O apóstolo Paulo tinha todos os motivos para perder a coragem, pois foi preso, acusado, enfrentou julgamentos e ameaças de morte. Não porque fosse criminoso, mas somente por falar sobre Jesus, do seu Evangelho. Foi o suficiente para arregimentar toda uma série de preconceitos, intolerância e tudo desabar sobre ele, inclusive na forma de pedradas que o deixou como morto em certa ocasião.
Mas o Mestre que agora ele respeita, admira e divulga a mensagem, não o abandona. Em qualquer lugar que ele esteja o Mestre Jesus está perto, conforta, anima e mais ainda, dá novas tarefas! Isso se reflete nas cartas de encorajamento que Paulo escreve: “Estejam vigilantes, mantenham-se firmes na fé, sejam homens de coragem, sejam fortes” (1Co 16,13), e também “Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dEle, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo Evangelho, segundo o poder de Deus” (2Tm 1,7-8).
A história de Paulo me serve como modelo, porém quanto longe estou do professor. Não é preciso nem lembrar que não sofro a metade das ameaças e padecimentos que ele sofreu, mesmo assim não faço a metade do que ele fazia. Nem a simples coragem de elaborar uma disciplina e cumprir com determinação, no conforto e segurança de minha casa, eu não consigo fazer. Quanto mais sair de peito aberto na comunidade e dizer o que penso a respeito de Deus, de Cristo, de Paulo e de tantos outros! Estou ainda muito longe da coragem de Paulo, de Francisco de Assis, de Gandhi da Índia, e tantos outros que demonstraram verdadeira coragem na defesa dos seus princípios e do que Deus havia colocado em suas consciências.
Tenho examinado a minha consciência e também percebo que Deus colocou dentro dela uma missão para realizar, mas onde se encontra a coragem suficiente para fazer isso? O tempo está passando e logo mais estarei sendo chamado para a prestação de contas, o que deverei mostrar? Onde adquirir a coragem que me falta? Tenho que estabelecer de imediato a comunicação com o Mestre Jesus, Ele que está no comando de nossas ações, pode me dar as instruções necessárias. Tenho que ter a disciplina necessária para fazer isso acontecer!
A mensagem do Padre Luiz Cechinato, publicado em 2010 em “Encontro diário com Deus – orações e mensagens” diz uma verdade que não devemos esquecer:
SEM PRECONCEITO
Suas palavras sejam inspiradas pela luz da verdade e suas ações sejam movidas pelo amor. Não se deixe levar pelo preconceito. Seria atraso de vida. O preconceito impede que você chegue ao conhecimento da verdade e à posse do bem. Quem tem preconceito vive na ignorância e pensa que está certo. É como o míope, que vê metade das estrelas e pensa que está enxergando todas. O inteligente está sempre aberto à verdade. Pois sabe que, por muito que conheça, é muito mais o que lhe falta conhecer.”
Esta mensagem serve de importante advertência para a nossa tendência de conhecer uma parte da verdade e logo imaginar que é a verdade completa, que outras pessoas com experiências diversas, também possam estar de posse de alguma forma de verdade ou de um caminho diverso que conduz a ela. Além do mais, a criação de preconceitos dentro de nosso paradigma de vida serve como uma neblina forte a nos impedir de ver com clareza o caminho a seguir.
Sei que eu tinha e talvez ainda tenha resquícios de preconceitos dentro de minha estrutura racional. Mas foi com mensagens recebidas iguais a essa do Padre Luiz Cechinato, que consegui ir podando e até extirpando essas ervas daninhas da nossa alma. Lembro que uma das mais fortes, mais profundas que eu possuía, e que tanto trabalho deu para eu extirpar, foi com relação ao amor exclusivo que minha companheira tinha que devotar somente a mim. Já tinha lido e aceito a importância e prioridade do Amor Incondicional em nossas vidas, já aceitava distribuir o meu amor com outras pessoas da mesma sintonia afetiva e espiritual, então porque a minha companheira/esposa não podia fazer o mesmo? Por que eu tinha que obedecer ao preconceito machista que impera em minha cultura de que isso não é possível? Então esse foi um preconceito duro, forte, enraizado, que deu muito trabalho de retirar do meu paradigma de vida, mas consegui! Depois dele, os demais foram mais fáceis, mas sempre estou atento ao surgimento, pois nossa tendência humana é essa: descobrir uma parte da verdade, entender como a verdade completa e a partir todos os outros que não pensarem de forma igual estão errados. Formou-se o preconceito!
