Sou um tanto displicente quanto a decorar datas significativas, principalmente dos relacionamentos afetivos, dia dos namorados, de aniversários, de casamento, dia das mães, dos pais, dos avós... e por aí vai. Por paradoxal que pareça, a data de aniversário que está mais fixada na minha mente é justamente da pessoa que não deseja nem conversar comigo. Sei das razões dela e sei também das minhas. É uma incompatibilidade de paradigmas de vida, que em pessoas civilizadas devem sinalizar sim, para um afastamento de um companheirismo, mas jamais da perda da amizade. Principalmente quando na base do relacionamento inicial houve um profundo amor. Amor esse que para mim continua incólume, sem o peso da paixão, claro, mas puro o suficiente para querer o se u bem, desejar que ela seja feliz qualquer quer seja o caminho que ela deseja seguir. Então, por que eu também não tenho o direito de seguir o meu caminho sem nenhuma demonstração de raiva, ódio ou ressentimento, se tudo o que acontecia era colocado de forma clara? Bom, não vou entrar nesse raciocínio, não cabe aqui tão profundas lucubrações. Quero deixar apenas bem claro o paradoxo da minha mente. Não esquecer o aniversário dessa pessoa enquanto as outras que demonstram talvez um amor maior que o dela por mim, eu não consigo guardar com tanta facilidade. Mas são respostas que só quem pode dar é o coração e às vezes ele não conecta bem com a razão para as palavras suficientes para o esclarecimento surgirem. Fixa então aqui a minha perplexidade!
Na época medieval houve uma corrida em busca da pedra filosofal, aquela que poderia transmutar qualquer objeto e assim deixar o seu proprietário rico de tanto ouro. Ninguém conseguiu alcançar. Mas hoje nós temos um instrumento muito parecido com essa pedra filosofal ou o que poderia fazer os seus efeitos. E o evangelho ensinado por Jesus Cristo. Sabemos de grandes transformações ocorridas no comportamento de diversas pessoas por seguir esses ensinamentos. Confesso que eu também posso ser testemunha pessoal desse fenômeno. Mesmo que, sem falsa modéstia, eu não tenha tanto o que transformar, mesmo assim reconheço uma série de imperfeições e cuja possibilidade de correção é aplicar os princípios evangélicos sobre eles. É um,a transformação até mais preciosa do que o ouro, pois quando mudo meu comportamento dessa maneira sinto que conquistei um espaço que extrapola os limites da matéria, que é transcendental, eterno e imortal.
Devemos gerenciar nossas emoções no sentido de que fiquemos harmônicos nas nossas relações as mais diversas. Mesmo que tenhamos sido ofendidos, mal compreendidos, até mesmo injustiçados, não devemos nivelar nossas emoções com a negatividade de quem quer que seja. Pode ser da pessoa que mais amamos. Não merece que transforme negativamente nossas emoções. Podemos fazer o máximo, e é nosso dever, procurar ajudar a trazer harmonia em todos os nossos relacionamentos, ser livres e deixar o outro com sua liberdade também. Cada um deve cantar a canção que desenvolveu dentro do peito. Se respeitarmos a liberdade de cada um ser o maestro de sua própria sinfonia, sem pretensão de colocar qualquer tipo de cabresto, então estamos colaborando para a ecologia emocional saudável no planeta. Acredito que esteja fazendo minha parte com o mínimo de erros possíveis e quando eles aparecem é mais por omissão do que por ação.
Aprendemos a canção da vida ao longo de nossa existência e chega um momento de nós subirmos ao palco e nos exibir, cantar nossa própria canção. Cada um desenvolve também sua canção e deve ter o direito de executá-la como imagina. Ninguém pode se apoderar da autoridade de pai, mãe, esposa, ou que parentesco ou ligação tenha conosco que queira nos obrigar a cantar a canção deles. Passei por várias pessoas na minha vida e sempre encontrei alguém, até hoje, que querem que eu cante a canção delas. Deixo bem claro que isso não é possível e que para ficarmos juntos deve existir esse respeito. Não impeço ninguém de cantar a sua própria canção e quando isso feere os meus ouvidos eu simplesmente me afasto. Assim deveria se comportar todas aquelas que se aproximam de mim, se meu canto não a embevese, pelo contrário, lhe deixa amargurada, então deve procurar outras sintonias, outras sonatas. Ficamos apenas com a amizade.
É importante o reconhecimento de nossas falhas, apesar do constrangimento que elas nos trazem. Nos relacionamentos interpessoais é onde elas mais aparecem. Por mais que procuremos agir com justiça, transparência e solidariedade, sempre surgem erros que reconhecemos, depois de feitos, a nossa autoria. Pode ser algo pequeno, como deixar de comentar uma cirurgia que está agendado para tal dia e que coincide com um encontro. A minha falta de habilidade social no sentido de dar um devido retorno as pessoas que estão ao meu redor e que são significantes, é uma falha que reconheço. Chega a um ponto que no dia de Natal e fim de ano, não mando mensagens para ninguém e àquelas que eu recebo não respondo. Sei que não faço isso por maldade, mas talvez por preguiça, para eleger outra atividade como mais importante. É importante que eu declare essa falha em espaço público como este, para as pessoas que se relacionam comigo saberem do problema que até o momento eu não consegui corrigir. Deverei pagar o preço de ficar também isolado, pois reconheço que gosto quando recebo as mensagens dos amigos. E por que não faço o mesmo?