra, a forte compreensão lógica, racional, da cosmogonia apresentada e da origem e comportamento do Mestre que o respeitamos como enviado de Deus e nosso irmão mais sábio, mais próximo do Pai.
Enquanto a complicação fermentava entre os seguidores de João Batista, Jesus e os seus quatro discípulos-apóstolos adiantavam-se no seu caminho para a Galiléia. Antes de atravessarem o Jordão, para ir a Nazaré pelo caminho de Naim, Jesus, olhando para frente, estrada acima, avistou um certo Filipe de Betsaida, que vinha na direção deles, com um amigo. Jesus havia conhecido Filipe há algum tempo e este também era muito conhecido de todos os quatro novos apóstolos. Ele estava, com o seu amigo Natanael, a caminho de visitar João Batista em Pela, para aprender mais sobre a comentada vinda do Reino de Deus; e ficou encantado de poder saudar Jesus.
Filipe era um admirador de Jesus desde que este veio à Cafarnaum pela primeira vez. Mas Natanael, que vivia em Caná, na Galiléia, não conhecia Jesus. Fiipe adiantou-se para saudar os seus amigos , enquanto Natanael permaneceu à sombra de uma árvore à beira da estrada.
Pedro levou Filipe para um lado e começou a explicar, referindo-se a si próprio, a André, a Tiago e a João, que todos eles se haviam transformado em seguidores de Jesus, no novo Reino; e insistiu veementemente para que Filipe também fosse um voluntário desse serviço. Filipe ficou em um dilema. O que deveria fazer? Aqui, de repente – em uma beira de estrada perto do Jordão -, aqui, punha-se ele diante de uma decisão imediata, sobre a mais importante questão de uma vida. Logo ele entrou em uma conversa sincera com Pedro, André e João, enquanto Jesus delineava para Tiago a viagem através da Galiléia e para Cafarnaum. Finalmente, André sugeriu a Filipe: “Por que não perguntar ao Mestre?”
Subitamente Filipe se deu conta de que Jesus era realmente um grande homem, possivelmente o Messias, e decidiu acatar a decisão de Jesus nessa questão; e foi diretamente até ele e perguntou: “Mestre, devo ir até João Batista ou juntar-me aos meus amigos que te seguem? “ E Jesus respondeu: “Segue-me”. Filipe ficou emocionado com a certeza de haver encontrado o Libertador.
Assim foi escolhido o quinto apóstolo, por intermediação dos quatro anteriores, todos com uma sintonia com João Batista, que reconhecia em Jesus o Messias verdadeiro, mas que não passava para todos os seus seguidores essa mesma impressão. Tanto é verdade que Ezdras, um dos seus seguidores mais próximos foi frontalmente e deselegantemente o contrário, chegando a sair do grupo e formar uma seita, apoiando João Batista e rejeitando Jesus, como permanece até hoje.
Fica nesse contexto uma grande lição para todos nós, de ficarmos sempre atentos às diversas narrativas que surgem em função de determinado fato. O fato é real, como foi a presença de Jesus e seu comportamento. As narrativas que se formam ao redor dele e que podem estar mais próximas ou mais distantes da Verdade. Ezdras, de acordo com o meu discernimento, ficou bem distante da Verdade. André, Pedro, João e Tiago, ficaram bem mais perto, apesar da narrativa que eles construíram em suas mentes ainda não sintonizarem com a Verdade que Jesus veio trazer, da construção do Reino de Deus.
No domingo de manhã, 24 de fevereiro do ano 26 d.C., Jesus despediu-se de João Batista no rio, próximo de Pela, para nunca mais vê-lo na carne.
Naquele dia, enquanto Jesus e os seus quatro discípulos-apóstolos partiam para a Galiléia, houve um grande tumulto no acampamento dos seguidores de João Batista. A primeira grande divisão estava para acontecer. No dia anterior, João havia pronunciado a André e a Ezdras, positivamente quanto a Jesus ser o libertador. André decidiu seguir Jesus, mas Ezdras rejeitou aquele carpinteiro de maneiras suaves, de Nazaré, proclamando aos seus companheiros: “O profeta Daniel declara que o Filho do Homem virá, com as nuvens dos céus, em poder e em grande glória. Esse carpinteiro da Galiléia, esse construtor de barcos de Cafarnaum, não pode ser o Libertador. Pode vir, de Nazaré, uma tal dádiva de Deus? Esse Jesus é um parente de João Batista e, por excesso de bondade de coração, o nosso instrutor enganou-se. Que permaneçamos afastados desse falso messias”. Quando, por causa dessas afirmações, João fez uma reprimenda a Ezdras, este se separou levando muitos discípulos e dirigiu-se para o sul. E esse grupo continuou a batizar em nome de João e finalmente fundou a seita daqueles que acreditavam em João Batista, mas que se recusavam a aceitar Jesus. Remanescentes desse grupo sobrevivem na Mesopotâmia até os dias atuais.
Os mandeus, gnósticos e discípulos de João Batista, é uma das mais antigas, desconhecidas e misteriosas religiões abraâmicas. Consideram-se a religião original de Adão e praticam semanalmente um batismo e refeição ritual. Para eles, Jesus seria um falso profeta no embate cósmico entre as Luzes e as Trevas. É a única religião gnóstica com contínua iniciação desde a Antiguidade.
Os gnósticos afirmam que o universo material (cosmo) foi criado por uma emanação imperfeita do Deus supremo chamada demiurgo, para prender a centelha divina (espírito) no corpo humano. Esta centelha divina poderia, então, ser liberta através da gnose, que seria o conhecimento intuitivo sobre o espírito e a natureza da realidade.
As ideias e ramos gnósticos floresceram no mundo mediterrâneo no século II d.C., em conjunto e trocando influências com os primeiros movimentos cristãos e médio-platônicos. Mesmo com um considerável declínio após o século II, o gnosticismo sobreviveu sub-repticiamente ao longo dos séculos na cultura ocidental, remanifestando durante o Renascimento através do esoterismo ocidental, assumindo a proeminência com a espiritualidade moderna. Do império Persa, o gnosticismo se alastrou até a China através do maniqueísmo, ao passo que o mandeísmo ainda vive no Iraque.
Sempre há pessoas que pensam diferente uma das outras. Como existe uma só verdade, certamente uma pessoa ou um grupo estará mais próxima da verdade que a outra. Foi o que aconteceu com André e Ezdras. André discerniu que o Mestre ensinava e se comportava como uma pessoa enviada por Deus; Ezdras, cheio de preconceitos, não aceitava que pessoa tão humilde e delicada trouxesse consigo tão alta missão. Até hoje existe essa dicotomia em grupos tão diferentes, mas que perseguem o mesmo ideal. Que possamos exercitar um discernimento correto de onde está a Verdade, para não ficarmos vegetando sem encontrar o Caminho correto.