Acredito que missionário seja uma etapa avançada de discípulo. Enquanto discípulo é aquele que está aprendendo as lições de um mestre, o missionário é aquele que já está aplicando na prática essas lições. Também pode acontecer da pessoa ser um missionário, mas ainda está na condição de discípulo do mestre. Pensava que eu estivesse nesta última condição. Pensava que eu podia ser missionário e ao mesmo tempo continuar a receber lições do mestre na condição de discípulo. Mas estou vendo que é muito difícil para eu me considerar um discípulo no grau de exigência da minha consciência. Sempre estou a falhar nas oportunidades que tenho de divulgar a mensagem espiritualista para ouvidos distantes de influências religiosas. Deixo me envolver sempre pelo burburinho mundano, os chistes, as piadas insinuantes, e não lembro de palavras edificantes, de convidar todos para uma leitura edificante com reflexões de cada um.
Sei que sou um discípulo do Cristo, e até aplicado. Sempre estou a ler livros de instruções e inspirações superiores, procuro até aplicar na prática algumas dessas lições. Mas tudo muito distante do que um missionário deveria fazer.
Interessante que tenho em minha consciência uma trilha da verdade que acredito ter sido colocada por Deus e que devo implementar na minha vida e procurar colocar como exemplo de relacionamento mais próximo ao Reino de Deus. Apesar de procurar ser coerente com essa consciência e na relação interpessoal, principalmente no campo afetivo, intergênero, ainda sinto estar bastante distante do que poderia ser considerado um trabalho missionário. Talvez essa atividade de postar neste blog todas essas experiências para que se tornem domínio público, faça parte dos primeiros passos nesse sentido. Talvez por isso eu o valorize tanto e termine por o priorizar até mesmo com o trabalho que poderia fazer eu ter um melhor rendimento acadêmico, uma melhor recompensa financeira. Talvez seja esse os primeiros passos de um missionário... Eu tenho a missão, sinto isso... mas sinto também... tanta insegurança, medo, preguiça, indisciplina... que missionário sou eu?!
Não é que eu tenha tido a pretensão de querer ser um discípulo de perto de Jesus, mas confesso que lá no fundo de minhas aspirações, deve ser isso que eu quero atingir. Agora, lendo a história de Efraim e a sua pretensão de querer ser um discípulo próximo do Mestre, fiquei tão perplexo quanto e talvez até assustado. Pois vamos ver como se passou a história, assim como está escrita no livro “No Roteiro de Jesus”, pelo espírito Humberto de Campos (pseudônimo irmãoX) na psicografia de Chico Xavier:
Efraim, filho de Atad, tão logo soube que Jesus se rodeava de pequeno colégio de aprendizes diretos para a enunciação das Boas Novas, veio apressado em busca de informes precisos.
Divulgava-se a respeito do Messias toda sorte de comentários.
O povo se mantinha oprimido. Respirava-se em toda parte, o clima de dominação. E Jesus curava, consolava, bendizia... chegara a transformar água em vinho numa festa de casamento...
Não seria ele o príncipe esperado, com suficiente poder para redimir o povo de Deus? Certamente, ao fim do ministério público, dividiria cargos e prebendas, vantagens e despojos de subido valor.
Aconselhável, portanto, disputar-lhe a presença. Ser-lhe-ia discípulo chegado ao coração.
De cabeça inflamada em sonhos de grandeza terrestre, procurou o Senhor, que o recebeu com a bondade de sempre, embora tisnada de indefinível melancolia.
O Cristo havia entrado vitorioso em Jerusalém, mas achava-se possuído de manifesta angústia.
Profunda tristeza transbordava-lhe do olhar, adivinhando a flagelação e a cruz que se avizinhavam.
Sereno e afável, pediu a Efraim lhe abrisse o coração.
Senhor! – disse o rapaz, ardendo de idealismo – aceita-me por discípulo, quero seguir-te, igualmente, mas desejo um lugar mais próximo de teu peito compassivo!... Venho disputar-te o afeto, a companhia permanente!... Pretendo pertencer-te, de alma e coração...
Jesus sorriu e falou, calmo:
- Tenho muitos seguidores de longe; aspirarás porventura, à posição do discípulo de perto?
- Sim, Mestre! – exclamou o candidato, embriagado de esperança no poder humano. – Que fazer para conquistar semelhante glória?
O Divino Amigo, que lhe sondava os recônditos escaninhos da consciência, exclamou pausadamente:
- O aprendiz de longe pode crer e descrer, abordando a verdade e esquecendo-a, periodicamente, mas o discípulo de perto empenhará a própria vida na execução da Divina Vontade, permanecendo, dia e noite, no monte da decisão.
“O seguidor de longe provavelmente entreter-se-á com muitos obstáculos a lhe roubarem a atenção, mas o companheiro de perto viverá em suprema vigilância.
“O de longe sente-se com liberdade para buscar honrarias e prazeres, misturando-as com as suas vagas esperanças no Reino de Deus, mas o de perto sofrerá as angústias do serviço sacrificial e incessante.
“O de longe alegará dificuldades para concentrar-se na oração, experimentará sono e fadiga; o de perto,k, contudo, inquietar-se-á pela solução dos trabalhos e caminhará sem cansaço, em constante vigília.
“O de longe respirará em estradas floridas, demorando-se na jornada quanto deseje; o de perto, porém, muita vez seguirá comigo pelo atalho espinhoso.
“O de longe dar-se-á pressa em possuir; o de perto, no entanto, encontrará o prazer de dar sem recompensa.
“O de longe somente encontra alegria na prosperidade material; o de perto descobre a divina lição do sofrimento.
“O de longe padecerá muitos melindres; o de perto encher-se-á de fortaleza para perdoar sempre e recomeçar o esforço do bem, quantas vezes se fizerem necessárias.
“O de longe não cooperará sem honras; o de perto servirá com humildade, obscuro e feliz.
“O de longe adiará os seus testemunhos de fé e amor perante o Pai; o de perto, entretanto, estará pronto a aceitar o martírio, em obediência aos Celestes Designios, a qualquer momento”.
Após longa pausa, fixou em Efraim os olhos doces e indagou:
- Aceitarás, mesmo assim?
O candidato algo confundido, refletiu, refletiu e exclamou:
- Senhor, os teus ensinos me deslumbram!... Vou à Casa de Deus agradecer ao Santo dos Santos e volto, dentro de uma hora, afim de abraçar-te o sublime apostolado, sob juramento!...
Jesus aceitou-lhe o amplexo efusivo e ruidoso, despediu-se dele, sorrindo, mas Efraim, filho de Atad, nunca mais voltou.
Não é que eu tenha a mesma ambição de Efraim hoje, mas amanhã... não sei! Pelo desejo que tenho hoje de aperfeiçoar o meu comportamento, tendo por base o comportamento de Cristo, imagino que essa proximidade seja real. Então tenho receio, pelas palavras do Cristo imagino que eu esteja como o discípulo de longe e para me tornar um discípulo de perto muito teste ainda tenho que superar. Será que conseguirei?
Tem uma prece do cardeal Carlo Maria Martini, intitulada Eu te agradeço, que parece refletir o que sinto na atualidade: “Eu te agradeço, Senhor Jesus, porque me concedestes a fé, e porque tu renovas em meu coração a certeza dos primeiros discípulos. Eu te agradeço, Jesus, porque vencestes as hesitações e os medos de Simão Pedro, porque lhe deste a graça de não deprimir-se, de não fechar-se em si mesmo, mas de crer em ti. Eu te ofereço, Senhor, as minhas amarguras, meus temores, minhas reticências, minhas inflexibilidades que me parecem irredutíveis. Triunfa, Senhor poderoso, sobre mim, torna-me pronto assim como aprontaste o coração e a alma de Pedro! Obrigado, Senhor, porque tu nos revela o teu vulto.”
Poderia mudar apenas alguns termos, como por exemplo, eu agradeceria a Deus por ter me dado a fé, fazendo a distinção entre Deus e Jesus. Deus como o Criador de todo Universo e que me fez justamente com os diversos dons de forma embrionária. Jesus, como filho de Deus, assim como eu. Só que Jesus se encontra numa etapa bastante evoluída cuja missão aqui na terra foi despertar os nossos dons. Não é que Ele venceu as hesitações e medos de Pedro, mas deu com o seu exemplo motivação para que Pedro vencesse os seus demônios. Lembro da história que deu motivo para o livro e posteriormente o filme, Quo vadis. Pedro foge de Roma com diversos outros cristãos temendo o suplício na arena pela perversidade do imperador Nero que havia queimado a cidade e jogado a culpa nos cristãos. No caminho Pedro ver Jesus que se dirige para Roma. Perplexo e curioso, ele pergunta: quo vadis, domini? (Onde vais, Senhor?). Jesus então responde que vai para Roma para ficar ao lado daqueles que sofrem e talvez ser crucificado mais uma vez. Pedro então cai em si, da responsabilidade que assumiu quando resolveu seguir as lições do Mestre, e volta incontinenti sobre seus passos. Pedro então venceu os seus medos com a lembrança do exemplo do Mestre e que esse estaria mais uma vez disposto ao sacrifício por uma causa que agora era dele também. Então eu faria esse reparo na prece do cardeal, pediria ao Mestre o conforto de suas lições, a coragem do seu exemplo, para assim vencer também os meus medos, minhas inseguranças, minhas idiossincrasias, e como Pedro não fugir do trabalho e até sacrifício que me espera.